Cenipa aponta que erro de controlador quase fez aviões baterem em SP
Aviões da Azul e da Gol, com 242 pessoas ficaram a 22 metros de distância, menos do que o tamanho de um avião; Cenipa aponta desatenção
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – Dois aviões comerciais, um da Azul e outro da Gol, que transportavam 231 passageiros e 11 tripulantes, ficaram a apenas 22 metros de colidir no Aeroporto de Congonhas, na zona sul da capital paulista, devido à falta de atenção de um controlador de voo, segundo relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira (FAB), divulgado nesta terça-feira (29/10).
O incidente ocorreu em 3 de dezembro de 2020 e vinha sendo investigado desde então. O Cenipa realiza relatórios de ocorrências para propor medidas preventivas.
Na data do ocorrido, o avião da Azul, um Embraer ERJ 190-200, que havia partido do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, aproximava-se de Congonhas com 68 passageiros e cinco tripulantes. O avião da Gol, um Boeing 737-8EH, preparava-se para decolar rumo ao Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães, em Salvador, com 163 passageiros e seis tripulantes.
Segundo o Cenipa, o incidente foi causado porque um dos controladores da torre de Congonhas autorizou, simultaneamente, a entrada do avião da Gol na pista para decolagem e o pouso da aeronave da Azul.
Os pilotos de ambas as aeronaves perceberam a situação. De acordo com a transcrição das comunicações de rádio, às 14h42, na aproximação da pista, o piloto da Azul questionou: “Tem uma aeronave na pista aí, controle?”
Três segundos depois, o controlador respondeu: “Pouso autorizado, pista três cinco esquerda, vento três três zero graus, com dois nós.”
Sete segundos após essa mensagem, o piloto da Gol tentou se manifestar: “Torre e o Gol 1700 foi autori…”, mas não completou a frase. Imediatamente, a torre reconheceu o erro e ordenou ao avião da Azul: “Azul 4200, arremeta!”
Na aviação, “arremeter” significa interromper o pouso e subir a aeronave novamente.
O piloto da Azul arremeteu com sucesso, mas o avião passou a apenas 22 metros acima do Boeing da Gol (menos do que o comprimento da própria aeronave).
Investigações
Em junho de 2022, durante as investigações, técnicos do Cenipa observaram, em visita à torre de controle de Congonhas, que havia dois pontos cegos causados por pilares, os quais impediam a visibilidade de certos trechos da pista.
No entanto, o relatório não relacionou essa dificuldade estrutural ao incidente, já que todos os instrumentos e sistemas de comunicação operavam corretamente e o tráfego no aeroporto estava dentro da capacidade.
“Verificou-se que tais pontos cegos não contribuíram para o incidente grave, mas representavam um problema ergonômico que dificultava o trabalho dos controladores, obrigando-os a se inclinar à frente ou se levantar para realizar a varredura visual da pista”, observaram os técnicos do Cenipa.
O relatório concluiu que o controlador “esqueceu” que havia autorizado a entrada do avião da Gol na pista, deixando-o parado na cabeceira, sem liberação para decolagem, por mais de três minutos.
“O nível de atenção do controlador às operações estava tão reduzido que, mesmo após os pilotos do PR-AUJ [prefixo do avião da Azul] perguntarem se havia outra aeronave na pista, o ATCO [sigla para controlador] manteve a autorização para pouso, sem notar o questionamento dos pilotos ou realizar a varredura visual”, afirma o documento.
“Nos instantes que precederam a aproximação entre as duas aeronaves, a atenção do controlador foi provavelmente capturada por alguma distração que o levou a esquecer que o PR-GUD [prefixo avião da Gol] ainda estava na pista”, concluiu o relatório.
Medidas posteriores
O controlador e seu supervisor na torre de Congonhas foram afastados, com seus Certificados de Habilitação Técnica (CHT) suspensos. O controlador foi encaminhado para avaliação de saúde e psicológica.
O Cenipa emitiu orientações a oito comandantes e chefes da torre para evitar falhas de atenção semelhantes no futuro.