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Cemitério foi altar do casamento de Pagu e Oswald de Andrade em 1930

Os dois modernistas brasileiros casaram-se no Cemitério da Consolação (SP) em janeiro de 1930, em frente ao jazigo dos familiares de Oswald

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1 de 1 pagu-oswald - Foto: Reprodução

São Paulo — O Cemitério da Consolação, no centro de São Paulo, já foi palco de um casamento, e não um casamento qualquer. O poeta Oswald de Andrade e a escritora Patrícia Galvão, a Pagu, casaram-se em frente ao jazigo dos familiares de Oswald em 5 de janeiro de 1930. 

Francivaldo Almeida Gomes, de 57 anos, conhecido como Popó, contou a história em frente ao túmulo de Oswald, morto em 1954, enquanto realizava uma visita guiada no cemitério. Todas as segundas-feiras, às 14h, o guia leva um grupo de pessoas para conhecer parte dos 76.340 m² do local.

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Patrícia Galvão e Oswald de Andrade se casaram no cemitério da Consolação
Casamento de Pagu e Oswald na Igreja da Penha, em 1930
O cemitério abriga aproximadamente 8.500 túmulos e 300 obras de arte, de acordo com Popó
Cerca de 300 pessoas visitam o Cemitério da Consolação por mês
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Túmulo de Oswald de Andrade (1890-1954) e família

Bruna Sales
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Patrícia Galvão e Oswald de Andrade se casaram no cemitério da Consolação

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Casamento de Pagu e Oswald na Igreja da Penha, em 1930

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O cemitério abriga aproximadamente 8.500 túmulos e 300 obras de arte, de acordo com Popó

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Cerca de 300 pessoas visitam o Cemitério da Consolação por mês

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Ambos grandes nomes do modernismo brasileiro, presentes na Semana de Arte Moderna de 1922, Pagu e Oswald também se casaram na Igreja da Penha, em seguida. Mas a troca de alianças no cemitério serviu para que “a união fosse registrada perante os descendentes do noivo”, explicou Popó.

Em “O Romance da época anarquista ou Livro das horas de Pagu que são minhas”, uma espécie de diário que escrevia com Pagu desde maio de 1929, Oswald anotou: 

“1930, 5 de janeiro. Nesta data, contrataram casamento a jovem amorosa, Patrícia Galvão e o crápula forte, Oswald de Andrade. Foi diante do túmulo do Cemitério da Consolação, à Rua 17, n.º 17, que assumiram o heroico compromisso. Na luta imensa que sustentaram pela vitória da poesia e do estômago, foi grande o passo prenunciador, foi o desafio máximo. Depois se retrataram diante de uma igreja. Cumpriu-se o milagre. Agora, sim, o mundo pode desabar”.

Pagu e Oswaldo fundaram o jornal “O Homem do Povo”, no qual Patrícia tinha uma coluna feminista chamada “A Mulher do Povo”, em que criticava o comportamento das elites e clamava pelo fim da submissão feminina. Em 1931, os dois se filiaram ao Partido Comunista Brasileiro. 

Pagu foi a pivô da separação de Tarsila do Amaral e Oswald, em 1929. Ao lado de Raul Bopp, a pintora e o escritor haviam fundado o Movimento Antropófago e a Revista de Antropofagia, que teve sua última edição em agosto daquele ano. 

O casamento de Oswald e Pagu durou cinco anos, tendo fim em 1935. 

O cemitério

O Cemitério da Consolação foi o primeiro cemitério público da cidade de São Paulo. Antes disso, a prática era sepultar os corpos no terreno de igrejas, pois o senso comum dizia que a proximidade com os santos auxiliaria a entrada daquelas almas no paraíso.

A visita guiada por Popó passa por túmulos de figuras famosas da cidade de São Paulo e do Brasil.

Um dos primeiros é o da Marquesa de Santos, a Domitila de Castro Canto e Melo (1797-1867), que ficou marcada na história brasileira por ter sido amante de D. Pedro I. A Semana da Arte de 1922 segue viva no local, que contém os restos mortais de Tarsila do Amaral (1886-1973), Oswald de Andrade (1890-1954) e Mario de Andrade (1893-1945) praticamente lado a lado.

O que mais chama a atenção são as esculturas em cada mausoléu. De acordo com a historiadora da imagem, da arte e da cultura Vanessa Bortulucce, “existem alguns cemitérios que são mais emblemáticos porque possuem uma quantidade maior daquilo que a gente chamaria de arte tumular, e o Cemitério da Consolação se insere dentro desse contexto”.

“Particularmente os cemitérios que foram criados entre as últimas décadas do século 19 e a primeira metade do século 20, aqueles que se descolaram das igrejas, são muito ricos em arte tumular porque era uma tendência”, explicou a professora do Museu de Arte Sacra de São Paulo. “Existia um hábito social de se inserir estátuas e visualidades bem tradicionais, misturando vários estilos e fazendo referência a várias épocas”, completou.

 

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