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Celular escondido e oportunidade: como auxiliar gravou maus-tratos em escola

Funcionária da escola Pequiá, em São Paulo, conta como conseguiu fazer filmagens que levaram à prisão de casal dono do espaço

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1 de 1 escola - Foto: Reprodução/TV Globo

São Paulo – A auxiliar Anny Garcia Junqueira, de 18 anos, precisou de doses de coragem e paciência para conseguir flagrar as cenas de maus-tratos na escola Pequiá, no Cambuci, zona sul de São Paulo.

Ela foi a responsável pela denúncia do caso que culminou com a prisão dos donos da escola particular na semana passada. Em entrevista ao Metrópoles, Anny disse que passou duas semanas reunindo provas do comportamento do casal. Para isso, Anny precisou esconder ou disfarçar o celular em muitas situações para fazer os registros “nos momentos certos”.

“Eu escondia o celular atrás de folhas. Se eu estava com algum caderno ou alguma apostila, eu tentava esconder atrás. [Também] fingia que estava no telefone, que estava digitando”, afirma a auxiliar.

Estudante de enfermagem, Anny começou a trabalhar na escola Pequiá em 2022, depois de ser indicada para a vaga pelo filho dos proprietários. Os dois tinham estudado na mesma escola.

Com o tempo, ela foi se incomodando com a forma como o casal tratava as crianças que frequentavam o espaço. “Por vários dias eu ia para a escola e não conseguia nem dormir [depois]”, afirma a jovem.

As crianças eram alvo de xingamentos e humilhações, além de serem deixadas de castigo em uma sala escura. No começo de junho, Anny chegou ao limite e decidiu denunciar os maus-tratos para os pais dos alunos. “Se eu saísse dali sem prova nenhuma, não ia dar em nada.”

A partir daí, ela passou a registrar as cenas que vieram à tona há duas semanas. Ela ficava atenta e, sempre que presenciava um comportamento inadequado, escondia o celular e filmava.

Um dos vídeos feitos pela auxiliar mostra a dona da escola e uma outra funcionária advertindo crianças entre 1 e 2 anos com gritos e xingamentos. Em uma das imagens, um menino aparece amarrado com a própria blusa a uma pilastra.

Criança amarrada em poste de escola se reconhece na imagem: “Papai, sou eu”

Outro aluno, que fazia xixi na roupa, ouve os gritos na frente dos colegas. “Hoje você não fez xixi na roupa por qual motivo? Vou começar a conversar com você e gravar as suas respostas. Quando a sua mãe, seu pai ou sei lá quem vier te buscar, eu vou pegar e colocar: ‘Aqui a resposta do seu filho pra mim’”.

Em outro momento, a diretora chama a atenção de uma menina de pouco mais de 1 ano para que ela guarde os brinquedos que estão no chão. “Eram só quatro pecinhas, e já que você quer dar uma de louca, vai guardar tudo”, diz a diretora para a criança, que é vista chorando.

Reunião com pais

Depois de gravar as cenas por duas semanas, Anny entrou em contato com a mãe de um aluno e pediu que ela organizasse uma reunião com outros responsáveis.

No dia seguinte, sete pais foram ao encontro e assistiram pela primeira vez as imagens registradas pela funcionária. O grupo decidiu procurar a polícia e o caso ganhou repercussão nacional. Até esta terça-feira (04/7), 14 pessoas já tinham sido ouvidas pelo delegado Fábio Daré, que conduz as investigações.

Segundo o delegado, o casal foi indiciado nove vezes por tortura. O número refere-se ao total de crianças vítimas de maus-tratos na escola.

Eduardo e Andrea chegaram a ser considerados foragidos, mas se entregaram à polícia no dia 27 de junho. Anny celebrou a prisão dos dois. “Eu tinha bastante medo deles. De acontecer alguma coisa comigo ou com a minha família”, afirma a ex-funcionária.

Ela diz que chegou a pensar em desistir da ideia de gravar as cenas, mas sentiu que precisava dar um fim às humilhações. “Eu iria me sentir muito culpada de deixar aquelas crianças. Querendo ou não, através das denúncias a gente vê que [os maus-tratos] já acontecem há muitos anos”, afirma.

Depois que o caso veio à tona, uma professora que trabalhou na escola em 2016 disse que já tinha denunciado a instituição para a Secretaria Estadual de Educação, mas a apuração não foi adiante.

Para Anny, o sentimento agora é de alívio. “Livramento. Eu me sinto leve de ter tirado todas aquelas crianças daquela escola, de ter contado para os pais”, diz a estudante.

“Brincadeira”

Eduardo Mori Kawano e Andrea Carvalho Alves Moreira estão presos temporariamente. Nesta terça-feira, os dois foram ouvidos pelo delegado Fábio Daré, mas decidiram só se pronunciar em juízo.

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O casal Eduardo Mori Kawano e Andrea Carvalho Alves Moreira, dono da escola Pequia, acusado de maus-tratos contra crianças
O casal Eduardo Mori Kawano e Andrea Carvalho Alves Moreira, dono da escola Pequia, acusado de maus-tratos contra crianças
O casal Eduardo Mori Kawano e Andrea Carvalho Alves Moreira, dono da escola Pequia, acusado de maus-tratos contra crianças
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O casal Eduardo Mori Kawano e Andrea Carvalho Alves Moreira, dono da escola Pequia, acusado de maus-tratos contra crianças

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“Eles vão falar somente em juízo porque a Andrea está muito abalada, chorando muito. Então eu achei melhor”, afirma a advogada do casal, Sandra Pinheiro. Ela diz que ainda não teve acesso a todas as provas do processo.

Na semana passada, a advogada disse que seus clientes alegam que as cenas registradas não passaram de “brincadeira”. Segundo ela, Eduardo não via sua conduta com as crianças como tortura.

“Ele me disse que quando era criança, brincava de amarrar um ao outro pela ponta da blusa. Meu cliente falou que não via o tratamento dado aos alunos como uma questão de tortura, que ele não tinha essa visão”, explicou a advogada ao Metrópoles.

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