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Cavalo, carreira no exterior e prêmio em dólar motivam futuros jóqueis

Aprendizes do Jockey Club de São Paulo miram paixão por cavalos, carreira internacional e milhões de dólares, a despeito de veto a corridas

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Imagem mostra cavalo em cochila - Metrópoles
1 de 1 Imagem mostra cavalo em cochila - Metrópoles - Foto: William Cardoso/Metrópoles

São Paulo — O veto às corridas de cavalo movimentou os bastidores da política e do judiciário nos últimos dias na capital paulista. Nem tão alheios a isso tudo, mas disciplinados a mirar apenas a linha de chegada, jovens aprendizes da escola de formação do Jockey Club de São Paulo sonham com carreira internacional, milhões de dólares em prêmios e em se manterem para sempre próximos dos animais, por quem são apaixonados.

O Metrópoles conversou com futuros jóqueis na última sexta-feira (5/7), interrompendo momentaneamente uma rotina bastante rígida, que começa bem cedo e com programação definida, desde as primeiras horas do dia até o anoitecer.

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A joqueta Jeane Alves, primeira mulher a vencer o Grande Prêmio São Paulo
Imagem aérea do Jockey Club de São Paulo
Imagem aérea das cocheiras do Jockey Club de São Paulo
A joqueta Jeane Alves, primeira mulher a vencer o Grande Prêmio São Paulo
Os aprendizes de jóquei Danilo Araújo de Novaes e Gabriel Pereira Santana
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Os aprendizes de jóquei Danilo Araújo de Novaes e Gabriel Pereira Santana

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A joqueta Jeane Alves, primeira mulher a vencer o Grande Prêmio São Paulo

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Cavalo em cocheira do Jockey Club de São Paulo

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O médico e ex-conselheiro do Jockey Club de São Paulo Enio Buffolo

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O médico e ex-conselheiro do Jockey Club de São Paulo Enio Buffolo

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Atualmente, o Jockey Club tem quatro aprendizes na escola de formação. São dois homens e duas mulheres que recebem moradia, alimentação, assistência médica e psicológica, aulas de português e matemática, além das instruções sobre a profissão que decidiram cavalgar. Também há uma pequena ajuda de custo.

Entre os aprendizes de São Paulo, o jóquei brasileiro João Moreira é uma das inspirações. Também há espaço para a admiração pelo porto-riquenho Irad Ortiz. Em comum, ambos têm carreira internacional de sucesso, com milhões de dólares acumulados em prêmios. Como comparação, são craques equivalentes no futebol a Messi, Cristiano Ronaldo e Mbappé.

Mas o que forma de fato um jóquei, além do sonho da riqueza e, principalmente, da paixão pelos cavalos? O que faz alguém se aventurar em cima do lombo de um animal de meia tonelada que, durante uma corrida, pode chegar aos 70 km/h? São variadas as trilhas que conduzem cada um em sua própria cavalgada.

Quando resolveu montar pela primeira vez, o aprendiz Gabriel Pereira Santana, 20 anos, caiu do cavalo, literalmente. “Era um animal de rua, provavelmente puxava carroça. Eu não tinha noção, era bem novo e montei escondido da minha mãe. O cavalo saiu correndo e eu caí. Eu e outro amigo”, diz.

A relação entre Santana e os cavalos era muito maior do que o primeiro tombo, por desobediência, ainda na infância. Na verdade, os laços que uniam o garoto e os animais foram construídos ainda antes de seu nascimento. O avô foi jóquei, como contavam as fotos e os vídeos de família. A mãe chegou a ser joqueta, mas teve que parar por causa da morte do próprio pai e de responsabilidades que bateram à porta da família.

O menino paranaense que sonhava com os feitos do avô e em dar continuidade à carreira interrompida da mãe resolveu, ele mesmo, botar arreio no seu próprio destino. E foi uma longa jornada até a escola de formação em São Paulo. Santana trabalhou desde os 15 anos no setor administrativo de uma concessionária de veículos, mas o desejo passava longe dos veículos motorizados.

“Trabalhei esse período todo para juntar um dinheiro e comprar capacete, bota, chicote”, diz.

Quando terminou o contrato de menor aprendiz, o rapaz de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, procurou hipódromo no próprio Paraná, mas foi em São Paulo que se sentiu melhor.

Santana tinha vontade, histórico familiar e conhecia tudo na teoria. Faltava a prática. “Eu não sabia montar. O professor [Marco] Latorre me ensinou, eu caí muitas vezes. Mas é caindo que se aprende. Não desisti e estou aqui. Nunca pensei em ser outra coisa”, afirma.
Santana diz que sente a vontade de vencer no próprio animal durante os páreos e que isso o contagia. “Aquela energia do cavalo passa para ti. Eu sempre sinto que eu e o cavalo somos o mesmo”, diz. “Sonho em conhecer o mundo em cima de um cavalo.”

Freio e retomada

A paixão pelos cavalos tomou conta de Danilo Araújo de Novaes, 21 anos, ainda muito cedo, na infância. Desde os 8, ele montava quartos de milha em retas na cidade de Bonito, na Chapada Diamantina, interior da Bahia.

Já na adolescência, a carreira do aprendiz teve uma interrupção aos 15 anos. “A minha mãe não quis mais me deixar montar, porque achava perigoso”, afirma. Sem perspectiva na terra natal, ele deixou a Bahia aos 18 para ser metalúrgico em Santa Catarina.

Os cavalos, porém, nunca saíram da cabeça do menino nascido e criado no interior. “Pelo celular, vendo as fotos de corridas em Sorocaba, pensei ‘vou voltar a montar, né’. Mas não cheguei a montar no hipódromo de lá, porque tinha bastante jóquei e faltava oportunidade também”, diz.

Por indicação, ele passou a fazer parte da escola de formação em São Paulo, onde o horizonte parece agora mais promissor. “De um tempo para cá, as coisas vêm melhorando para mim e vejo um futuro mais aberto”, afirma. “Se tiver paixão por cavalo, é surreal. Encostar a mão, sentir, perceber que ali é um momento de paz é muito bom”, diz.

Direcionamento

Diretor da escola de formação e da vila hípica do Jockey Club, Rodrigo Schulze frequenta o local desde os 4 anos de idade e afirma que os jovens vêm dos mais diversos lugares do país. Por isso, precisam de estrutura para se desenvolver, mesmo que, no futuro, acabem em outra atividade relacionada aos cavalos, que não jóqueis. “A gente não deixa de criar uma profissão”, diz.

Schulze diz que o fundamental é querer lidar e trabalhar com o cavalo, ter “adrenalina no sangue”. “A gente já teve o caso de que vem aqui, gosta de cavalo e tal, mas na hora em que monta, começa a acelerar na pista, vê que não é para ele”, afirma. “É uma profissão de risco. Nem na Fórmula 1 a ambulância corre atrás, como é aqui nos páreos”, diz.

Para ser aprendiz, é obrigatório ter ao menos 16 anos completos. O peso também influencia e, em média, o futuro jóquei não deve ter mais que 51 kg. “Para conseguir seguir na carreira”.

Ex-jóquei com longa carreira na Europa e nos Estados Unidos, Marco Antonio Latorre Dias é professor dos aprendizes e diz que talento e treinamento devem caminhar juntos, citando os dois jovens com quem a reportagem conversou. “Vi no picadeiro que os dois tinham uma coisinha a mais que outros não tinham. Você vai investindo no estilo, no jeito, na posição. Eles sempre me mostraram talento e personalidade”, afirma.

Sobre o futuro das corridas em São Paulo, o chileno Latorre é econômico nas palavras, a exemplo dos jovens, instruídos a não abordar o tema. “Deixou um pouquinho afetado, mas não chegou a me impressionar muito. Sou leigo nessa parte, acho que é um processo que vai por longo tempo”, diz.

A formação vai além dos ensinamentos sobre o cavalo. A professora de matemática Regina da Silva Lima leciona desde os 17 anos, está com 53, e passou a trabalha com os futuros jóqueis em 2021. A proximidade dela com o mundo dos cavalos não é por acaso, já que o próprio marido foi, um dia, aluno da escola de formação do Jockey Club.

“Essa escola é uma oportunidade para se formar não só um aprendiz, mas também um cidadão. Temos várias preocupações com esses meninos. Eles são internos, têm horários, aulas de matemática, conhecimentos gerais, português, personal trainer, nutricionista, cozinheiras, plano de saúde e tratamento dentário”, afirma. “O Jockey Club de São Paulo é uma vitrine e eles vêm para cá por isso”, diz.

Além da escola, Regina diz que muita coisa boa acontece no local, além da formação dos jovens, como é o caso do hospital veterinário.

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