Caso Porsche: câmeras mostram que PMs estavam sem bafômetro
Empresário Fernando Sastre Filho tinha sinais de embriaguez e foi liberado por PMs após bater Porsche em Sandero, matando motorista de app
atualizado
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São Paulo – Os policiais militares que abordaram o empresário Fernando Sastre Filho, de 24 anos, “não agiram com rigor”, segundo especialista em Segurança Pública ouvido pelo Metrópoles, logo após ele bater o Porsche que dirigia, em alta velocidade, na traseira de um Sandero, matando o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, 52.
Fernando Sastre ainda apresentava sinais de embriaguez, conforme registrado pela câmera corporal de uma policial feminina que o abordou (assista abaixo), logo após a colisão, ocorrida na madrugada de 31 de março, na Avenida Salim Farah Maluf, zona leste de São Paulo.
“O sujeito parecia ter sinais de embriaguez e os PMs não agiram com rigor, haja visto o histórico de ações da PM nas periferias. Parece existir dois pesos e duas medidas”, afirma o professor Rafael Alcadipani, da Fundação Getulio Vargas (FGV) .
O especialista, também membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), acrescenta que o vídeo da câmera corporal “escancara” a “forma desigual” adotada pela PM nas abordagens a pessoas de “alto escalão social” em comparação com aquelas que não são. “Esse vídeo é um caso emblemático disso”, diz.
No registro da câmera corporal, obtido pelo Metrópoles, os policiais também afirmam, durante a abordagem, que estão sem bafômetro na viatura.
O uso do equipamento, porém, não seria estritamente necessário para constatar a suposta embriaguez do empresário, motivo para apresentá-lo em flagrante à Polícia Civil, como consta no próprio Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Em seu artigo 306, o CTB diz que os sinais podem ser verificados por “vídeo, prova testemunhal” além de “outros meios de prova”.
A própria Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) afirmou que os PMs “erraram” ao não submeter o empresário ao exame de alcoolemia. A pasta já havia tido acesso às imagens das câmeras corporais, segundo nota enviada segunda-feira (23/4) ao Metrópoles, na qual afirmou que houve “falha de procedimento” dos policiais.
Tentativa de fuga
A câmera corporal da PM mostra o momento em que o empresário tenta se desvencilhar da abordagem policial, logo após colidir o Porsche, que dirigia a 156 km/h, segundo laudo pericial, contra a traseira do carro do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana.
Antes da abordagem, a policial precisou ir atrás de Fernando e da mãe dele, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, de 45 anos, que aparentemente tentavam sair do local, sem prestar esclarecimentos. “Você não pode tirar ele daqui assim”, argumenta a PM, assim que alcança mãe e filho.
Vídeo:
Daniela argumentou que precisa levar o filho para o hospital e foi questionada pela PM sobre o motivo de ele não ter permitido que socorristas dos bombeiros e do Samu fizessem isso no local.
Por fim, a policial ouviu do empresário que ele havia saído de uma “festa” acompanhado de Marcus Vinicius Rocha, de 22 anos, que estava no banco do passageiro do Porsche e foi socorrido no momento da abordagem a Fernando. O amigo chegou a ficar em estado grave por causa da batida e se recupera.
A PM, apesar dos sinais de embriaguez, liberou Fernando, após a mãe dele se comprometer a levá-lo a um hospital, o que não aconteceu posteriormente. Eles foram para a casa e o empresário só se apresentou na delegacia mais de 36 horas depois.
Fernando, Marcus e as namoradas deles estavam em uma casa de pôquer, antes do acidente, onde consumiram ao menos nove drinks alcoólicos, como consta em uma comanda. Em seu depoimento, o motorista do Porsche disse que não havia bebido e que estava “um pouco” acima do limite de velocidade da via, de 50 km/h.
Imagens e prisão negada
Na segunda-feira (22/4), a Polícia Militar entregou à Polícia Civil as imagens captadas pelas câmeras corporais dos PMs que atenderam à ocorrência, após o delegado acionar a Justiça para conseguir obter o material. Nessa quinta-feira, o inquérito foi concluído e a polícia pediu a prisão do motorista do Porsche pela terceira vez.
Mesmo com uma morte do motorista de aplicativo registrada no local, os agentes só apresentaram a ocorrência na delegacia cerca de 5 horas após o acidente. A conduta dos PMs que liberaram a saída de Fernando é investigada pela corporação. A Polícia Civil também investiga a situação, a pedido da Justiça.
A Justiça já negou dois pedidos de prisão contra o empresário, mas impôs fiança de R$ 500 mil e suspendeu sua CNH. Fernando e a mãe também tiveram de entregar seus celulares e a quebra do sigilo de dados foi autorizada. Sobre o terceiro pedido de prisão, nenhum posicionamento havia sido divulgado até a publicação desta reportagem.
A defesa de Fernando Filho informou, na terça-feira (23/4), que não vai se manifestar a respeito do resultado do laudo que apontou a velocidade de 156 km/h do Porsche, desmentindo a versão do empresário.
Na ocasião do acidente, a defesa disse que entrou em contato com a família da vítima para prestar solidariedade e toda a “assistência necessária”. “Obviamente, a perda não será reparada, mas minimamente prestaremos amparo necessário neste momento de tal fatalidade”, dizia a nota dos advogados.