Cartel do PCC tem negócios com presos e elo com ataque à polícia em SP
MPSP aponta uma série de elos entre PCC e empresas acusadas de formar cartel para fraudar licitações em prefeituras, em benefício da facção
atualizado
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São Paulo — O Ministério Público de São Paulo (MPSP) aponta, em denúncia feita à Justiça, uma série de elos entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e as empresas acusadas de fraudar ao menos R$ 200 milhões em contratos públicos de diferentes cidades paulistas. As ligações vão desde negócios paralelos com familiares até grampos que citam a solução de conflitos no “Tribunal do Crime” estabelecido pela facção.
O principal vínculo está relacionado à figura de Márcio Zeca da Silva, o Gordo, que acumula condenações na Justiça paulista por crimes de tráfico de drogas e organização criminosa — no caso, por integrar o PCC. Ele também é o principal sócio de Vagner Borges Dias, conhecido como Latrell Brito, acusado de liderar o esquema de fraudes, segundo o MPSP.
Em um dos grampos obtidos pela promotoria, um dos investigados fala abertamente da parceria entre Gordo e Latrell no esquema. “Pelo que o Márcio [Gordo] falou para mim, ele já teve a conversa contigo, que, independente da empresa agora, vai dividir tudo certinho entre vocês, né? Os dois vão ter participação”, diz a mensagem.
O cartel do PCC foi descoberto no âmbito da Operação Munditia e envolve fraudes em licitações de mais de 10 cidades paulistas, a partir de empresas registradas em nome de laranjas, além do pagamento de propina, via Pix ou dinheiro vivo, para agentes públicos.
Ao todo, 17 pessoas foram denunciadas pela promotoria. Entre os alvos, estão um secretário municipal de Itatiba, dois servidores públicos e quatro vereadores. Também há dois advogados, incluindo o representante legal de André do Rap, que é um dos chefões da facção criminosa e está foragido; o defensor foi solto nesta semana.
Relação com presos
Em 2018, Gordo foi denunciado por fazer parte da célula do PCC que atua em Suzano, Mogi das Cruzes, Poá, Ferraz de Vasconcelos e São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Na ocasião, a investigação já apontava a suposta participação de políticos e citava o envolvimento de um sujeito identificado apenas como Brito – que, agora, os promotores acreditam se tratar de Latrell.
Três anos depois, Gordo acabou preso em flagrante por transportar 200 porções de cocaína no fundo falso da sua Mercedes-Benz, em Itaquaquecetuba, também na Grande São Paulo. Em 2023, ele seria condenado a 5 anos e 10 meses de prisão por tráfico de drogas, mas recebeu o direito de recorrer da sentença em liberdade.
O vínculo com o PCC é sugerido, ainda, em áudio de Latrell, interceptado na investigação. A mensagem, de 2021, tratava de uma discussão generalizada em uma balada e dizia que a questão seria “discutida nas ideias” – referência à forma de a facção criminosa resolver conflitos.
Segundo o MPSP, diferentes presos do sistema penitenciário paulista também eram citados com frequência por Latrell, Gordo e outros acusados no esquema.
Um dos presos citados em conversas do grupo é José Leonardo Cardoso Antunes da Silva, o Leleu, acusado de roubo. “O Leleu pediu para ver se você compra a casa da mãe dele. Ou o Juninho. R$ 250.000,00. Pode negociar para parcelar”, diz uma mensagem atribuída ao advogado Dario Reisinger Ferreira, que também foi denunciado no esquema de fraudes.
Ainda segundo a investigação, Leleu também seria “beneficiário de diversos valores” do esquema. “Chefe, pede para o financeiro mandar aquele do Leleu, por favor”, afirma o advogado em outra mensagem. Latrell responde: “Eita kkkkk”.
Ataque à polícia em 2006
Na denúncia, o MPSP apresenta, ainda, outro personagem como interlocutor do grupo: Gilmar da Hora Liscoa, conhecido como Pepinha. Conhecido como líder do PCC nas ruas na região do Alto Tietê, Pepinha foi, recentemente, condenado em primeiro grau por homicídio doloso e associação criminosa.
“Pepinha mantém íntimo relacionamento com Vagner [Latrell] e Márcio; [eles] compartilham ilícitos, como quando o próprio Gilmar afirma que vai cobrar roubadores que lhe tentaram arrebatar na ‘quebrada’”, afirma o MPSP. Segundo a promotoria, além da amizade, o relacionamento com o “irmão” assegura proteção recíproca.
Latrell ri da amizade com Pepinha, que prontamente se identificou como “irmão” do PCC. Ele também identificou o cúmplice de organização criminosa como “aquele que metralhou a delegacia”, em referência ao atentado do PCC com mais de 50 tiros de fuzil na Delegacia de Polícia de Suzano, em 2006.