Criticada na tropa, câmera deve ajudar a condenar suspeito de matar PM
Especialistas em Segurança Pública afirmam que imagens da câmera corporal usada por PM da Rota são provas importantes contra seu assassino
atualizado
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São Paulo — Dois coronéis da reserva da Polícia Militar (PM) e um especialista em Segurança Pública ouvidos pelo Metrópoles afirmam que as imagens da câmera corporal usada pelo soldado Samuel Wesley Cosmo, das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), serão fundamentais para a produção de prova robusta contra o suspeito de assassiná-lo no dia 2 de fevereiro, em Santos, no litoral paulista.
Apontado como autor do disparo no rosto do agente da PM, Kaique Coutinho do Nascimento, conhecido como “Chip”, foi preso em Minas Gerais nessa quarta-feira (14/2). Crítico das câmeras acopladas nas fardas dos policiais, o secretário da Segurança Pública (SSP), Guilherme Derrite, afirmou que a prisão não decorreu da imagem captada pelo equipamento (veja abaixo). Segundo ele, a identificação resultou de uma denúncia, feita por um jovem.
Para os especialistas ouvidos pelo Metrópoles, contudo, o caso envolvendo o assassinato do soldado da Rota reforça a importância das câmeras corporais, em especial nas zonas de maior conflito. Até o momento, 21 pessoas morreram em supostos confrontos com a PM no litoral, decorrentes de operações deflagradas para prender suspeitos pelos assassinatos de três PMs desde o dia 26 de janeiro.
“No caso do soldado Cosmo, você consegue movimentar o Estado com mais provas contra pessoas que agridem policiais, no sentido lato. O caso desse criminoso aí [Chip] é exemplar. Se não fosse a câmera, a identificação demoraria muito mais tempo, se ocorresse”, afirma Alan Fernandes, coronel da reserva da PM, que também é membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
“Inúmeros benefícios”
O coronel da reserva afirma ainda que as câmeras trazem “inúmeros benefícios” e que sua utilização “vale a pena”, inclusive para a segurança dos policiais. “Quando o policial está com câmera, pessoas com disponibilidade de fazer alguma violência, contra o PM, se colocam em uma postura menos violenta. Sabem que a imagem será usada contra elas”, diz Fernandes.
Um segundo aspecto pontuado pelo coronel é o fato de as câmeras movimentarem mais evidências de eventuais agressões e violências sofridas por policiais. Ele cita o assassinato do soldado Cosmo como exemplo. “Este caso é exemplar. Imagine quando essa pessoa [Chip] for julgada. Existem provas robustas que jogam muito a favor da segurança do policial, de uma forma geral”.
“Trabalho correto”
Também coronel da reserva da PM paulista e ex-secretário nacional de Segurança Público, José Vicente afirma que as câmeras induzem o policial a realizar um “trabalho correto”, além de protegê-lo de falsas acusações de abusos por parte de criminosos em audiências de custódia, por exemplo.
“As câmeras comprovam o acerto do PM. O policial que trabalha direitinho não tem problema em usar a câmera. Quem usa mal a força do estado fica muito incomodado com ela”, diz.
O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani, que também é membro do FBSP, reforça o coro sobre as câmeras beneficiarem o “bom policial”. “Elas mostram que o PM agiu direito, com transparência”, diz.
O especialista acrescenta que evidências científicas sobre o uso dos equipamentos são favoráveis, incluindo para o esclarecimento do assassinato do soldado Cosmo.
Estudo da FGV apresentado em 2023 mostra que desde o início do uso das câmeras corporais na PM paulista, por meio do Programa Olho Vivo, o número total de mortes decorrentes de intervenção policial caiu 80% nas unidades de receberam os equipamentos.