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Câmara de SP cassa vereador Camilo Cristófaro por racismo

Camilo Cristófaro (Avante) perdeu o cargo por quebra de decoro parlamentar após dizer que não lavar a calçada era “coisa de preto”

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Imagem colorida mostra vereador falando em púlpito do plenário da Câmara de SP - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra vereador falando em púlpito do plenário da Câmara de SP - Metrópoles - Foto: Bruno Ribeiro/Metrópoles

São Paulo — O vereador Camilo Cristófaro (Avante) foi cassado pela Câmara Municipal de São Paulo nesta terça-feira (19/9), por quebra de decoro parlamentar, por causa de uma declaração racista. Em sessão virtual em maio do ano passado, o parlamentar disse que não lavar a calçada era “coisa de preto”.

A sessão de julgamento de Camilo foi feita em meio a uma série de gritos das galerias do plenário e acusações de Camilo de que o público presente havia recebido pagamento para pressionar por sua saída.

O advogado do vereador chegou a compará-lo ao oficial da Alemanha nazista Adolf Eichmann, para dizer que Camilo não teve um julgamento justo.

Camilo não recebeu nenhum voto a favor de sua permanência. Ele teve 47 votos pela cassação e 5 abstenções, dos vereadores Coronel Salles (PSD), Paulo Frange (PTB), Rute Costa (PSD),  Sansão Pereira e Atílio Francisco (Republicanos).

Partidos como o PSDB, União, PT e PSol, partido da vereadora Luana Alves, que representou pela cassação, haviam divulgado notas orientando suas bancadas a votar pela punição a Camilo. O parlamentar não poderá ser eleito para cargos públicos pelos próximos oito anos, segundo a procuradoria da Câmara.

A cassação ocorreu com o Viaduto Jacareí, onde fica a Câmara Municipal, parcialmente fechado por manifestantes com faixas contra o racismo. As galerias do plenário da Câmara estavam lotadas às 15h30, horário em que Camilo chegou.

Quando o vereador apareceu em público, ouviu gritos de “racista”. Ele se manteve em silêncio e caminhou até vereadores que já estavam no plenário, para cumprimentá-los. Quando a sessão foi oficialmente aberta, ele foi o quarto vereador a registrar presença no microfone, novamente sob vaias.

Camilo estava acompanhando de seu advogado, o ex-desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) Ronaldo Alves de Andrade, que é negro. Horas antes de a sessão começar, o vereador havia tentado obter uma decisão liminar para impedir a realização da sessão de cassação, sem sucesso.

Sessão de julgamento

A sessão de julgamento do vereador durou duas horas e meia e teve discursos de diversos vereadores. A parlamentar Luana Alves (PSol), autora do requerimento que pediu a cassação à Corregedoria da Câmara, focou sua fala no termo usado pelo vereador.

“Quando você diz que uma coisa de preto é uma coisa mal feita, você diz que os brancos fazem melhor do que os pretos. Isso é o elemento ideológico do racismo, que segue operando na sociedade brasileira”, disse a vereadora, ao reiterar o pedido de cassação.

Nenhum vereador defendeu Camilo da acusação. “Nós, do Republicanos, repudiamos qualquer tipo de preconceito e qualquer discriminação”, disse o vereador Sanção Pereira (Republicanos), antes de declarar que era a favor de uma punição ao vereador que não fosse a cassação. “Por isso, votarei abstenção”, afirmou.

“Eichmann” paulistano

O advogado de Camilo, ao defender o parlamentar, buscou questionar a legitimidade do julgamento. “Não existe imparcialidade neste julgamento. O que estamos fazendo aqui é só um julgamento formal”, disse, ao mencionar que os partidos haviam orientado suas bancadas previamente, independentemente dos argumentos da defesa.

Em seguida, Alves de Andrade comparou Camilo ao oficial da Alemanha nazista Adolf Eichmann, ao dizer que, ao ser julgado em Israel, o carrasco não teve julgamento justo. “O que esperar de um julgamento onde os julgadores têm de se curvar às ordens dos partidos, às diretrizes do partido? O vereador mais corajoso aqui se absteve”, disse. “Eichmann não foi julgado, foi pré-julgado”, argumentou, em interpretação  livre do argumento de Hannah Arendt, autora do livro sobre o julgamento de Eichmann.

Eichmann foi um dos oficiais responsáveis pela organização logística do holocausto. Prezo pela polícia secreta de Israel nos anos 1960 na Argentina, ele foi sequestrado e levado a julgamento no estado judeu.

Ao entrar no mérito da acusação, o advogado reforçou a justificativa que Camilo já havia dado, de que o caso era uma brincadeira feita a um amigo, de apelido “Chuchu”.

Pagamento de R$ 50

Camilo falou no plenário em sua defesa por cerca de 15 minutos. Ele fez ataques ao corregedor da Câmara, Rubinho Nunes (União), que conduziu o processo de cassação, e a Luana Alves e o seu partido, o PSol. “Pare de ‘luz, câmera e ação’. Vocês gostam de televisão, vocês não trocam uma lâmpada nessa cidade”.

“Eu sei que você não é racista. Mas você é rico e pode pagar advogado”, teria dito Luana a Camilo, na versão relatada pelo parlamentar.

Camilo disse ainda que nunca havia sido chamado de racista anteriormente.

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