Caixa-preta: Porsche que atropelou e matou motoboy estava a 102,3 km/h
Laudo aponta que a “caixa-preta” indicou velocidade de 102,3 km/h do Porsche conduzido por Igor Sauceda no momento em que colide com motoboy
atualizado
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São Paulo — O empresário Igor Ferreira Sauceda, de 27 anos, estava a 102,375 km/h no momento em que atropelou e matou o motoboy Pedro Kaique Ventura, de 21, em 29 de julho na zona sul de São Paulo. Essa foi a conclusão de um laudo do Instituto de Criminalística da Polícia Técnico-Científica anexado ao processo em andamento na Justiça paulista nessa quarta-feira (6/11).
Na via onde aconteceu a colisão, a Avenida Interlagos, o limite de velocidade é de 50 km/h, menos da metade da velocidade em que estava o Porsche amarelo conduzido por Igor Sauceda. Em uma imagem flagrada por câmeras de monitoramento (veja abaixo), é possível ver o carro de luxo acertando a motocicleta de lado. Segundo o laudo, a motocicleta de Pedro Kaique foi arrastada por aproximadamente 60 metros até se chocar contra um poste.
No documento, obtido pelo Metrópoles, consta que “através da avaria registrada no momento exato da colisão, a unidade do PSM registrou uma velocidade de 102.375km/h no momento do impacto (29/07/2024 01:15:53 AM). Esta é a velocidade real registrada, sem desvio padrão ou margem de erro”.
A extração dos dados foi feita por meio da leitura de informações contidas no módulo veicular do Porsche, uma espécie de “caixa preta” (veja acima). A análise foi feita na montadora, que disponibilizou os equipamentos e infraestrutura necessárias.
“Para se tornar possível alcançarmos a velocidade no momento da colisão temos que recorrer à leitura da unidade eletrônica do PSM (Porsche Stability Management) através do VAL (Vehicle Analisys Log)”, aponta o laudo. Esta unidade é a responsável por ler os dados da velocidade do veículo através da velocidade individual das 4 rodas,” diz o laudo.
Ainda de acordo com o documento, após o impacto, “os veículos se imobilizaram permanecendo nas posições e situações visualizadas nos anexos fotográficos” (veja acima).
Ainda é descrito que o relator do laudo não observou nos veículos e na pavimentação “anomalias que pudessem justificar o ocorrido”.
Habeas corpus negado
O empresário Igor Ferreira Sauceda, réu por homicídio triplamente qualificado, teve recentemente um novo pedido de liberdade negado pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Joel Ilan Paciornik.
A defesa de Sauceda havia entrado com um pedido de habeas corpus para que ele fosse solto enquanto aguardava o laudo do Instituto de Criminalística (IC), divulgado nessa quarta. O magistrado entendeu que a demora para apresentação do documento não causa prejuízo à defesa no que diz respeito à apresentação de uma resposta à acusação.
Na ocasião, a juíza responsável pelo caso na esfera estadual, Isabel Begalli Rodriguez, cobrou celeridade do IC e intimou o diretor do instituto, Evandro Peres Ribeiro.
Em agosto, o Tribunal de Justiça de São Paulo negou um pedido de liberdade. Na ocasião, o IC já havia sido cobrado a apresentar o laudo de local do acidente.
Sauceda segue preso preventivamente Centro de Detenção Provisória II de Guarulhos, na região metropolitana.
Motivo fútil
A denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) que fez a Justiça tornar Sauceda réu apontou que “o crime de homicídio foi praticado por motivo fútil, na medida em que Igor deliberou matar Pedro somente porque se irritou com o fato de ele ter danificado o seu carro durante uma colisão de trânsito”. Antes do atropelamento, a vítima, Pedro Kaique Ventura, quebrou o retrovisor do Porsche.
“O crime foi, ainda, praticado com emprego de meio cruel, uma vez que Igor acelerou o carro que conduzia na direção da motocicleta conduzida pela vítima, a atropelou e arrastou por alguns metros, provocando atroz e desnecessário sofrimento a Pedro, além de revelar brutalidade fora do comum em contraste com o mais elementar sentimento de piedade”, acrescentou o MP.
A denúncia indica que Igor também empregou recurso que dificultou a defesa da vítima, “na medida em que colheu Pedro de forma absolutamente surpreendente e pelas costas, pois o atropelou em alta velocidade e atingiu primeiro a parte de trás de sua motocicleta”.
Porsche como arma
Igor Sauceda foi preso em flagrante horas após o acidente por homicídio doloso, com dolo eventual. No dia seguinte, durante a audiência de custódia, a juíza Vivian Brenner de Oliveira converteu a prisão em preventiva e disse que o empresário usou seu Porsche “como uma arma” para perseguir e matar o motoboy.
O empresário chorou durante a audiência. Igor Sauceda se emocionou enquanto seu advogado, Carlos Bobadilla, dizia que o empresário veio de “família humilde” e “não ganhou o Porsche do pai”.
Uma imagem registrada por câmera de segurança mostra o momento exato em que o Porsche amarelo dirigido por Igor Ferreira Sauceda acerta a moto de Pedro Kaique Ventura, na Avenida Interlagos, no dia 29 de julho.
A cena, divulgada em 4 de agosto, é rápida e flagra a hora em que o carro de luxo acerta a motocicleta de lado.
Assista: