Homem ligado a fornecedor do CV teria sido morto durante caça a armas
Homem participou da tentativa de comercializar as metralhadoras no Rio e teria sido executado por criminosos após repercussão do caso
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo — O escândalo envolvendo o furto de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra de Barueri, na Região Metropolitana de São Paulo, tem mobilizado autoridades e tirado o sono de investigadores no Rio de Janeiro e em São Paulo — e, também, tem movimentado as engrenagens pouco ortodoxas do crime organizado. Num desdobramento do caso, informações de inteligência recebidas pelos militares apontam que, nas últimas semanas, pelo menos uma morte relacionada ao furto teria ocorrido no Rio.
As 21 armas — 13 metralhadoras calibre .50, que podem derrubar aeronaves, e oito calibre 7,62, que perfuram veículos blindados — foram levadas para fora do quartel entre os dias 5 e 8 de setembro. Até agora, 19 delas foram recuperadas.
O furto só foi descoberto pelo Exército mais de um mês depois do crime, no último dia 10, durante inspeção no Arsenal de Guerra. Três dias depois, o caso veio a público em reportagem do Metrópoles.
Morte no Rio de Janeiro
O homicídio que chegou ao conhecimento dos militares é de um homem que trabalhava diretamente com Jesser Marques Fidelix (foto em destaque), rapaz que seria o usuário do carro em que foram encontradas, na quarta-feira (1º/11), duas metralhadoras .50 do Exército.
O veículo com as armas, incluindo um fuzil 7.62 cuja origem ainda é desconhecida, estava estacionado, aparentemente abandonado, na Avenida Lúcio Costa, na Praia da Reserva, zona oeste do Rio (veja abaixo). Os investigadores dizem ter chegado até o carro após monitorar e seguir os passos do condutor. Ninguém foi preso.
Jesser, segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro, seria fornecedor de armas e drogas de organizações criminosas fluminenses. Natural do Espírito Santo, ele segue solto. O criminoso moraria em São Paulo, tem outros endereços no Rio e uma distribuidora de bebidas na capital fluminense.
Também conhecido como Capixaba, ele seria o responsável, de acordo com as investigações, por levar o armamento de guerra do Exército de São Paulo para o Rio. O comércio de bebidas de sua propriedade, assim como outros negócios atribuídos a ele, seria usado para a lavagem de dinheiro de transações criminosas.
Execução e investigação
A morte do homem ligado a Jesser teria acontecido entre os dias 10 — quando o extravio foi notado pelas Forças Armadas — e 19 de outubro — data em que a Polícia Civil do Rio encontrou as primeiras oito metralhadoras do Exército em um carro na entrada da Gardênia Azul, comunidade recentemente tirada das mãos da milícia pelo Comando Vermelho (CV).
Segundo a apuração do Metrópoles, a execução teria sido praticada por traficantes durante uma apuração clandestina para obter informações e descobrir o paradeiro das armas. O objetivo seria localizar os itens para devolver — ou “vomitar”, no linguajar do crime — as metralhadoras às autoridades, evitando, assim, uma eventual incursão das forças de segurança nas comunidades fluminenses.
O motivo da execução não está totalmente esclarecido, mas o que se sabe é que a vítima, homem de confiança de Jesser, seria uma das poucas pessoas com informações sobre o paradeiro do armamento de guerra e teria mentido aos criminosos sobre a localização dos itens furtados do Exército. Na ocasião, as metralhadoras ainda estavam rodando o Rio, sendo oferecidas a lideranças criminosas variadas.
Investigação do Exército
O Metrópoles apurou que, apesar de ter sido informado sobre esse homicídio, o Exército não tem seu esclarecimento como prioridade – há, inclusive, incertezas sobre a própria competência legal dos militares em conduzir essa apuração. Além disso, uma investigação minuciosa sobre o caso é tida como missão pouco provável.
Segundo apurou o Metrópoles, o corpo do homem morto teria sido desfeito, possivelmente queimado dentro de alguma comunidade.
As investigações apontam que Jesser e seu comparsa estiveram em várias comunidades do Rio tentando vender o armamento. Inicialmente, as informações apontavam que os itens não teriam sido adquirido por líderes criminosos por conta da ausência de peças.
Até hoje, não há provas sobre a efetiva compra, ou não, dos itens pelo CV. Não está descartada, por exemplo, a possibilidade de outro traficante, sem aval do comando da facção, mas ligado ao CV e “dono” de comunidade, ter comprado as armas com desconto no preço, como reforço para algum confronto em sua região — isso seria possível com compra de peças e reparos nas metralhadoras.
Militares envolvidos
Além das 10 armas localizadas no Rio de Janeiro — duas nesta quarta-feira e as oito localizadas na comunidade Gardênia Azul —, nove metralhadoras estavam enterradas na lama em uma área isolada na cidade de São Roque, no interior de São Paulo.
Ninguém foi preso pelo crime até o momento, mas o Exército já sabe que pelo menos seis militares do Arsenal de Guerra tiveram participação direta na operação que retirou o armamento do quartel em São Paulo.
Um deles, identificado como o cabo Vagner da Silva Tandu, era motorista do tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, ex-diretor do Arsenal. Ele é apontado como a pessoa que tirou do quartel o armamento, usando um veículo militar.
Outros cinco militares teriam ajudado o cabo diretamente. As investigações indicam que eles realizaram o corte intencional de energia do Arsenal, o que impediu as câmeras de segurança de registrarem a ação.
O Comando do Sudeste pediu, no último dia 26, a prisão preventiva do cabo e dos demais militares. Além disso, o Exército aplicou “punição disciplinar” a outros 17 militares por falha de conduta na fiscalização do armamento. A punição consiste em uma espécie de prisão administrativa no quartel, que pode durar de 1 a 20 dias.
O tenente-coronel Rivelino Batista não é formalmente investigado, mas foi exonerado do cargo. Ele foi substituído pelo coronel Mário Victor Vargas Junior.