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Boulos vai da mudança de postura ao mea culpa, mas não evita derrota

Guilherme Boulos (PSol) foi derrotado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) na disputa à Prefeitura de SP neste domingo (27/10)

atualizado

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Guilherme Boulos (PSol) - Metrópoles
1 de 1 Guilherme Boulos (PSol) - Metrópoles - Foto: Leandro Paiva/Divulgação Campanha Boulos

São Paulo – As camisas claras, a voz serena e o gestual mais contido de Guilherme Boulos (PSol) nestas eleições contrastaram com o perfil inquieto e combativo apresentado na campanha de 2020 à Prefeitura de São Paulo. Apenas nesta reta final, já no 2º turno, ele resgatou a imagem mais enérgica que o levou à política, embora a mudança não tenha sido suficiente para evitar a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) neste domingo (27/10).

Com mais de 95% das urnas apuradas, Nunes tinha 59,48% dos votos, contra 40,52% de Boulos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No núcleo duro da campanha, a possibilidade de derrota não era trabalhada. A ordem era a de acreditar numa virada sobre Nunes, que liderou todas as pesquisas de 2º turno por uma vantagem de ao menos 10 pontos percentuais.

Já entre apoiadores mais antigos, em especial uma ala do PSol que se sentiu escanteada diante do domínio do PT durante a campanha, para quem pregava a mudança, Boulos passou muito tempo transmitindo ares de “político tradicional”.

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Boulos e Lula em carro durante caminhada na Av. Paulista
O petista cancelou a ultima agenda com o psolista por causa da chuva
Marina Silva, Luiza Erundina, Guilherme Boulos, Lula e Marta Suplicy na Av. Paulista no sábado (5/10)
Marta Suplicy e Guilherme Boulos em carreata na Brasilândia
Erundina, Boulos e Haddad em caminhada em Heliópolis
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Boulos discursa em ato de campanha

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Boulos e Lula em carro durante caminhada na Av. Paulista

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O petista cancelou a ultima agenda com o psolista por causa da chuva

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Marina Silva, Luiza Erundina, Guilherme Boulos, Lula e Marta Suplicy na Av. Paulista no sábado (5/10)

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Lula e Boulos durante caminhada na Av. Paulista

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Boulos posa ao lado de mascotes durante agenda de campanha

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Boulos em aula pública de cursinho popular na zona sul

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Candidato à Prefeitura de SP, Guilherme Boulos (PSol) chega ao debate do SBT em 20/9

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Boulos e Marta em ato na Praça da Sé, no centro de SP

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As comparações com 2020 foram inevitáveis ao longo da eleição: mesmo com cinco vezes mais dinheiro em caixa, maior tempo de televisão e apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – e, consequentemente, de boa parte do primeiro escalão do governo federal –, o psolista manteve uma alta rejeição e patinou no diálogo com uma classe média que, em sua maioria, foi cativada pelo fenômeno Pablo Marçal (PRTB) no 1º turno, especialmente na zona leste da cidade.

Antes mesmo de a eleição chegar ao fim, já havia quem apontasse o dedo para o marqueteiro Lula Guimarães pela diferença de postura de Boulos e, consequentemente, pela derrota. O entorno do publicitário garantiu que todas as decisões foram tomadas de forma conjunta pela coordenação de campanha e que o foco de Guimarães foi voltado para as propagandas televisivas.

Boulos parte para o ataque

O psolista tentou correr atrás do prejuízo no 2º turno. Incorporou propostas de Marçal e de Tabata Amaral (PSB), ampliou o leque de promessas e fez um mea culpa em nome da esquerda. Ao copiar Lula e ler uma “carta ao povo” na última semana de campanha, reconheceu que seu campo político deixou de falar com quem “buscou encontrar sua própria forma de ganhar a vida”. A mensagem era voltada principalmente aos pequenos comerciantes, público empreendedor com o qual Marçal soube dialogar bem.

“A periferia mudou”, admitiu Boulos na segunda (21/10) ao ler a carta em frente à Prefeitura, antes de dar início a uma caravana pelas periferias da cidade, dormindo na casa de eleitores e transmitindo boa parte das agendas nas redes sociais.

Dois dias depois, em entrevista ao podcast Inteligência LTDA, falou sobre a dificuldade em apresentar propostas para a segurança pública, um dos calcanhares de Aquiles das campanhas de esquerda: “A esquerda errou, e aqui eu faço uma autocrítica, em não ter feito um projeto mais específico para a segurança”, disse ele.

Assim como ocorreu com a campanha de Fernando Haddad (PT) à Presidência em 2018, alguns aliados disseram que, caso o 2º turno durasse mais tempo, Boulos poderia ter reduzido a diferença para Nunes, que foi caindo nas pesquisas ao longo das semanas. A dois dias da votação, o psolista aceitou até mesmo ser sabatinado por Marçal, com quem travou os maiores embates no 1º turno e que havia apresentado um laudo falso o acusando de uso de cocaína.

Na estratégia do tudo ou nada, até as chuvas entraram no radar da campanha. Com o apagão que ocorreu no início do mês, atingindo milhões de paulistanos, um integrante do PSol chegou a avaliar que uma nova tempestade seria “bem-vinda”, como revelou o Metrópoles.

No entanto, nem os problemas enfrentados com o apagão e nem as muitas denúncias contra a gestão Nunes – e bem exploradas por Boulos no último debate eleitoral, da TV Globo, na noite de sexta (25/10) – foram o suficiente para provocar um revés contra o prefeito, reeleito neste domingo.

Boulos cá, Lula lá

A campanha atribuiu parte da derrota ao uso da máquina pública por Nunes, incluindo não apenas a Prefeitura, mas também o governo estadual, com o próprio governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) servindo de cabo eleitoral para o prefeito nas agendas de rua e associando o psolista, sem provas, a um “salve” feito pelo PCC pedindo voto em Boulos.

Os principais padrinhos políticos, como Lula no caso de Boulos e Jair Bolsonaro (PL) no caso de Nunes, foram amplamente explorados pelo psolista, que tentou reforçar a todo o tempo ser o nome apoiado pelo petista em São Paulo e tentou colar, em Nunes, a rejeição a Bolsonaro pelo apoio do ex-presidente à reeleição do prefeito.

Lula, a quem a derrota do psolista é creditada como uma derrota pessoal do presidente, esteve ao lado de Boulos em três agendas de rua e duas lives em toda a campanha, além de ter gravado três propagandas com o deputado para o horário eleitoral gratuito.

Com uma série de cancelamentos por motivos diversos – viagens presidenciais, chuva na cidade e um acidente doméstico – Lula foi ausência sentida pela campanha, que publicamente nega, mas manifestou insatisfação, nos bastidores, por acreditar que ele se engajaria mais nestas eleições.

Além disso, outro nome do PT também virou motivo de preocupação interna: a vice do psolista, Marta Suplicy, que trocou um secretariado da gestão Nunes para retornar ao partido de origem como a vice de Boulos. Aliados do psolista esperavam que ela agregasse mais votos ao deputado e se engajasse mais em agendas. Poupada pela campanha, foi a vice com menos aparições públicas ao lado do candidato principal tanto no 1º quanto no 2º turno.

A derrota de Boulos dá fim a uma candidatura desenhada há quatro anos, mas iniciada, de fato, em 2022, quando ele aceitou integrar a coligação da candidatura de Fernando Haddad ao governo estadual em troca do apoio de Lula, e do PT, à Prefeitura de São Paulo.

O psolista e seu entorno evitam falar sobre o futuro pós-eleições, mas já há conversas para que ele assuma maior protagonismo dentro do governo Lula para ganhar mais evidência. A própria Marta o colocou como herdeiro político do petista ao longo da campanha. No PT, há quem garanta: se Boulos ainda quiser a Prefeitura, terá de trocar de partido.

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