Boulos eleva os ataques a Nunes no último debate do 2º turno em SP
Debate da Globo nesta sexta-feira foi o último encontro entre Nunes e Boulos antes do 2º turno da eleição, que ocorre neste domingo (27/10)
atualizado
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São Paulo – Em desvantagem nas pesquisas de intenção de voto, o deputado federal Guilherme Boulos (PSol) partiu para o ataque contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB) no último debate do 2º turno da eleição à Prefeitura da capital, realizado nesta sexta-feira (25/10) pela TV Globo. Boulos bombardeou Nunes com perguntas e acusações sobre suspeitas de corrupção envolvendo a atual gestão, enquanto o candidato à reeleição explorou questões sobre segurança e drogas contra o rival.
Boulos apresentou a postura mais incisiva de todos os debates à Prefeitura da capital neste 2º turno. Em quatro blocos, explorou as principais suspeitas sobre a gestão Nunes, como supostas compras superfaturadas para combater a dengue, favorecimento em contratos de obras sem licitação, a relação do prefeito com um ex-cunhado de Marcola, líder do PCC, e as investigações sobre a máfia das creches, na qual o emedebista é investigado pela Polícia Federal (PF) por causa do depósito de um cheque em sua conta pessoal.
O deputado voltou a desafiar o prefeito a abrir o sigilo bancário, como fez nos dois debates anteriores, para provar que não se beneficiou dos supostos esquemas. “Estou colocando em suspeita várias informações que estão sendo investigadas, inclusive pela Polícia Federal”, disse Boulos. “Eu topo abrir o meu. E você, vai abrir o seu sigilo bancário?”, indagou o candidato do PSol.
Nunes negou qualquer envolvimento em irregularidades, disse que tem a “vida limpa” e respondeu dizendo que Boulos foi condenado 32 vezes na Justiça Eleitoral por propagar “mentiras” contra ele.
Os dois também trocaram acusações sobre já terem sido presos. Boulos lembrou o episódio, revelado pelo Metrópoles, no qual Nunes foi detido por dar tiros para o alto em frente a uma boate em Embu das Artes, em 1996. O prefeito minimizou o episódio, justificando que estava apenas separando uma briga de amigos, e lembrou casos nos quais Boulos foi detido durante processos de reintegração de posse quando liderava o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).
Nunes tentou colar em Boulos, mais de uma vez, o rótulo de radical e invasor, ironizando as vezes nas quais o psolista se aproximou muito dele no estúdio, já que os dois podiam caminhar livremente pelo palco, que tinha um mapa da cidade no chão. “Você fica invadindo, aqui, o meu pedaço”, reclamou o emedebista ainda no primeiro bloco. Boulos, por sua vez, repetia o tempo todo, de forma irônica, que Nunes mantivesse a “calma”.
Padrinhos e aliados
Os dois utilizaram a ocasião para reforçar o papel de padrinhos políticos e criticar os aliados uns dos outros. Boulos citou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) algumas vezes, enquanto Nunes enfatizou sua parceria com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Boulos questionou Nunes se Jair Bolsonaro (PL) “fez ou não fez tudo certo na pandemia”, explorando o apoio do ex-presidente à reeleição do prefeito. Nunes se esquivou e respondeu que, sob sua gestão, São Paulo virou “a capital mundial da vacina”.
Ao ver o prefeito tentar utilizar o celular para elaborar uma questão, e ser advertido pelo mediador César Tralli, já que o uso dos aparelhos era proibido pelos candidatos, Boulos também alfinetou o apoio do governador Tarcísio de Freitas, que acompanhou o debate no estúdio da Globo.
“Diferentemente dele [Nunes], eu sei andar de bicicleta sem rodinha. Não preciso do celular. O Nunes é uma bicicleta com rodinhas: uma rodinha é o Tarcísio e a outra é o Bolsonaro”, disse o psolista.
Já Nunes, ao ouvir Boulos questionar sobre a gestão Marta Suplicy (PT), devolveu a cutucada: “Você pergunte a ela como ela liderou o processo de impeachment da Dilma [Rousseff]”. O tema é caro ao PT e gerou discussões internas na campanha quando Marta voltou ao partido para ser a vice na chapa de Boulos, com uma ala petista se opondo ao retorno dela à sigla.
O debate
Nunes iniciou o primeiro bloco, de tema livre, questionando Boulos sobre segurança pública. O prefeito afirmou que contratou 2 mil Guardas Civis Municipais (GCMs) e que irá contratar mais 2 mil, além de providenciar a instalação de 20 mil câmeras de monitoramento, e questionou o adversário sobre o motivo de ele não ter votado a favor de um projeto de lei na Câmara dos Deputados para aumentar a pena de criminosos.
Boulos disse que não estava na sessão em que o projeto foi votado porque se encontrava em uma audiência com Lula no Palácio do Planalto.
Na sequência, o candidato do PSol investiu seu tempo falando que os paulistanos querem “mudança”, que foi alvo de “ataques e mentiras” e pediu para os eleitores não votarem com “medo” no domingo. Boulos criticou a atuação de Nunes durante o último apagão na cidade, ocorrido neste mês, dizendo que ele “não teve pulso”, e questionou o prefeito sobre os custos do cemitérios que foram privatizados pela gestão do emedebista.
Na sua fala, Nunes alegou que os preços do serviço funerário permaneceram congelados para as famílias de baixa renda e voltou a questionar Boulos sobre segurança pública, dizendo que o adversário defende a “liberação das drogas” e a “desmilitarização da polícia”.
Boulos disse que Nunes mente ao insinuar que ele é a favor da descriminalização das drogas e afirmou que defende tratamento diferenciado entre traficantes de drogas e dependentes químicos. “Você defende prender um dependente químico?”, questionou o psolista.
O prefeito insistiu nas posições de Boulos sobre drogas e segurança pública e defendeu as concessões feitas nas gestões dele e dos ex-prefeitos Bruno Covas e João Doria, dizendo que faz um “governo liberal”.
No segundo bloco, Boulos questionou Nunes sobre problemas na área de saúde, como as filas por exame. O prefeito rebateu dizendo que abriu novos equipamentos para atender a população e indagou o candidato do PSol sobre o fato de o partido dele ter votado contra um projeto na Câmara Municipal para reduzir impostos.
Boulos disse que o PSol votou contra porque havia um “jabuti” no projeto, com pedido de empréstimo em moeda estrangeira, considerado “suspeito” por ele. Nunes rebateu dizendo que o dinheiro seria usado para compra de ônibus elétricos.
Os dois também abordaram questões como trabalho e transportes, com acenos aos pequenos comerciantes e empreendedores da cidade, público que ficou identificado com o candidato Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno.