metropoles.com

Quem é o bolsonarista que “vende” modelo de escola cívico-militar

Capitão Davi Lima Sousa é suplente de deputado federal pelo PL e preside entidade que tem R$ 11 milhões em contratos com prefeituras

atualizado

Compartilhar notícia

Reprodução / Redes sociais
imagem colorida mostra capitão davi lima sousa com roupa do exército - metrópoles
1 de 1 imagem colorida mostra capitão davi lima sousa com roupa do exército - metrópoles - Foto: Reprodução / Redes sociais

São Paulo — Nome conhecido entre os defensores das escolas cívico-militares, o Capitão Davi Lima Sousa é figura frequente nos gabinetes de políticos do país. Nas redes sociais, ele tem fotos com deputados estaduais e federais, vídeos com prefeitos de diferentes cidades, e aparece em imagens ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-ministro da Defesa e da Casa Civil General Braga Netto.

O trânsito entre os políticos não é à toa. O próprio capitão já disputou duas eleições. Em 2018, quando carregava a patente de tenente do Exército, o militar tentou uma vaga de deputado do Distrito Federal pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC), mas terminou o pleito com 1.803 votos e o posto de suplente.

Em 2022, seu nome voltou a aparecer nas urnas, já com o título de capitão, e desta vez como candidato a deputado federal pelo PL, mesmo partido de Bolsonaro. Outra vez, o militar saiu da disputa com a vaga de suplente depois de receber 3.826 votos.

Capitão Davi não é suplente de um deputado específico, mas sim da coligação que o elegeu — para os cargos eleitos pelo sistema proporcional, como o dos deputados, a regra é que os suplentes serão os candidatos mais bem votados do partido ou da coligação logo depois daqueles efetivamente vitoriosos nas urnas.

Nas duas eleições que disputou, a principal bandeira do candidato foi a militarização das escolas no país.

Em 2019, em meio ao surgimento do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (PECIM), durante o governo Bolsonaro, Capitão Davi criou a Associação Brasileira da Educação Cívico-Militar (Abemil) e passou a oferecer os serviços da entidade sem fins lucrativos para prefeituras de várias cidades do país como forma de viabilizar a implantação do modelo nos colégios municipais.

0

No lobby para vender o formato, o militar, que é presidente da entidade, participa pessoalmente de audiências públicas e faz reuniões com vereadores e prefeitos. O site da associação chega a mostrar o passo a passo para que ela seja contratada pelos governos municipais. Como mostrou o Metrópoles, a receita tem rendido cifras milionárias à entidade: em cinco anos de existência, a Abemil já soma R$ 11 milhões em termos assinados sem licitação com pelo menos 10 prefeituras.

As parcerias firmadas deixam a cargo da associação, por exemplo, a seleção dos militares que vão atuar nas escolas e a fiscalização das regras de conduta que os estudantes devem seguir. Nas redes sociais, Capitão Davi defende o modelo aplicado pela Abemil como uma forma de combater o que ele chama de “ideologia” nas escolas.

Na última semana, o militar divulgou um vídeo em que um grupo de crianças aparece cantando uma música pró-Palestina para defender a militarização das escolas.

“Eles, na verdade, só querem que seu filho seja uma peça do tabuleiro ideológico deles. Por isso, temem o grande avanço das Escolas Cívico-Militares. Vamos cuidar bem de nossos filhos”, disse o militar na publicação. A imagem compartilhada, no entanto, não foi gravada em um colégio.

Bolsonarista aguerrido, Capitão Davi frequentemente usa suas redes para convidar seguidores a participarem de atos a favor do ex-presidente, e fez campanha para ele nas duas últimas eleições, com direito a participação em uma caravana que buscava angariar votos para a reeleição de Bolsonaro. Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito, o militar tem publicado uma série de recortes de vídeos com críticas ao petista.

“Independente e apartidária”

Procurada pelo Metrópoles, a Associação Brasileira de Educação Cívico-Militar (Abemil) afirma ser “independente e apartidária”, e que foi constituída com o “propósito inequívoco de implementar e manter o modelo de educação cívico-militar”. A entidade diz prestar serviços em 19 escolas em todo o país e contar com “um corpo de funcionários civis e militares da reserva, criteriosamente selecionados”.

“Reiteramos que as ações da Abemil estão voltadas para o fortalecimento da educação cívico-militar no país, promovendo a disciplina, a responsabilidade, o patriotismo e o desenvolvimento cívico entre os jovens brasileiros”, afirma. Segundo a entidade, a implantação das escolas cívico-militares passa por “processos rigorosos”, como a realização de audiências públicas, aprovação de leis municipais e consulta a pais, alunos e professores.

“A adesão ao modelo é voluntária, respeitando o princípio da legalidade e a autonomia federativa (estadual e municipal). A Abemil não interfere na criação ou alteração de leis”, diz.

Em seus contratos de consultoria, a Abemil diz fazer “visitas técnicas periódicas com o objetivo de capacitar o corpo militar e apoiar a equipe didático-pedagógica-administrativa das escolas” para “assegurar um ambiente escolar seguro e propício ao aprendizado com melhoria na qualidade do ensino”.

A associação ainda afirma que sua atuação tem rendido resultados positivos deste modelo de gestão e cita como exemplos a Escola Cívico-Militar Liceu Codoense Nagib Buzar, em Codó, no Maranhão, que alcançou a nota 5,3 no Ideb, acima das médias nacional e estadual, e a Escola Cívico-Militar Maria Cristina Sutti Lopes Moreno, em Lins, que obteve a nota 6,42 no Ideb.

A entidade diz também que o objetivo das escolas cívico-militares “não é a militarização da educação”, mas sim “a cooperação para uma educação de excelência”, e que 19 governadores, incluindo Tarcísio, “estão estadualizando as escolas cívico militares para assegurar a continuidade deste modelo”. “É importante ressaltar que o projeto de Educação Cívico-Militar não interfere em nenhum um ponto das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica instituídas pelo MEC”, conclui.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSão Paulo

Você quer ficar por dentro das notícias de São Paulo e receber notificações em tempo real?