O que se sabe da “Bola de Cristal” do crime, proposta árabe a Tarcísio
Projeto “Bola de Cristal” foi citado em janeiro pela empresa Edge, que firmou parceria com governo Tarcísio para programa de segurança
atualizado
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São Paulo – O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem uma parceria firmada com a estatal Edge Group, dos Emirados Árabes Unidos, para estruturar o Muralha Paulista, um programa de megavigilância com sistema de câmeras de monitoramento que é a grande aposta da atual gestão para reduzir índices de criminalidade em áreas críticas do estado, como o centro da capital paulista.
Para esse projeto em São Paulo, a empresa árabe, que produz desde mísseis a equipamentos de espionagem, afirma estar desenvolvendo um planejamento próprio, que batizou de “Bola de Cristal”, em alusão ao objeto místico utilizado para prever o futuro. No caso do programa de segurança pública, a “previsão” seria de atividades criminosas.
O projeto “Bola de Cristal” foi divulgado pela primeira vez pela empresa, em janeiro deste ano, após uma reunião com o vice-governador Felício Ramuth (PSD). Como mostrou o Metrópoles nessa segunda-feira (13/5), a Edge é representada no Brasil por Marcos Degaut, que foi secretário de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), aliado de Tarcísio.
“Baseado no monitoramento inteligente, o projeto, batizado de ‘Bola de Cristal’, priorizará a vigilância e o atendimento aos bairros centrais da cidade de São Paulo por meio da implantação de tecnologias avançadas, como soluções inteligentes de monitoramento (CFTV), comando e controle integrado, comunicações, vigilância e reconhecimento avançado (C4ISR), drones inteligentes, inteligência artificial, inteligência de dados aéreos e a solução ‘monitoramento digital’, de propriedade da Beacon Red.”
Beacon Red é uma das 25 empresas do grupo Edge, que fica sediado em Abu Dhabi e é controlado pelo governo dos Emirados Árabes. Segundo a companhia árabe, a parceria não implica nenhum custo para o governo paulista e seus equipamentos são de “surveillance”, ou seja, sistemas de monitoramento.
“O objetivo do programa é aprimorar a visibilidade das estatísticas criminais, identificar áreas críticas, rastrear as atividades criminosas, apoiar as vítimas e avaliar o impacto nos negócios, juntamente com métricas relevantes. Ao aproveitar esses dados, o governo estabelecerá uma poderosa capacidade analítica que permitirá a tomada de decisões informadas para a aplicação da lei, melhor alocação de recursos, maior segurança pública e, em última análise, uma redução nas taxas de criminalidade”, afirma a empresa.
Ao citar o programa “Bola de Cristal”, em janeiro, a Edge disse que conduziria testes, por seis meses, de uma “importante iniciativa de segurança pública” com objetivos como a estruturação de dados, a “análise e integração de diferentes soluções” e o estabelecimento de respostas rápidas.
“O projeto inovador é o primeiro desse tipo na América Latina e será usado como piloto para futuras iniciativas em vários bairros de São Paulo e outras áreas metropolitanas do Brasil”, disse a empresa.
Em janeiro, após o encontro com os representantes da Edge, o subsecretário de Acompanhamento de Projetos Estratégicos da Secretaria da Segurança Pública, Rafael Ramos, deu detalhes ao Metrópoles de como vai funcionar o programa Muralha Paulista, sem mencionar o projeto “Bola de Cristal”, desenvolvido pela empresa.
Segundo Ramos, a integração dos bancos de dados de sistemas das polícias, prefeituras, do Departamento de Trânsito (Detran), do Judiciário, e até de dados fiscais dos cidadãos forneceria elementos que, cruzados com outras informações, como localização e horário do dia, poderiam emitir alertas para as forças de segurança sobre a iminência da prática de um crime.
Por exemplo: uma pessoa, de bicicleta, já detida por furtar celulares na Rua Augusta, no centro da capital, faria o sistema de monitoramento disparar um alerta caso ela fosse detectada na mesma região, andando de bicicleta. A partir dessa comunicação, os policiais nas proximidades seriam acionados para abordar o suspeito.
Para isso, é necessário o desenvolvimento de sistemas que integrem esses vários bancos de dados e sensores capazes de detectar os indivíduos, como câmeras com reconhecimento facial ou mesmo tornozeleiras eletrônicas em reincidentes criminais. É essa integração que o governo Tarcísio tem feito e cuja estruturação para uso eficiente das informações será feita pela empresa militar árabe.
O que diz o governo
Por meio de nota, o governo paulista informou que os documentos assinados com a empresa são “termos de cooperação” com o governo dos Emirados Árabes, cuja íntegra não foi divulgada.
“A pasta manifestou interesse em formalizar um convênio futuro, junto ao Ministério de Pesquisas Estratégicas e Assuntos de Tecnologia Avançada daquele país, por meio da estatal Edge Group, com o objetivo de buscar soluções tecnológicas que auxiliem no combate ao crime e na proteção da população. As tratativas ainda estão em discussão, portanto, não há nenhuma atividade laboral em andamento pela pasta”, diz o governo.
Segundo o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, a parceria é específica para auxílio na construção do Muralha Paulista.
“O que tem é um acordo de cooperação entre governo do estado e Emirados Árabes para ajudar na estruturação do Muralha Paulista. É um acordo, um guarda-chuva maior. Dentro desse guarda-chuva, o grupo Edge é uma estatal dos Emirados Árabes. Agora, dentro disso, tem uma série de coisas. Eles têm viaturas, têm equipamentos, têm tecnologia”, disse Derrite.