B.O. contradiz versão de Derrite sobre morte de suspeito pela Rota
Secretário da Segurança Pública compartilhou nas redes sociais que homem saiu de carro em tiroteio; B.O. diz que ele permaneceu em veículo
atualizado
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São Paulo — O secretário estadual da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, tem usado suas redes sociais para divulgar resultados de uma operação da Polícia Militar (PM) no litoral paulista que foi intensificada após o assassinato de um soldado das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), em Santos, na última sexta-feira (2/2).
A postagem mais recente feita por ele aborda o caso envolvendo o sétimo suspeito morto em uma suposta troca de tiros com policiais na Baixada Santista. A versão descrita por Derrite aos seus seguidores, contudo, difere do que foi registrado oficialmente pela Polícia Civil, a partir dos relatos dos próprios PMs envolvidos na ocorrência.
Em seu perfil no Instagram, Derrite afirmou, na segunda-feira (5/5), que um homem que aparece armado com uma pistola na foto postada por ele “foi morto hoje em um confronto com a Rota porque, ao invés de se entregar, atirou contra os policiais”.
No texto, o secretário segue afirmando que o suspeito “foi abordado e, ao descer do veículo, sacou a arma de fogo”. Segundo Derrite, o rapaz morto pela PM “foi apontado como responsável pelo tráfico no Morro São Bento, em Santos”. Até a noite desta terça-feira (6/2), o post tinha mais de 52 mil curtidas.
Versão dos policiais
No registro oficial, feito a partir do relato dos PMs que participaram da ocorrência, o suspeito, identificado como Rodnei, não atirou e permaneceu o tempo todo dentro do carro, onde foi atingido por sete tiros de fuzil.
De acordo com o histórico, os PMs atiraram no momento em que o suspeito teria apontado uma arma contra eles, “reagindo àquela ameaça”, quando abordaram o carro no qual ele estava.
Policiais da Rota relataram ter recebido uma informação do setor de inteligência de que um traficante do Morro São Bento estaria em um Ford Fiesta preto.
O carro, ainda segundo o relato, foi localizado na Rua Doutor Gastão Vidigal e acompanhado até o Morro do São Bento, quando os policiais sinalizaram para o Ford Fiesta parar. O pedido foi atendido pelo condutor, que desembarcou. Ele afirmou, aos policiais, ser motorista de aplicativo.
“Contudo, o passageiro [Rodnei], que se encontrava no banco da frente, apontou uma arma contra os policiais”, diz trecho do depoimento dos PMs.
Dois sargentos atiraram com fuzis contra o passageiro. Um deles efetuou cinco disparos e o outro, dois.
“O passageiro foi alvejado e permanece [sic] dentro do referido veículo Fiesta”, diz outro trecho do relato.
Mesmo fuzilado, o suspeito “ainda apresentava sinais vitais”, segundo os policiais da Rota. Ele foi encaminhado à Santa Casa de Santos, onde sua morte foi constatada. A arma que o suspeito teria apontado contra os policiais, uma pistola calibre 380, foi encontrada no colo dele, dentro do carro.
Logo após a morte do soldado Samuel Wesley Cosmo, com um tiro no rosto, o secretário Guilherme Derrite foi a Santos para acompanhar a operação em busca do autor do crime, que foi registrado pela câmera corporal usada pelo PM da Rota na ação. Até a publicação desta reportagem, o criminoso não havia sido preso.
Até o momento, sete suspeitos foram mortos em supostas trocas de tiros com PMs, incluindo um rapaz que seria catador de lixo, segundo testemunhas e familiares.
O Metrópoles questionou o secretário Guilherme Derrite sobre a contradição entre a versão relatada por ele nas redes sociais e a dos policiais na delegacia, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.
Ainda na noite desta terça, o texto postado no Instagram do secretário foi sutilmente editado. Em vez de dizer que o suspeito “atirou contra os policiais”, a publicação trazia a informação de que o rapaz morto “fez menção de atirar contra os policiais”.