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Bloco da Cracolândia dribla dispersão do fluxo para sair no Carnaval

Organizado por ativistas e usuários de drogas, bloco de Carnaval da Cracolândia desfila desde 2015; dispersão do fluxo é desafio neste ano

atualizado

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Bloco de carnaval da Cracolândia em SP
1 de 1 Bloco de carnaval da Cracolândia em SP - Foto: Reprodução/Instagram

São Paulo – Nas ruas desde 2015, o bloco de Carnaval da Cracolândia desfila nesta sexta-feira (17/2) tentando se adaptar às mudanças recentes ocorridas no fluxo, como é chamada a concentração a ceú aberto de usuários de crack no centro de São Paulo.

Desde o ano passado, após sucessivas operações policiais, os usuários se espalharam por diferentes pontos do centro da capital paulista, formando “mini fluxos” pela região.

O “Blocolândia” foi idealizado por ativistas, usuários e trabalhadores de equipamentos públicos que atuam no território.

O objetivo é integrar a comunidade ligada à Cracolândia e usar a folia como forma de redução de danos. Em razão da pandemia, o bloco não desfilou nos últimos dois anos.

Bloco da Cracolândia desfila tentando se adaptar às mudanças do fluxo
Blocolândia em 2018

Um dos criadores, o artista e ativista Raphael Escobar afirma que nesse ano “tudo está diferente”.

“O fluxo não existe mais onde ele era. Antes, como era tudo junto, era mais fácil lembrar o pessoal. Como a gente perdeu um pouco os usuários, por conta da dispersão, vai ser meio na sorte”, afirma.

Em entrevista ao Metrópoles, ele explica que, antes, o trajeto se concentrava onde a maior parte dos usuários estava instalada, no entorno da rua Helvétia.

“Como nesse ano as coisas mudaram, a gente se organizou para sair da rua dos Gusmões, ir reto até a Andradas, virar a rua Mauá, quebrar à direita na General Osório e dispersar por lá. Com isso, a gente pega o fluxo da Patriotas, da Triunfo, das Gusmões”, afirma.

Segundo o ativista, o bloco costuma reunir cerca de 200 pessoas nos desfiles. Ele já esteve inscrito no Carnaval oficial da Prefeitura de São Paulo, mas neste ano sairá de forma “independente”.

“Hoje em dia ele não é oficial, mas existe. A gente tira tudo do bolso, tem uma parceria ou outra, mas não é nada muito forte. Esse ano, uma companhia de teatro deu dinheiro para bancar os abadás. Uma ONG parceira deu uma grana para a gente reformar os instrumentos. Mas é ligando, tentanto, porque dinheiro mesmo, a gente não tem”, diz Escobar.

Segundo o organizador, o bloco conta com o apoio de cerca de oito projetos sociais que atuam na Cracolândia.

Bloco da Cracolândia desfila tentando se adaptar às mudanças do fluxo
Blocolândia em 2018

“O bloco mais careta da cidade”

“É uma grande festa onde, diferente do que se pode imaginar, não existem zumbis e todo mundo é bem vindo”. É com essa pitada de ironia que o bloco se apresenta em uma das postagens no perfil oficial do Instagram.

Isso porque, segundo os organizadores, a proposta é que os foliões não utilizem drogas durante o cortejo, ao contrário do que ocorre na maioria dos blocos de rua do Carnaval.

“A gente adora falar que o bloco hoje é o mais careta da cidade de São Paulo. Querendo ou não, o samba ali na Cracolândia funciona como redução de danos. É o único momento que eles têm para sambar e tocar. Então, durante o bloco tem pouca gente usando drogas. Eu te garanto que qualquer bloquinho de 20 pessoas na Vila Madalena tem mais usuário de droga do que o Blocolândia”, afirma Escobar.

 Músicas e fantasias

O esquema de som do Blocolândia funciona na base do improviso e depende da boa vontade de parceiros e das próprias pessoas que atuam no local. Raphael Escobar conta que já teve ano em que foi utilizada uma caminhonete do amigo de um dos organizadores.

No final do ano passado, uma das “marcas” do bloco sofreu um abalo: a prisão de um psiquiatra que atuava como palhaço no local acabou também com a apreensão da bicicleta dele, que até então funcionava como “trio elétrico”.

“Quando a polícia prendeu ele, apreendeu também a bicicleta-som, então, a gente não tem mais ela. Para esse ano, a gente conseguiu uma caixa de som e está tentando um gerador”, afirma.

Bloco da Cracolândia desfila tentando se adaptar às mudanças do fluxo
Blocolândai foi idealizado por ativistas e trabalhadores de equipamentos públicos que atuam na Cracolândia

Sobre os instrumentos, o músico diz que os projetos sociais envolvidos na realização do bloco possuem os elementos básicos para a formação da bateria.

“Nós temos três surdos, quatro caixas, chocalho, tamborim, mas isso é a base para o bloco acontecer. Muitos blocos acabam ajudando também, eles mandam os instrumentos no dia. Teve ano que a gente teve umas 50 pessoas na bateria, graças a essas parcerias”, diz.

Nos primeiros anos do bloco, os projetos realizavam oficinas de costura com os dependentes químicos, que faziam as próprias fantasias.

Na edição de 2023, outro projeto que atua na Cracolândia, o coletivo Tem Sentimento, composto por mulheres trans da região, confeccionou os abadás para a festa.

O Blocolândia sai nesta sexta-feira (17/2), com a concentração marcada para às 14h, na rua dos Gusmões, 43. Confira aqui toda a programação do Carnaval de São Paulo.

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