Bar de dono de Porsche que matou motoboy reabre 9 dias após acidente
Bar Beco do Espeto, do qual Igor Sauceda é sócio, anunciou nas redes sociais que reabrirá nesta quarta (7/8). O empresário permanece preso
atualizado
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São Paulo — O bar Beco do Espeto, do qual o motorista do Porsche que atropelou e matou um motociclista é sócio, anunciou nas redes sociais que vai reabrir nesta quarta-feira (7/8). O estabelecimento, localizado no Itaim Bibi, bairro nobre na zona oeste de São Paulo, estava de portas fechadas desde o dia do acidente, há mais de uma semana.
“Fala meus ‘consagrateds’, chegou a hora mais esperada da semana. Tá no ar mais uma agenda. Bora lá”, diz a publicação.
Após a prisão do empresário Igor Ferreira Sauceda, de 27 anos, o local permaneceu fechado e despertou receio de comércios vizinhos. Uma testemunha disse ao Metrópoles que um grupo de pessoas tentou atear fogo no bar com uma espécie de coquetel molotov.
O ataque seria um protesto pela morte do motociclista Pedro Kaique Ventura, de 21. Ele foi perseguido e atropelado por Sauceda, que conduzia um Porsche amarelo, na Avenida Interlagos. Após uma discussão, os veículos se chocaram contra um poste e ficaram completamente destruídos. O jovem que pilotava a moto foi socorrido, mas não resistiu.
Dolo eventual
Logo após a colisão, Sauceda foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, pela delegada plantonista do 11º Distrito Policial. Naquele momento, a polícia não havia tido acesso às imagens das câmeras de segurança.
Após a divulgação dos vídeos, o delegado titular do caso, Edilzo Lima, do 48º Distrito Policial, mudou a tipificação para homicídio doloso com dolo eventual, quando se assume o risco de matar, e determinou a prisão em flagrante.
Homicídio triplamente qualificado
A Justiça paulista recebeu, nessa terça-feira (6/8), a denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) e tornou réu por homicídio o empresário. Ele vai responder por homicídio doloso triplamente qualificado por motivo fútil, emprego de meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima.
Para o MPSP, “o crime de homicídio foi praticado por motivo fútil, na medida em que Igor deliberou matar Pedro somente porque se irritou com o fato dele ter danificado o seu carro durante uma colisão de trânsito”. Antes do atropelamento, a vítima quebrou o retrovisor do Porsche.
“O crime foi, ainda, praticado com emprego de meio cruel, vez que Igor acelerou o carro que conduzia na direção da motocicleta conduzida pela vítima, a atropelou e arrastou por alguns metros, provocando atroz e desnecessário sofrimento a Pedro, além de revelar brutalidade fora do comum em contraste com o mais elementar sentimento de piedade”, acrescenta o MP.
A denúncia indica que Igor também empregou recurso que dificultou a defesa da vítima, “na medida em que colheu Pedro de forma absolutamente surpreendente e pelas costas, pois o atropelou em alta velocidade e atingiu primeiro a parte de trás de sua motocicleta”.
Choro em audiência
O empresário chorou durante a audiência em que a Justiça determinou sua prisão preventiva na última sexta-feira (2/8). Sauceda se emocionou enquanto seu advogado, Carlos Bobadilla, dizia que o empresário veio de “família humilde” e “não ganhou o Porsche do pai”.
No vídeo da audiência de custódia, ao qual o Metrópoles teve acesso, a juíza faz uma série de questionamentos introdutórios a Igor Sauceda. Quando perguntado sobre sua profissão e remuneração mensal, ele diz ser empresário e ter ganhos mensais de R$ 20 mil. Igor e seu pai são sócios no Beco do Espeto, famoso bar do Itaim Bibi, na zona sul de São Paulo.
Após a manifestação da representante do Ministério Público, que se posiciona de a favor da conversão da prisão em preventiva, o advogado de Igor começa sua sustentação. Carlos Bobadilla afirma que Igor é um rapaz de origem humilde, ao contrário do que, segundo ele, veículos da mídia querem fazer parecer.
“Faz-se necessário ainda, neste contexto da audiência de custódia, aduzir sobre quem é o Igor. Nas reportagens veiculadas em sites, eu cheguei a ouvir que esse rapaz era um rapaz de família rica, que ganhou a Porsche do pai, só mais um moleque que tava com uma Porsche na rua. Isso é mentira!”, afirmou Carlos Bobadilla.
“Igor nasceu no Rio Grande do Sul, com o pai e com o irmão. Igor vem de uma família humilde. […] Seu pai, buscando uma melhora da vida dos filhos, vem para São Paulo quando os filhos têm 12 anos. Igor e o irmão Gabriel, com 13 anos na época, trabalharam em lava jato, para ajudar na renda orçamentária familiar. Após muito tempo, Igor, junto com o pai, amealharam todas as suas economias, e surgiu a oportunidade de abrir um bar na região do Itaim, na rua onde o pai trabalhava como vallet. Felizmente o negócio deu certo”, complementou.
Na gravação, é possível ver Igor caindo nas lágrimas durante a fala do advogado.
Durante a audiência, o advogado também afirmou que Igor Sauceda não teve um ataque de fúria, como afirmou o delegado Edilzo Correia Lima, do 48º Distrito Policial da capital, em entrevista coletiva após prender o empresário em flagrante.
Segundo Carlos Bobadilla, Sauceda sequer perseguiu Pedro Kaique. O que houve, diz o advogado, foi um acidente de trânsito.