Bar, clube e cinema: como ícones da cultura de SP tentam sobreviver
Locais que contribuem para dar “cara” da cultura de SP pedem proteção para não serem engolidos pela especulação imobiliária
atualizado
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São Paulo — Até o início deste ano, um único imóvel de São Paulo havia conquistado o direito de ser protegido por causa da sua importância para a cultura da cidade. Era o Cine Belas Artes, na Rua da Consolação, no centro paulistano, espaço que quase foi fechado por falta de dinheiro, mas acabou sendo “tombado” como bem cultural da capital.
A saída encontrada para proteger o tradicional cinema de rua, inaugurado em 1947 como Cine Ritz, foi convencer a Prefeitura de São Paulo a classificar o terreno como Zona Especial de Preservação Cultural — Áreas de Proteção Cultural (Zepec-APC), prevista no Plano Diretor da cidade desde 2014.
A legislação define que as Zepec-APCs devem ser preservadas por causa do uso ou atividades desenvolvidas no local, de valor afetivo, simbólico, histórico, memorial, paisagístico e artístico. Ou seja, pela contribuição do local à cultura de São Paulo.
A classificação do Belas Artes como Zepec-APC ocorreu em 2016. Porém, neste ano, diante do “boom” imobiliário na cidade, que transforma imóveis térreos em prédios enormes, outros seis locais já buscaram a prefeitura para serem incluídos nessa categoria.
A lista vai de clube de várzea até beco turístico. O processo precisa de aprovação do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp).
O caso mais recente é o do bar Ó do Borogodó, em Pinheiros, na zona oeste, conhecido reduto do samba paulistano há 22 anos. Localizado em uma casa de entrada discreta pela rua Horácio Lane, o estabelecimento funciona no subsolo e recebe shows e apresentações de quarta a domingo.
Como o imóvel é alugado e o proprietário sinalizou a intenção de vendê-lo, desde junho a equipe do “Ó”, como o bar é conhecido, corre atrás do processo de Zepec para evitar fechar as portas.
“A gente está apostando e lutando por isso. O ‘Ó’ é um patrimônio da cidade e a gente quer reconhecer isso. Há uma apreensão imensa de ver mais um lugar antigo e cultural se transformando em nada”, diz Stefania Gola, dona do estabelecimento.
“O ‘Ó’ tem uma casa que abrigou músicos tradicionais e formou uma geração que curte ouvir um samba. É o lugar que recebeu e recebe ainda músicos estrangeiros de todas as partes do mundo”, afirma Stefania ao Metrópoles.
Veja outros locais que almejam virar Zepec para sobreviver
Clube Banespa: Clube dos funcionários do Banespa, banco que já foi do estado de São Paulo, funciona até hoje em Santo Amaro, na zona sul.
Espaço Itaú de Cinema Augusta e Anexo: tradicional cinema da Rua Augusta, famoso por exibir filmes da arte, localizado em dois imóveis, um de frente para o outro. Os donos do imóvel do anexo informaram que venderiam o espaço, o que fez o cinema correr riso de fechar.
Santa Marina Atlético Clube: centenário campo de futebol de várzea na Barra Funda, zona oeste, fica em um terreno que pertence à Saint-Gobain, multinacional francesa de material de construção. A empresa pretendia dar outro uso para o terreno.
Museu da Casa Brasileira: museu voltado à arquitetura e ao design, fica no único casarão existente da Avenida Brigadeiro Faria Lima, no Itaim Bibi, zona oeste. A Fundação Padre Anchieta, dona do imóvel, havia requerido a transferência do museu para outro endereço no começo do ano.
Beco do Batman: uma viela na Vila Madalena, também na zona oeste, famosa por receber grafites de artistas do Brasil e do exterior, que se tornou ponto turístico da cidade.