O bairro de São Paulo onde “a comunidade inteira já pegou dengue”
Na zona oeste da cidade, o bairro da Vila Jaguara tem a maior concentração proporcional de dengue de toda a capital paulista
atualizado
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São Paulo – No bairro com maior incidência de casos de dengue de São Paulo, quem não foi infectado no mínimo conhece alguém que já foi picado pelo Aedes aegypti. Basta andar pelas ruas da Vila Jaguara, na zona oeste da cidade, para ouvir os moradores comentarem sobre a doença.
“A comunidade inteira já pegou”, afirma Rafael da Silva Rodrigues, 34, morador de uma favela que fica no distrito.
Com 1.245 casos confirmados da doença, a Vila Jaguara tem a maior concentração proporcional de dengue de toda a capital paulista: uma incidência de 5.240 infectados a cada 100 mil habitantes.
Há cerca de 15 dias Rafael e o filho entraram para a estatística da Prefeitura. Com sintomas como dor no corpo, febre e cansaço “extremo”, os dois foram diagnosticados com dengue na Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila Jaguara.
Rafael e a esposa, Ingrid Santos Silva, 35, acreditam que o criadouro do mosquito possa estar ao lado da casa deles, em um terreno com mato alto, córrego e acúmulo de lixo, à margem da Rodovia Anhanguera.
“Se não fizer a limpeza da vala, vai parar água ali. [Eles] não cortam os matos, não limpam. A gente é quem limpa”, diz o motorista de aplicativo. Ingrid conta que retirou quatro sacos com lixo do terreno nos últimos dias e reclama da inércia da concessionária CCR AutoBAn, responsável pelo terreno, com relação ao problema.
Em nota ao Metrópoles, a CCR AutoBAn afirmou que a área mencionada será inspecionada na manhã desta terça-feira (19/3) pelas equipes de conservação.
Para tentar se prevenir dos mosquitos enquanto isso a família comprou diferentes frascos de repelente e inseticida, de marcas variadas. Mesmo assim, a filha mais nova do casal estava com febre de 39ºC na manhã desta segunda-feira (18/3) e a família suspeita que seja mais um caso da doença.
UTI
Vizinha de Rafael e Ingrid, Amanda Cristina Silva, 32, viu a vida da família virar de cabeça para baixo nos últimos dias, quando o filho Davi, de 9 anos, foi picado pelo Aedes aegypti.
Ela conta que os primeiros sintomas começaram no dia 9 de março, um sábado. Depois de três dias, a criança piorou significativamente. “Na terça ele já não conseguia andar, tava se arrastando”, diz a mãe.
A família, então, levou Davi para um hospital particular. No primeiro exame de sangue o caso foi classificado como de alerta e o menino acabou sendo levado logo depois para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde passou seis dias internado enquanto via as manchas vermelhas se espalharem pelo corpo.
Após uma melhora no quadro, Davi recebeu alta neste domingo (17/3). “Ele ainda está com as pernas vermelhas, mas bem melhor do que antes”, diz Amanda.
O pai de Davi, Wellington, também testou positivo para a doença e se preparava para voltar ao médico nesta segunda, quando recebeu a reportagem do Metrópoles em casa. “Nunca fiquei desse jeito”, diz. No posto de saúde, dezenas de pessoas aguardavam para ser atendidas relatando sintomas característicos da dengue, como dores nas articulações e “atrás dos olhos”.
Wellington afirma que não viu nenhum agente da Prefeitura entrar na comunidade para fazer campanhas de conscientização sobre o problema.
“O subprefeito foi lá na avenida, fizeram uma média lá. Agora aqui a gente tá abandonado”, diz o mecânico.
O Metrópoles questionou a Prefeitura sobre as ações feitas na Vila Jaguara, mas não foi respondido até a publicação desta reportagem.
Em nota sobre o terreno ao lado da rodovia Anhanguera, a concessionária CCR AutoBAn afirmou que equipes da empresa percorrem diariamente a rodovia com o objetivo de recolher resíduos.
“Em 2023, cerca de 6,5 toneladas por dia de resíduos foram retiradas diariamente das margens das rodovias do Sistema Anhanguera-Bandeirantes”, diz o texto enviado pela concessionária.
A empresa também afirma que realiza campanhas com o intuito de “orientar motoristas e lindeiros sobre o descarte correto de resíduos”.
“A CCR AutoBAn orienta que ao observar o descarte irregular de resíduos na faixa de domínio, entre em contato pelo Disque CCR AutoBAn 0800 055 55 50”, finaliza a nota.
Sintomas da dengue
Os sintomas da dengue podem variar de leves a graves e geralmente aparecem de 4 a 10 dias após a picada do mosquito infectado. As manifestações clínicas incluem:
- Febre alta: a temperatura corporal pode atingir valores significativamente elevados, geralmente acompanhada de calafrios e sudorese intensa;
- Dor de cabeça intensa: a dor é geralmente localizada na região frontal, podendo se estender para os olhos;
- Dores musculares e nas articulações: sensação de desconforto e dor, muitas vezes referida como “quebra ossos”;
- Náuseas e vômitos: podem ocorrer, contribuindo para a desidratação;
- Manchas vermelhas na pele: conhecidas como petéquias, essas manchas podem aparecer em diferentes partes do corpo;
- Fadiga: uma sensação geral de fraqueza e cansaço persistente.
Tratamento
O tratamento da dengue visa aliviar os sintomas e garantir a recuperação do paciente. Algumas medidas recomendadas pelo Ministério da Saúde incluem:
- Hidratação adequada: a ingestão de líquidos é fundamental para prevenir a desidratação, especialmente durante os períodos de febre e vômitos;
- Uso de analgésicos e antitérmicos: medicamentos como paracetamol podem ser utilizados para reduzir a febre e aliviar as dores;
- Repouso: descanso é essencial para permitir que o corpo combata o vírus de maneira mais eficaz;
- Acompanhamento médico: em casos mais graves, é crucial procurar assistência médica para monitoramento e tratamento adequado;
- Evitar automedicação: o uso indiscriminado de alguns medicamentos, como anti-inflamatórios não esteroides (aines) e aspirina, pode agravar o quadro clínico, sendo contraindicado na dengue.
Prevenção da dengue
Além do tratamento, a prevenção da dengue é crucial. Medidas como eliminação de criadouros do mosquito Aedes aegypti, uso de repelentes, telas em janelas e portas, além da conscientização da população sobre a importância dessas práticas, são enfatizadas pelo Ministério da Saúde.