Ato na Paulista testa adesão bolsonarista a Nunes e força de Marçal
Ato na Av. Paulista contra Alexandre de Moraes mostrará como eleitor bolsonarista vai tratar o prefeito Ricardo Nunes, apoiado por Bolsonaro
atualizado
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São Paulo — O ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para este sábado (7/9), na Avenida Paulista, contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), será um grande teste da adesão do bolsonarismo à campanha do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), e da real força do influencer Pablo Marçal (PRTB), adversário do emedebista, entre os eleitores bolsonaristas.
Nunes confirmou presença na manifestação na primeira hora e espera descer do caminhão de som que ficará em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) com uma foto simbólica que transmita aos eleitores conservadores que Bolsonaro está do seu lado na disputa, para além de ter indicado o vice. Mas, entre auxiliares do prefeito, há também o temor de que, em vez dessa imagem, ele acabe vaiado pela multidão, como tem apostado Marçal.
As atenções estarão voltadas para a forma como Bolsonaro vai tratar Nunes diante de seu público e, também, como o eleitor bolsonarista vai receber o prefeito na Paulista. Apesar de o ex-presidente ter aberto a possibilidade para que Marçal também suba no caminhão de som ao seu lado, o candidato do PRTB tem feito mistério sobre sua presença na Paulista e decidiu viajar para El Salvador no meio da semana.
Segundo a pesquisa Datafolha divulgada na última quinta-feira (5/9), 48% dos eleitores do ex-presidente pretendem votar em Marçal, mesmo com Bolsonaro já tendo declarado apoio formal a Nunes. Enquanto o prefeito tem apostado na exposição do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu aliado, o influencer tem investido todas as fichas para atrair os votos bolsonaristas.
Bolsonaro e seus aliados convocaram a manifestação, que deve mais uma vez encher a Avenida Paulista de apoiadores vestidos de verde e amarelo, como ocorreu em fevereiro deste ano, para protestar contra o ministro Alexandre de Moraes, algoz do bolsonarismo, responsável pelas operações que prenderam os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e pela recente suspensão da rede X no Brasil.
Embora não tenha nada contra a figura de Alexandre de Moraes, que foi indicado ao STF pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), seu aliado, Nunes tem ensaiado críticas brandas ao Supremo para justificar sua presença no ato. “Essa manifestação é em defesa do Estado Democrático de Direito”, disse o prefeito em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo na sexta-feira. “Quem tem que avaliar a questão do Alexandre, e qualquer um do STF, é o Senado Federal”.
Movimento de Tarcísio
Nunes vem sendo encorajado a comparecer no protesto por Tarcísio, para quem a reeleição do prefeito é uma prioridade. O governador tem dito que só o emedebista é capaz de derrotar o candidato do PSol, Guilherme Boulos, no segundo turno e que uma eventual vitória de Pablo Marçal seria um “desastre” para a cidade e para o futuro da direita em 2026.
Com bons índices de aprovação nas pesquisas, Tarcísio tenta transferir seu capital político ao prefeito e tem aparecido em várias inserções na propaganda eleitoral de Nunes na TV. Além disso, o governador tem feito ele mesmo intervenções junto a Bolsonaro para tentar convencer o ex-presidente a se engajar na campanha pela reeleição do emedebista.
Na última quinta-feira, por exemplo, o governador fez um bate-e-volta a Brasília para conversar com Bolsonaro e pedir engajamento na campanha. Nunes e Tarcísio ainda esperam o ex-presidente confirmar uma data para gravação de inserções dele ao lado prefeito. Há uma expectativa de que isso ocorra ao longo da próxima semana.
Bolsonaro distante
Porém, Bolsonaro tem tido uma postura errática em relação à campanha do prefeito e apenas se movimenta a favor de Nunes diante de pressões vindas de Tarcísio ou de dirigentes de seu partido, o PL — o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, está proibido de conversar com o ex-chefe do Planalto por causa de uma decisão de Alexandre de Moraes.
Bolsonaro, um dia antes de a campanha eleitoral começar, disse em entrevista a uma rádio do Rio Grande do Norte que Nunes não era seu “candidato ideal”. Na mesma entrevista, chamou Marçal de “inteligente”. Após Tarcísio, Nunes e Mello Araújo acionarem o ex-presidente, seus filhos e até sua mulher, a ex-primeira-dama Michelle, Bolsonaro gravou um vídeo deixando claro que o prefeito era seu candidato na cidade.
O clã Bolsonaro ainda trocou farpas públicas com Marçal, mas na última semana, após Marçal ter disparado nas pesquisas de intenção de voto e até ultrapassado o prefeito numericamente, deixando claro que parte do eleitorado bolsonarista havia migrado para sua candidatura, Bolsonaro divulgou novo vídeo, agora abrindo espaço para influencer ir ao protesto da Paulista.
Na noite de quinta-feira, depois da conversa com Tarcísio sobre o apoio a Nunes, o ex-presidente deu mais um sinal de que não estava empolgado com o prefeito. Ele disse que ainda era “cedo” para se envolver “massivamente” na campanha.
Nunes aguardava, até o fim da tarde de sexta, uma sinalização se teria um encontro com Bolsonaro antes ou depois do ato na Paulista. Ele não sabia sequer se iria ao Palácio dos Bandeirantes para que fosse com Tarcísio e Bolsonaro à Paulista ou se ele iria encontrá-los diretamente na manifestação.
Efeito Marçal
Além do teste sobre a adesão do bolsonarismo ao nome de Nunes, há ainda dúvida sobre a presença de Pablo Marçal na manifestação. Na quinta-feira, o ex-coach embarcou para El Salvador e seus aliados disseram que ele teria uma reunião com o presidente Nayib Bukele, expoente da direita internacional conhecido por sua política de encarceramento em massa — até a noite de sexta, contudo, tal encontro não havia sido divulgado.
Também não havia informação se Marçal retornaria ao Brasil neste sábado a tempo de participar da manifestação bolsonarista na capital paulista — segundo interlocutores, ele também buscava se encontrar com o presidente da Argentina, Javier Milei, e com o ex-presidente americano Donald Trump.
Aliados de Nunes avaliaram que a viagem serviu como pretexto para Marçal evitar se indispor com o ministro Alexandre de Moraes, alvo central do protesto na Paulista. Já o ex-coach disse em entrevista, no começo da semana, que se realmente fosse, o prefeito do MDB seria vaiado pela multidão.