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Atirador do Shopping Morumbi diz que foi torturado pelo PCC na cadeia

Mateus da Costa Meira matou três pessoas e feriu outras quatro após abrir fogo com uma submetralhadora em um cinema de São Paulo

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Fachada de shopping. Recortes de submetralhadora e rosto de rapaz branco, sem barba e cabelo curto - Metrópoles
1 de 1 Fachada de shopping. Recortes de submetralhadora e rosto de rapaz branco, sem barba e cabelo curto - Metrópoles - Foto: Reprodução/TV Globo

São Paulo – Solto do sistema carcerário baiano recentemente, após 25 anos atrás das grades, Mateus da Costa Meira afirmou, em um depoimento obtido pelo Metrópoles, que foi torturada por membros do Primeiro Comando da Capital (PCC), com privação de sono.

Natural da Bahia, ele mudou-se para a capital paulista para estudar medicina, na década de 1990. Em 3 de novembro de 1999, ele entrou em uma sala de cinema do Morumbi Shopping, na Zona Sul de São Paulo, e atirou com uma submetralhadora 9 milímetros.

Ele foi condenado por matar três pessoas e ferir outras quatro. Mateus iniciou sua vida no cárcere em cadeias de São Paulo — berço da maior facção criminosa do Brasil.

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Mateus abriu fogo em sala de cinema de shopping com uma submetralhadora
Crime ocorreu em sala de cinema em shopping da capital paulista
Atirador cumpriu 25 anos no regime fechado
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Arma usada no massacre

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Mateus abriu fogo em sala de cinema de shopping com uma submetralhadora

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Crime ocorreu em sala de cinema em shopping da capital paulista

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Atirador cumpriu 25 anos no regime fechado

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Tortura psicológica

Mateus foi preso em flagrante no dia do crime e, desde então, passou por algumas cadeias paulistas. Em maio de 2016, o assassino falou para duas psiquiatras que, em 2002, membros do PCC iniciaram as torturas psicológicas, não permitindo que o atirador conseguisse dormir. O recurso, segundo Mateus, é chamado na cadeia de “rodagem”.

“Quando fui transferido para [a penitenciária de] Avaré, lá fui submetido a esse processo, pelo pessoal do PCC. Ser ‘rodado’ é você entrar, eles chamam de bagulho. Você entra no bagulho e começa a ser rodado até que você acaba morrendo”, afirmou, segundo laudo ao qual o Metrópoles teve acesso.

Mateus explicou no depoimento que os presidiários o xingavam e faziam barulho a noite inteira para ele não dormir. “Isso agravava meu caso, meu quadro [psicológico]. Todo dia de manhã eu acordava meio aéreo e falava: ‘Não vai ter jeito, eu vou acabar morrendo mesmo’.”

O atirador acrescentou que relatou a situação ao seu psiquiatra, na ocasião, explicando que ficava ouvindo as vozes dos presos, ao ponto de elas não saírem mais de seu inconsciente. “Eles vão com essas vozes, essas vozes, essas vozes, até que essas vozes vão se tornando mentais. Então essas vozes acabam ficando na sua mente e audíveis.”

A tortura fez com que Mateus iniciasse tratamento com uso de medicação, segundo o documento. Mesmo assim, em 2003, quando foi transferido para outro presídio, em Suzano, ainda em São Paulo, ele cortou os braços com uma lâmina. Os ferimentos teriam sido provocados ainda por causa da privação de sono provocada por membros da facção criminosa.

No ano seguinte, Mateus foi condenado a 120 anos e 6 meses de prisão pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). A pena, posteriormente, foi reduzida para 48 anos.

Em 2009, o atirador foi transferido para o sistema carcerário baiano, para ficar mais próximo de seus familiares. Na Penitenciária Lemos Brito, em Salvador, em 2009, Mateus golpeou com uma tesoura a cabeça de Francisco Vidal Lopes, com quem dividia a cela 24. O companheiro de cárcere sobreviveu.

Quebrou costelas do pai

O Metrópoles teve acesso às entrevistas de Mateus à equipe psiquiátrica que o avaliou no decorrer dos 25 anos de detenção, incluindo o tempo em que ele esteve no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Salvador, de onde foi solto na última semana.

Em um trecho, o ex-estudante de medicina afirmou que “alguns problemas começaram” já na adolescência. Na ocasião, ele admitiu que dava socos no braço do pai, que ficava cheio de hematomas.

Mateus contou que, mesmo considerando isso “constrangedor”, não parava. Em uma das vezes, em um golpe rápido, “quebrou três costelas do pai”.

“Na época eu não sentia nada. Hoje eu sinto um remorso muito grande das coisas que fazia, mas na época eu não tinha. Parece que eu não tinha empatia. Eu não tinha noção das coisas.”

Mateus relembrou, ainda, que a relação com os pais “era muito ruim”, ao ponto de eles saírem de casa quando ele estava de férias “porque não o aguentavam”.

Soltura

A decisão que determinou a liberdade de Mateus do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Salvador foi publicada em 18 de setembro deste ano, como revelado pela Folha de S.Paulo.

No parecer, a Justiça citou as novas diretrizes da política antimanicomial, que defendem que a internação é providência excepcional, admissível apenas quando os recursos extra-hospitalares forem insuficientes.

No texto, destacou ainda que os peritos do hospital de custódia baiano concluíram que o ex-aluno de medicina tinha condições de retornar ao convívio social e familiar. Ele deve, para isso, prosseguir com o tratamento psiquiátrico.

A desinternação é valida por um ano, desde que Mateus mantenha bom relacionamento com outras pessoas e permaneça em casa durante a noite. Ele também não pode consumir bebida alcoólica nem frequentar bares ou ambientes com aglomeração.

O TJBA afirmou que o processo está em segredo judicial e, por isso, não iria detalhar a decisão. O Ministério Público da Bahia também foi questionado pelo Metrópoles se iria recorrer para que Mateus voltasse para a cadeia. Por meio de nota, a Promotoria disse que não iria se manifestar, usando o mesmo argumento de segredo de justiça.

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