Conheça a árvore que pode ajudar SP a enfrentar os desafios climáticos
A árvore tipuana pode ajudar a promover a resiliência em SP diante do aquecimento global. Biólogo explica como isso acontece
atualizado
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São Paulo — Estudo da Universidade de São Paulo (USP) revelou que uma árvore estrangeira pode ajudar São Paulo a enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. Segundo os pesquisadores, a Tipuana tipu demonstra tolerância ao estresse, podendo ser bem-sucedida em promover a resiliência da cidade diante do aquecimento global
O trabalho foi feito por um grupo de pesquisa do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP e publicado pela revista Urban Climate. Eles observaram que os anéis de crescimento da tipuana, durante um período de seca extrema e racionamento de recursos hídricos, tiveram um aumento na taxa — o esperado, segundo os cientistas, seria um atraso.
O primeiro autor do artigo, o biólogo Giuliano Maselli Locosselli, conversou com o Metrópoles sobre a árvore e o impacto positivo que a espécie poderá trazer para a capital paulista.
Locosselli relatou que “o estudo mostra o valor das árvores tipuana para as cidades onde elas já foram plantadas e que a resiliência das cidades deve ser promovida por meio da biodiversidade”. Para ele, a tipuana, árvore típica do norte da Argentina e sul da Bolívia, é apenas uma peça dentro do tabuleiro da arborização urbana.
Reflorestamento urbano
A pesquisa aponta que os ambientes urbanos estão sofrendo muito com os extremos de temperatura, com as secas e as ondas de calor devido à aglomeração populacional e ao declínio dos espaços verdes permeáveis. Os biólogos afirmam que o reflorestamento urbano é uma das principais ferramentas para atenuar essas condições. Porém, as espécies precisam ter resistência ao estresse fisiológico dos grandes centros, como São Paulo.
Giuliano explicou que “como a tipuana é uma das três principais espécies na cidade de São Paulo, ela é uma espécie de grande interesse para tentar entender como a gente pode melhorar a arborização e a qualidade da vida na cidade, que é promovida pela arborização.” A escolha da espécie como objeto de estudo se deu porque esta é uma árvore que possui anéis de crescimento, então é possível fazer uma análise retrospectiva dela.
Para o estudo, foram analisadas árvores da espécie no Polo Petroquímico Capuava, em Mauá, na região metropolitana de São Paulo, e no Parque Santa Amélia, na zona leste da capital, de maneira não destrutiva, evitando que as espécies fossem derrubadas. Foi usado um tipo de sonda para retirar amostras de 5 mm do tecido.
Onde estão as tipuanas
Introduzida nas cidades brasileiras a partir da metade do século 20, a tipuana pode ser encontrada em grande parte dos bairros da capital paulista. Segundo ele, as maiores concentrações ficam nas alamedas paralelas à Avenida Paulista, na região central de São Paulo, e em Pinheiros e no Butantã, na zona oeste da cidade.
O pesquisador também destacou as tipuanas do Parque da Independência, onde fica o Museu do Ipiranga. Quando florescem, elas produzem uma flor amarela, que contrastam com as cores da bandeira do Brasil. Segundo ele, se uma árvore da espécie que está no parque cair, outra tem que ser plantada no lugar, por ser um local tombado como patrimônio histórico cultural.
Ao ser questionado se a qualidade do ar nos lugares em que a concentração de Tipuanas é maior, o biólogo explicou que isso se dá com quaisquer tipos de árvores, já que elas “tendem a acumular poluição na casca e nas folhas”.
Locosselli acrescentou uma curiosidade sobre a retenção de poluição da Tipuana tipu: “Nos lugares mais poluídos, a casca dela é praticamente preta, de tanto poluente que ela retém. Já nas regiões menos poluídas, ela tende a ser de um cinza muito claro, porque não tem muita poluição sendo retida”.
O que diz a legislação
A tipuana não está autorizada amplamente para arborização, já que a legislação de São Paulo dá preferência às espécies nativas. O biólogo explicou que, há algum tempo, a plantação de espécies estrangeiras era proibida, o que não é mais o caso. “[A legislação] dá preferência para aquilo que já tinha no lugar e que a gente tenha uma relação cultural. Mas algumas espécies estrangeiras também já fazem parte da cidade, que é o caso da tipuana. Ela tem esse ganho cultural também”, apontou.
O estudo ainda informa que o Cena, em parceria com o Instituto de Matemática e Estatística (IME), da USP, desenvolveu um programa que consegue determinar até que altura a árvore chegará. Com a Escola Politécnica (Poli), também da Universidade de São Paulo, está sendo desenvolvida uma metodologia que se baseia no centro de gravidade da espécie, permitindo um maior controle. Ainda assim, é recomendado que a Tipuana tipu seja plantada em espaços grandes.
Locosselli reitera que, mesmo que a tipuana não possa ser plantada em qualquer lugar da cidade, isso não seria necessariamente um problema porque “no geral, qualquer árvore que você plantar é boa”.
“Árvore certa no lugar certo”
Ele finalizou dando ressalvas sobre as árvores que poderiam ser plantadas para ajudar São Paulo a enfrentar os desafios climáticos: ela não pode ser invasora e é preciso se atentar em plantar “a árvore certa no lugar certo, porque não dá para plantar uma árvore que vai ter um crescimento enorme onde não tem espaço.”
Por fim, o pesquisador acrescentou que “não podemos apostar todas as fichas numa única espécie, já que as espécies produzem diferentes serviços ecossistêmicos e são mais ou menos resilientes a eventos extremos distintos, e juntas elas promovem cidades mais adaptadas às mudanças climáticas.”