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“Aposentado”, Milton Leite prepara dinastia: “Cada um toca um pedaço”

Vereador Milton Leite deixa a Câmara de São Paulo após 28 anos, mas articula para que espólio político fique com filhos e apadrinhados

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1 de 1 Foto colorida do presidente da Câmara de São Paulo, Milton Leite - Metrópoles - Foto: Richard Lourenço/Rede Câmara

São Paulo — Um dos políticos mais poderosos da capital paulista, o vereador Milton Leite (União Brasil), 68 anos, surpreendeu seus pares quando anunciou sua aposentadoria da Câmara Municipal neste ano, após sete mandatos consecutivos. No comando da Casa desde 2021, ele deixa a vida de parlamentar neste mês, depois de 28 anos, mas ainda está longe de abandonar a política paulistana.

Com o pragmatismo que o projetou dentro e fora de São Paulo, Leite prepara sua dinastia para manter influência mesmo sem mandato. Na Câmara, o espólio político será distribuído entre Silvão e Silvinho Leite, dois novatos que trabalharam com ele na Casa e na Subprefeitura do M’Boi Mirim, seu reduto eleitoral, e que foram eleitos pela primeira vez em outubro.

Para eles, o cacique transferiu votos do extremo sul da cidade, R$ 7 milhões em verbas de campanha e o direito ao uso do poderoso sobrenome, mesmo sem parentesco de sangue: “Eles estão no seio da família Leite”, alega. Na prática, é como se um mandato na Câmara tivesse sido dividido em dois. “Cortou no meio e cada um toca um pedaço lá”, brinca.

No União Brasil, partido que comanda com total autonomia na capital paulista, ele prepara o terreno para que os filhos – o deputado federal Alexandre Leite e o deputado estadual Milton Leite Filho – o sucedam a partir de 2027. Depois, afirma, largará a política para tocar sua construtora e pescar, seu hobby favorito.

Leite recebeu a reportagem do Metrópoles nessa quarta-feira (4/12), em seu gabinete na Câmara, para fazer um balanço de sua longa trajetória e falar sobre o cenário político. Ele descarta a possibilidade de ser secretário na nova gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), seu aliado, dizendo que tem “dificuldade em ser mandado”, mas sinaliza que não deve abrir mão do amplo espaço que tem na Prefeitura.

O cacique também pede “coragem” a Nunes para implementar a tarifa zero nos ônibus e nega qualquer envolvimento no suposto esquema de lavagem de dinheiro do PCC em empresas de ônibus investigado pelo Ministério Público (MPSP). “Não conheço o PCC”, diz. Ele também afirma que, ao contrário do que se imagina, não enriqueceu com a política. “Só atrapalhou e só perdi dinheiro”.

Confira a entrevista de Milton Leite ao Metrópoles:

Nesses 28 anos em que foi vereador, quais as principais mudanças na cidade que o senhor considera fruto do seu trabalho na Câmara de São Paulo?

Antes a Câmara e a Prefeitura atuavam mais no centro expandido. Atuei mais na zona sul, com investimentos em obras de infraestrutura, saúde e educação. Colocamos de pé o Hospital do M’Boi Mirim, que nasceu aqui na Câmara, dentro de um movimento que eu liderei, fizemos sistemas viários como o do M’Boi Mirim, o da Avenida Guido Caloi, e o viaduto Marisa Letícia. Desenvolvemos quase 6 mil habitações, algo que não tínhamos antes da minha chegada na política. Comecei a lutar por coisas grandes para as regiões periféricas, como a recuperação dos mananciais de água. Fizemos a lei da Guarapiranga e a lei da Billings.

E o que faltou nesses anos? O senhor queria ter feito algo e não conseguiu?

Olha, falta muito. Em todas as cidades você sempre vai querer mais. Queria melhorar a qualidade de ensino e os cursos profissionalizantes nas regiões mais profundas, desenvolvimento industrial e empresarial nas zonas leste e norte. Gostaria de ter desenvolvido e não consegui, me sinto até um pouco frustrado, a saia da [Serra da] Cantareira, um programa amplo de desenvolvimento e recuperação na margem todinha da Cantareira. Tirar aquela população das áreas irregulares, dar habitação e recuperarmos a área. Briguei com vários governos e pedi para os próximos a mim, os meus parentes, que sigam nessa luta.

Por que a zona sul, seu reduto, ainda tem indicadores baixos de qualidade de vida mesmo com o senhor destinando tantos recursos à região?

Nós estamos melhorando muito. Consegui fazer um hospital de Parelheiros, melhoramos todo o sistema viário, era um bairro grande com esgoto a céu aberto e aquilo virou praticamente um município isolado. Colocamos água e esgoto encanado, demos habitação, canalizamos os córregos, fizemos calçamentos, implementamos iluminação e melhoramos o transporte. Melhoramos também na área esportiva com campos novos. Passa lá e pergunta para o povo.

“Nós tomávamos um cacete do PT nas urnas ali, pode consultar. Em Parelheiros, com o Bruno [Covas], eu empatei com os investimentos. Nessa [eleição de 2024], nós ganhamos.”

Chegou o dia em que a Marta [Suplicy, ex-prefeita e candidata a vice na chapa de Guilherme Boulos nessa eleição] foi para Parelheiros e tomou um choque, o povo se revoltou. Parelheiros antes alagava. Agora, entra no Google Earth e você vai ver. O investimento que fizemos de infraestrutura foi fantástico. Não tinha sinal de internet, de celular, nada. Levamos tudo.

Quando o senhor diz “eu empatei com os investimentos” é porque considera que foi uma vitória pessoal sua?

Foi uma vitória, porque mais do que ninguém, eu briguei pela região. Na primeira eleição do Bruno, nós empatamos lá e depois ganhamos. Agora, com o Ricardo [Nunes], ganhamos com folga. Foi um embate fora do comum que tive de fazer naquela região. A gestão dele [Nunes] tem muitos méritos, ele nunca deixou de investir lá. Ali foi uma parceria minha e dele.

Com a sua aposentadoria, quem que vai cuidar dessa região? O Silvão e o Silvinho?

Eles são dois bons parlamentares e profundos conhecedores da região. Sabem dos problemas, convivem diariamente com isso e têm ciência das soluções. Espero que eles façam um bom trabalho. Eles têm autonomia para tocar.

Pretende manter com eles os funcionários da sua equipe atual? E pretende continuar frequentando a Câmara?

Aí é discricionário deles. Só se houver necessidade de me chamar, eu virei.

O senhor tem uma influência sobre eles…

Não, não tenho. Vocês vão conhecê-los, eles têm personalidades próprias, vão tocar os seus mandatos. Eles estão no seio da família Leite, um grupo político. É óbvio que um vai para lá, para outro gabinete, e vão se organizar entre eles. Vão ficar, provavelmente, no mesmo local de trabalho e continuar tocando dentro das estruturas que a gente detém. Eles sabem da responsabilidade de cada um e se comprometem com a população.

O Milton Leite se dividiu em dois?

Cortou no meio e cada um toca um pedaço lá [risos]. Tem a pastora Sandra também [vereadora eleita pelo União Brasil], não se esqueçam disso.

Então, o senhor se aposentou mas está com dois mandatos agora?

Não, não estou com dois. Eu não vou interferir.

Mas o senhor vai prestar algum tipo de ajuda, já que mencionou serem pessoas do “seio da família Leite”?

É óbvio que nós faremos reuniões políticas sempre que eles solicitarem, discutiremos os problemas. Permaneço na presidência municipal do partido e tenho outros afazeres, mas é óbvio que em toda a oportunidade que tiver, o cidadão tem o direito de pegar o seu vereador e pedir para que façam mais.

O senhor é considerado por muita gente o político mais influente em São Paulo. O senhor se considera assim?

Não, eu acho que falam isso por falar.

E quem é o político mais poderoso, então?

Não sei. Temos vários aqui na cidade de São Paulo. É verdade que nós temos um protagonismo. Ser chefe do Poder Legislativo te dá um espaço para fazer política, talvez pelas boas escolhas dos candidatos a prefeito, o acerto dessas campanhas grandes. Para pegar o [João] Doria com 3% [de intenção de votos], acreditar nele e jogar ele para prefeito [na eleição de 2016] não foi algo fácil.

Com o Ricardo Nunes também?

Não. O Ricardo Nunes já estava sedimentado porque ele vem de três anos de mandato, de vice-prefeito, fez um grande trabalho na periferia. Ele tinha um perfil parecido com o meu nas conversas que tínhamos. Ele dizia para investirmos na periferia para fazer aquilo que o PT não fez, que a esquerda não fez.

O que o senhor considera ter sido a maior falha desse primeiro mandato dele?

Não conseguimos investir o dobro que nós fizemos, porque temos atendido o dobro da população, mas não tínhamos dinheiro. Apesar disso, o reconhecimento da população me parece claro: a mancha vermelha, nós devastamos ela nessa eleição com clareza.

O senhor é o presidente da Câmara da maior cidade da América Latina, todos os setores da sociedade paulistana te procuram, além de banqueiros, políticos e empresários. Nesses sete mandatos, com quem sentiu maior dificuldade de negociar?

Converso bem com todos os setores da sociedade, desde aquele que está com o barraco caindo na beira de um córrego até um banqueiro. Quando fomos conversar com o Jair Bolsonaro (PL), no governo federal, para renegociar dívidas, ele me tratou de uma maneira muito diferente do que vi sair na imprensa. Foi de uma maneira cartesiana, clara. Negociamos com ele, eu e o Ricardo, lado a lado. Com o Campo de Marte, foram R$ 25 bilhões que nós tínhamos de crédito que nunca recebíamos.

O senhor acha que esse acordo seria possível com o governo Lula?

Eles tiveram a oportunidade e não conseguiram. Vou colocar da seguinte forma: o Haddad [Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e atual ministro da Fazenda] tentou e não conseguiu.

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Milton Leite entre Silvão e Silvinho Leite
Vereador Milton Leite (União), presidente da Câmara de São Paulo
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o vereador Milton Leite (União Brasil)
Presidente da Câmara de São Paulo, Milton Leite (União Brasil)
O vereador Milton Leite (União Brasil)
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Vereador Milton Leite (União), presidente da Câmara de São Paulo

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Milton Leite entre Silvão e Silvinho Leite

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Vereador Milton Leite (União), presidente da Câmara de São Paulo

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O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o vereador Milton Leite (União Brasil)

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Presidente da Câmara de São Paulo, Milton Leite (União Brasil)

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O vereador Milton Leite (União Brasil)

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O senhor disse que não pretende ocupar cargos políticos, mas tem vários aliados em órgãos importantes da Prefeitura, no setor de transportes, nas subprefeituras da zona sul. Sem mandato, o senhor vai abrir mão dessa influência?

Se o prefeito quiser manter [os aliados nos cargos], é discricionário dele. Estou deixando a política, vou ficar no partido e fazer essa regra de transição. É natural que um partido que entra em uma campanha proponha um governo de coalizão. Por isso, precisamos defender o prefeito e as propostas dele. É uma forma de se defender, já que ninguém ganha ou perde sozinho. Ele [Nunes] ganhou junto conosco, cada um da sua maneira, com sua modesta participação, mas nós vencemos juntos. É natural que ele aproveite alguns quadros do União Brasil, mas não são indicações pessoais minhas. O União Brasil é grande em São Paulo, tem excepcionais quadros.

“Eu não ficarei com cargo nenhum, nem mesmo dentro do governo do estado. Já houve sondagens para todos os cargos que você possa imaginar, mas eu não aceito. Tenho dificuldade em ser mandado.”

Mas quem manda no União Brasil na cidade é o senhor. Na campanha, quando o Pablo Marçal foi procurar gente do União em Brasília por apoio, disseram a ele que quem resolve em São Paulo é o Milton Leite…

De fato, aqui tem um líder político que ajuda a conduzir o partido e eu estou comprometido com o União Brasil. Preciso fazer mais de 6 deputados federais, meu projeto é para eleger 10 daqui a dois anos. Isso dá um pouco de trabalho, mas a articulação está bem armada para a próxima campanha e as pessoas estão se arrumando no estado, aqui na capital. Depois de 2026, me desligo de vez.

O Marçal tem negociado a sua ida para o União Brasil. O senhor tem participado dessas reuniões?

Eu nunca peguei na mão do Pablo Marçal. Nunca falei com ele, de forma alguma, seja por e-mail, Whatsapp, nem por telepatia. Eu vejo por vocês da imprensa. Se houver negociação, seguramente terei de estar na mesa porque, se ele se filiar em São Paulo, eu preciso participar. Mas até o momento não há.

O que o senhor acha dessa ideia?

Toda e qualquer pessoa que tem potencial de voto pode interessar ao União. Precisa ver o cargo que ele pretende disputar, ver se isso vem em encontro com os nossos aliados. Não é algo simples. Precisa avaliar o momento oportuno, se tem perspectiva eleitoral, qual o cargo, se é algo só em São Paulo ou se remonta Brasil afora. E aí também eu tenho que levar para fora de São Paulo, ver com outros líderes do partido de outros estados.

O senhor já conversou com o Antônio Rueda [presidente nacional do União] sobre isso?

Falo com ele diariamente. Acabei de falar com ele, nós nos falamos o dia inteiro.

Esse flerte com o Marçal pode azedar a relação com o governador Tarcísio por causa da eleição de 2026?

Como eu disse, eu nunca falei com o Pablo Marçal. Vocês acabaram de afirmar aqui que quem fala pelo partido de São Paulo sou eu, mas eu não falei com ele.

Com a fotografia de hoje, como o senhor imagina o cenário para as eleições de 2026 ao governo paulista e à Presidência da República?

Pelo União Brasil vejo o Tarcísio candidato a governador, à reeleição. Nós temos uma boa aliança com ele.

Pretende apoiar o Tarcísio em 2026?

Depende do espaço que a gente vai ter na chapa majoritária. Ele tem sido um grande aliado nosso, ao contrário do que a imprensa tem divulgado, me dou otimamente bem com o Tarcísio. Mas é óbvio que em um momento oportuno eu quero saber que espaço terei na chapa majoritária. Quem teria a vaga para o Senado? O União sempre seria o segundo partido em qualquer chapa desse país. Se o PL estiver, ele é o primeiro, nós estamos em segundo. Se o PL não estiver, nós somos os primeiros. Minha relação com o Tarcísio é excelente e isso facilita o diálogo.

Como o senhor enxerga o fato de o União ter ministérios no governo Lula? Defende uma coligação com o governo atual?

Eu respeito o União e a gente vai tomar essa decisão um pouco mais para frente. O União é um partido nacional, com lideranças de perfis diferentes no Brasil, precisamos conciliar isso, não é uma vontade única que há de prevalecer. É óbvio que na visão dos ministros é mais importante que nós apoiemos o governo Lula, mas para os outros, não. Tem gente que pensa diferente, que não quer de maneira nenhuma. Tenho que respeitar e observar o que vai ocorrer daqui até 2026, como vai ser com a economia. Os partidos políticos vão ficar de olho, basicamente, na economia e na aprovação dos governos. Isso se dará a um ano da eleição, seis meses antes. Qualquer partido que se manifeste antes é um me engana que eu gosto. Como vamos apoiar se a economia estiver, com o perdão da palavra, uma merda? É como se jogar do trigésimo andar de cabeça para baixo.

Como o senhor avalia o governo Lula?

Está indo. Na área econômica podia ir melhor, apresentar um desempenho um pouco melhor, tem que ter mais cortes de gastos. Essa reforma não sai. Não gosto de citar o nome do Haddad porque eu tenho uma boa relação com ele, ao contrário também do que vocês dizem. Tanto que por iniciativa minha, aprovei uma conta dele [da gestão do ex-prefeito] aqui, liguei para ele para contar. Agora, a discórdia é quando falo sobre economia. Sabe qual vai ser o pêndulo nessa questão? Dois anos de governo Trump. Isso vai mexer na economia mundial e nós teremos consequências. Precisamos observar a questão do câmbio, das taxas.

E o fator Bolsonaro? Acredita que ele consegue sair candidato?

Ele é sempre um grande cabo eleitoral em qualquer cidade que esteja. Não sei o que ele pretende. Ele vai falar que é [candidato a] presidente, mas tem uns impeditivos legais que eu prefiro aguardar. Sou um homem cético, prefiro aguardar os tribunais falarem primeiro. Mas acredito que está tomada a decisão dele. Acredito que ele se lançará candidato até ser impugnado, a 30 dias das eleições, e lança um dos Bolsonaro para manter o nome Bolsonaro na urna. A Michelle Bolsonaro é um nome. Mas essa é a minha opinião pessoal. É um jogo de xadrez. Se eu estivesse no lugar dele, eu faria isso.

Nestas eleições o apoio dele ao Nunes foi considerado tímido por muitos aliados. Qual foi o peso do apoio do Bolsonaro?

Ele não participou como o Tarcísio, que teve uma participação expressiva. O Bolsonaro eu não vi. Fez uma campanha mais discreta, meio distante da gente. Não sei se foi um problema de agenda, não sei o que levou a isso, acho que nem caberia muito ele estar aqui dentro. Não entendi muito esse posicionamento, não sei se ele não quis vir. Realmente, ele não veio pra linha de frente. Mas não apaga a gratidão que eu tenho pelos atos dele de ter ajudado a cidade de São Paulo. Vocês não imaginam o que esses R$ 3 bilhões por ano que ele permitiu a cidade ter no seu tesouro, e não ter a dívida a mais, significa para nossa população. É muito expressivo.

Por que o senhor mandou fazer uma faixa “Milton Leite prefeito” em julho deste ano, antes da convenção que definiu a coligação do Ricardo Nunes?

Eu estava no processo de disputa eleitoral. Se fosse necessário, eu sairia candidato.

Pretendia mesmo ser prefeito de São Paulo? Porque o senhor está anunciando a aposentadoria da vida política, mas há cinco meses estava propenso a ser candidato…

Não me furtaria a responder pelo partido que lidero. Se tivesse que ir para o sacrifício, eu iria.

E quais foram os termos desse acordo com o Nunes?

Uma composição ampla e uma presidência da Câmara. Quando sentamos na reunião que tivemos com os presidentes nacionais, ficou claro que ao MDB caberia a chapa majoritária. O Valdemar [Costa Neto] tinha a vice e a instância de poder nossa foi a Câmara pelos quatro anos e com o compromisso de sustentar o prefeito também. Não é uma mão de ida só. O presidente da Câmara, aqui, tem um compromisso firme de apoio ao prefeito, faço questão de ressaltar isso. Nós participamos das propostas, tivemos influência decisiva nos programas, na defesa do Ricardo Nunes.

Quem o senhor considera que seria o melhor nome para a presidência da Câmara a partir do próximo ano?

Um vereador filiado ao União Brasil. Com qualquer um eu estaria feliz, mesmo novato. O sujeito quando se candidata e se elege está em condições de decidir e de presidir. Você imagina um juiz que pega uma vara no interior da cidade de São Paulo, ele não vai dar sentenças porque é a primeira dele? Ele tem que dar. Imagine um cenário em que ninguém é reeleito e você não pode presidir no primeiro mandato. Você imagina? Isso é só um dito popular. O sujeito que se candidata tem que estar apto a exercer as funções.

Uma das tônicas explorada por todas as campanhas nessas eleições foi a infiltração do PCC na política e nos órgãos públicos, seja financiando campanhas, seja conquistando contratos. Várias investigações recentes mostraram isso. Como o senhor enxerga essa questão?

Eu não conheço o PCC. Onde ocorreu o trabalho da polícia? Ela é quem deve acompanhar, investigar e apontar com base em fatos concretos, dar as respostas que a sociedade quer. Tudo isso tem que ser levado aos processos, ao extremo ao rigor da lei. Como é que eu vou fazer juízo de valor daquilo que eu não conheço? Se eu soubesse, teria que, como dever de ofício, denunciar à Justiça. Se não, estaria prevaricando como cidadão, como autoridade política. Onde eu conheço, eu falo. Não tem nenhum problema.

A Neumax, a sua construtora, é suspeita de receber pagamentos da Transwolff, empresa investigada por suposto elo com o PCC, por meio de dois contratos de aluguel. Você nega a existência dos contratos, mas existe um documento com a sua assinatura, inclusive…

O Ministério Público apontou o contrato de locação de um terreno, uma propriedade escriturada em meu nome. Estou recebendo por um contrato limpo, conta a conta, é um aluguel de uma propriedade minha. E a empresa, até onde eu saiba, que é a Transwolff, não tem PCC. Tanto que o proprietário dela [Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora] foi solto.

O senhor foi arrolado como testemunha em um dos processos relativos a esse caso. Chegou a prestar depoimento?

Nunca me chamaram. Eu abri mão do meu sigilo bancário.

As investigações mostram que tem gente da Transwolff que pedia voto para o senhor, que frequentava o seu gabinete.

Pedia mesmo.

Qual é efetivamente a relação do senhor com a empresa? Tem gente que acha que o senhor é sócio oculto da Transwolff.

Eu acho engraçado. Por que eu seria sócio oculto? Não é o meu perfil ter ônibus. Se fosse, era muito mais fácil comprar os ônibus. Eu não tenho ônibus, não tenho motorista. Eu tenho capital, eu tenho dinheiro para fazer isso. As coisas que vocês falam, a conta não fecha. Na sua própria fala, se eu quisesse ser dono da empresa, teria que ter o ônibus. E não ia querer aparecer de sócio por quê? Qual é o crime? Você não tem nada irregular. Prestação de serviço público você pode ter. Diz a Constituição Federal, a Estadual e a Lei Orgânica do Município que você pode participar de atividades públicas, o parlamentar, sempre através de licitação pública. A empresa ganhou. Se eu tivesse participado, estaria lícito. Não há nada irregular. Eu conheço um pouco de leis e não erraria nisso.

O senhor tem um histórico de defesa das empresas de ônibus na Câmara e os bilionários subsídios pagos pela Prefeitura a elas têm crescido a cada ano. Por quê? É só pela manutenção da tarifa congelada?

É óbvio. Se você não quer pagar subsídios, põe a tarifa real. Onde vocês conhecem, aqui nesse país, ônibus melhor do que em São Paulo? A Transwolff, que vocês falam que é a pior, é a melhor transportadora, tem a maior frota limpa, a menor idade média de veículos e a primeira a investir na emissão zero de carbono.

Mas vai ter como manter a tarifa congelada?

É discricionário do Executivo. Eu teria a política tarifária. Já falei publicamente que eu daria a tarifa zero. Tem soluções para financiar. Ainda vou discutir com o prefeito se em algum momento ele quer implementar, tem solução que financiaria tranquilo e não mudaria tanto a meta.

O senhor pode dar um exemplo?

Isso é uma baita fórmula que eu desenvolvi. Vou botar no jornal? Não. Eu vou discutir com o prefeito no momento oportuno. Seguramente, gastaríamos menos. Eu não disse que abro mão da receita. Da tarifa você pode abrir mão, do vale transporte não. A forma de receber eu tenho duas: ou você, cidadão, paga, recebe o vale transporte e vai lá no teu cartão, ou a empresa que te paga pode pagar direto no Tesouro. Essa é uma das saídas. Você pode diminuir o custo da SPTrans, a política de bilhetagem está cara.

“O prefeito tem que ter coragem. Se eu estou na cadeira e me deixam, eu faço. E garanto para vocês que sai mais barato. E daria gratuidade para as empregadas domésticas.”

Saindo da Câmara, o senhor pretende transitar na política interna do Corinthians mesmo depois de ter sido derrotado enquanto candidato a vice-presidente do clube?

Estou fora do Corinthians em definitivo. Permaneço como sócio. O que precisarem de mim, eu colaboro, mas não quero cargo nenhum no Corinthians. Lá tem mais política do que aqui na vida pública.

E o pedido de impeachment do presidente Augusto Melo, o senhor considera um golpe?

Estou observando à distância. Não estou dentro, então não quero opinar. Estou distante.

Pretende doar para ajudar a quitar a dívida da Arena Corinthians?

Sim! E é expressivo o valor. É muito expressivo. Acho que farei [a doação] na semana que vem.

Comunicou o Augusto Melo?

Comuniquei que vou fazer uma doação expressiva. Acho que ninguém doou o valor que vou doar. Eu amo o Corinthians. Isso é uma história, são coisas diferentes. Continuo sócio desde 1977, 1976. Não concorro mais nem a conselheiro. Nesse chamamento da Gaviões da Fiel, faço questão que se publique, farei uma doação altamente expressiva. Eu sofro com o Corinthians. Mas não farei mais política no Corinthians. Lá, como eu não entrei, já paro. Continuo ajudando, assim como continuo ajudando aqui se precisarem. O Ricardo [Nunes], só quando ele me chamar. Não vou ficar me oferecendo, não vou ficar pleiteando. Estou distante.

O senhor disse que vai ficar na política até 2026 ao menos.

Na gestão do partido, transferindo para os meus filhos essa missão.

E depois disso, como vai ocupar o seu tempo?

Vou ocupar o tempo na minha construtora. Tenho vários outros empreendimentos, já vou fazer outras coisas.

De alguma forma, a política te ajudou a ganhar dinheiro?

Só atrapalhou e só perdi dinheiro. Eu não faço obra pública, então nunca me ajudou.

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