Após recape, ciclovia da Rebouças vira “ciclolinha” e irrita ciclistas
Após recapeamento, Prefeitura de São Paulo pintou ciclovia que, em trechos críticos, tem só 22 cm entre grelha do bueiro e faixa delimitador
atualizado
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São Paulo — A ciclovia da Avenida Rebouças, na zona oeste da capital paulista, virou motivo de polêmica. Ciclistas reclamam que a pista ficou estreita demais depois que a Prefeitura de São Paulo fez obra de recapeamento no local. Entre quem pedala, ela ganhou até apelido: “ciclolinha”.
Em alguns trechos críticos, como entre as ruas João Moura e Lisboa, na pista em direção ao bairro de Pinheiros, o ciclista tem apenas uma “tripa” de 22 centímetros de asfalto para passar entre uma grelha de bueiro e a faixa vermelha que delimita a ciclovia implantada pela gestão Ricardo Nunes (MDB), como o Metrópoles comprovou nessa terça-feira (9/5). Ou seja, quem pedala anda na “corda bamba”.
Manual de sinalização feito pela própria Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) determina que ciclofaixas de sentido único, como a da Avenida Rebouças, devem ter largura útil de pelo menos 1 metro.
Também há desnivelamento entre o asfalto novo e a sarjeta, com degrau que favorece o desequilíbrio para quem anda pela cidade sobre duas rodas. Como tachões não foram colocados, ainda é comum ver os veículos motorizados invadindo a ciclovia a todo momento.
A cicloativista e vereadora suplente Renata Falzoni (PSB) afirma que quem pedala pela Rebouças se vê obrigado a passar pela sarjeta, que não foi reformada. “Assim, o ciclista a toda hora vai ter que se afastar de bueiros, buracos e imperfeições ao longo do trajeto”, afirma.
“Se a ciclovia fica muito estreita, você não tem área de escape e pode cair na pista devido às imperfeições da sarjeta”, completa.
Para Renata, o risco de acidentes é grande. “Motoristas, ao seu lado, não estão avisados desse problema e lambem a lateral da ciclovia em alta velocidade. Isso pode desequilibrar o ciclista, que está espremido entre automóveis e sarjeta”, conta.
Segundo Renata, os problemas da Rebouças não são os únicos quando se aborda a questão cicloviária em São Paulo. “Esse estreitamento de pista, somado aos inúmeros trechos de ciclovia que desapareceram devido a esses recapes, mais o fato de que dos 300 km de ciclovias prometidos para essa gestão somente 4 km foram entregues, ilustram bem que estamos numa gestão que não está nem um pouco preocupada com ciclistas, ou mesmo com a mobilidade ativa”, afirma.
Também cicloativista e representante do Bike Zona Oeste, o geólogo Sasha Hart afirma que a ciclovia da Rebouças é extremamente importante. Entre 2019 e 2021, houve um aumento de 181% no número de ciclistas que passam pelo local nos períodos da tarde e da manhã. Trata-se do trajeto mais rápido e direto, por via exclusiva para bicicletas, entre Pinheiros e a região da Avenida Paulista. Boa parte de quem pedala por ali é formada por entregadores de aplicativo.
“Vejo com muita preocupação que a nova sinalização parece não seguir as próprias normas da Prefeitura, que em relação a largura [da ciclovia] deveria ser aumentada para 1,50 metro”, afirma.
Segundo Hart, os pontos mais críticos ganharam até apelido entre quem pedala. “Alguns trechos da ciclofaixa estão tão estreitos que tem sido chamadas de ciclolinha”, afirma. “Esse retrocesso desestimula o uso e causa enorme insegurança. A Prefeitura parece que foi na contramão de cidades modernas”, completa.
Vistoria
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), afirma que não há alterações no projeto original de implantação da ciclofaixa da avenida Rebouças.
“As dimensões atuais da sinalização são as mesmas existentes no local antes do processo de recapeamento. Uma equipe fará vistoria em toda a extensão da ciclofaixa, em ambos os sentidos, para assegurar que a execução da pintura horizontal tenha respeitado o projeto em todos os trechos da ciclofaixa”, disse, em nota.
Segundo a Prefeitura, o Plano de Metas 2021-2024 prevê a implantação de mais 300 km de ciclovias e ciclofaixas. “Destes, 48 km estão em fase de implantação por meio de duas concorrências da Secretaria de Mobilidade e Trânsito (SMT), dos quais 21 km em fase final para entrega”, afirma.
A administração municipal diz que outros 120 km estão em execução por meio da PPP da Habitação e que, em breve, uma nova concorrência será lançada para a construção de mais 260 km de estruturas cicloviárias. “Dessa forma, a gestão reafirma seu compromisso com a expansão da malha cicloviária paulistana, que já é a maior do país com 700 km de extensão”, completa.