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Após prisão de soldado, PMs cobram punição a oficiais: “Hipocrisia”

Policiais militares afirmam que soldado que jogou homem de ponte foi “bode expiatório”, enquanto oficiais são protegidos pela corporação

atualizado

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Tarcísio PMSP
1 de 1 Tarcísio PMSP - Foto: Reprodução

São Paulo — Com uma crise instaurada na Polícia Militar, conforme admitiu o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), PMs de baixa patente cobram igualdade de tratamento em relação a comandantes e oficiais, que, segundo eles, são protegidos pela corporação.

Na semana passada, em meio a uma série de episódios de violência policial, o soldado de 1ª classe Luan Felipe Alves Pereira foi preso preventivamente por jogar de uma ponte um suspeito durante abordagem. Para praças, o PM foi punido como um “bode expiatório”, enquanto superiores envolvidos em escândalos rapidamente retomam as funções.

No último dia 3, o major Jorgio Baltazar de Jesus, do 38º Batalhão, em Jacareí, invadiu uma adega, espancou um funcionário com o cabo de uma enxada, fez uma série de ameaças e destruiu todo o estabelecimento. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse apenas que o PM foi identificado, estava de folga e vai responder na esfera administrativa.

“Será que o governador irá condená-lo nas mídias?”, questionou o influenciador e ex-policial militar Luiz Paulo Madalhano, com 200 mil seguidores em seu perfil no Instagram, que usa para cobrar melhores condições de trabalho para os PMs e critica supostas injustiças.

“A minha revolta no caso do soldado Luan é com a hipocrisia de muitos, que já fizeram inclusive pior e agora ficam pagando de santo, crucificando o policial, entregando ele aos leões para salvar o nome de um, salvar o nome de outro”, afirma o ex-PM.

Segundo Madalhano, há em São Paulo duas polícias militares. A dos oficiais, que são imunes a punições, e a dos praças, em quem “a corda costuma estourar”.

“Eu não estou passando pano não, aquela conduta não está prevista em lugar nenhum. Que seja feio um julgamento justo. Um major de folga que entrou em um estabelecimento e quebrou tudo, não importa a justificativa. Um erro não justifica o outro, mas o major está solto. O capitão que matou um sargento dentro do alojamento está solto. O major que matou o motociclista ‘garupado’ e desarmado está solto”, diz.

Laroca no Comando da PM

O caso mencionado por Madalhano do oficial que matou um sargento no alojamento de um batalhão envolve o capitão Francisco Carlos Laroca Júnior, então comandante de uma companhia do 46º Batalhão Metropolitano, na zona sul da capital.

Um ano e meio após matar com três tiros à queima roupa o sargento Rullian Ricardo da Silva, Laroca atua no Comando Geral da Capital, órgão subordinado ao comandante-geral da corporação, Cássio Araújo de Freitas.

A investigação da Corregedoria da PM sequer foi concluída. O Ministério Público MPSP) também não tomou providências sobre o caso.

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Capitão Telhada, Capitão Laroca e Guilherme Derrite

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A versão do oficial é que ele teria atirado após o sargento apontar uma arma em sua direção. A narrativa é questionada por familiares e colegas de Rullian.

Segundo eles, o sargento estava sendo perseguido havia semanas com sucessivas escalas extras de última hora, como mostram áudios enviados pelo policial a colegas. A gota d’água foi quando, na Páscoa, teve uma folga cassada e foi impedido de viajar para Franca onde encontraria a mãe doente.

“A história que ele contou foi a que todo mundo engoliu. Já faz mais de um ano que a defesa tenta ter acesso a diligências importantes, a uma simulação do ocorrido, feita em setembro do ano passado. Não temos acesso. Estamos cobrando não só a Corregedoria, mas também o Ministério Público”, afirma a advogada da família de Rullian, Pamela Stradiotti.

Anos antes de matar o sargento, em 2023, quando era tenente, Laroca havia sido preso, em Ribeirão Preto, após efetuar diversos disparos em um centro de eventos onde ocorria a formatura de uma turma de Direito. Cinco carros foram atingidos.

O Metrópoles não conseguiu contactar Francisco Carlos Laroca Júnior. Procurada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) não se manifestou até o momento da publicação.

“Fecha a boca, Tarcísio”

Para o ex-policial Samuel Lopes, que também atua como influenciador digital no Instagram, o governador Tarcísio de Freitas errou ao “rifar” Luan Felipe como uma resposta à mídia. Com quase 80 mil seguidores, Lopes diz que o governador se equivocou ao cravar que o soldado será expulso, antes mesmo do julgamento.

“Eu sei que há uma necessidade de dar uma resposta à mídia. Inclusive ele, por ser chefe de Estado, precisa dar essa resposta […], mas fecha a boca”, afirma.

“Eu não sou contra o chefe do estado vir e dizer: ‘Eu não autorizo isso na minha polícia, iremos investigar e o policial receberá punições adequadas’. O que eu sou contra é afirmar: ‘Nós iremos exonerar, iremos demitir’ antes do julgamento”.”

Treinamento “é uma farsa”

Para Luiz Paulo Madalhano, a resposta dada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e pelo comandante-geral da PM, Cássio Araújo de Freitas, às críticas pelos episódios de violência policial são uma farsa.

Em entrevista coletiva na quinta-feira (5/12), Tarcísio reconheceu que “falta treinamento” na corporação.

“Quando a gente começa a ver reiterados descumprimentos desses procedimentos, a gente vê que há de fato transgressão disciplinar, falta de treinamento. São coisas que chocam todo mundo, chocam a gente também. A gente fica extremamente chateado, triste”, afirmou Tarcísio a jornalistas.

O problema, de acordo com Madalhano, é que os treinamentos são implementados durante as folgas dos policiais e consistem, em sua maioria, em videoaulas com pouca aplicação prática.

“A gente até brinca internamente que se amanhã tiver uma ocorrência com uma bomba nuclear, a polícia vai fazer um vídeo de treinamento capacitando o policial para desarmar uma bomba nuclear e vai falar para a imprensa que deu treinamento”, diz o ex-PM.

“Aí, agora o comandante-geral fala que vai colocar outro treinamento. Vai ser outro treinamento que vai vir na folga. Esse treinamento é uma farsa. Ele vai agravar ainda mais o problema. Ele fala que a polícia é bem treinada, mas não é. Ele faz o EAP [Estágio de Atualização Profissional], o exame anual de profissionalismo. Você dá 50 tiros e a maioria é videoaula”, complementa.

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