Após acordo, Justiça encerra processo de mulher que fingia ser médica
Falsa médica Marcela Gouveia, presa em maio deste ano, confessou crime e pagou cinco salários mínimos a entidades protetoras de animais
atualizado
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São Paulo – A farmacêutica presa em flagrante, em maio deste ano, por se passar por médica para receitar tratamentos e realizar procedimentos estéticos firmou um acordo de confissão com o Ministério Público de São Paulo, e o processo sobre o caso foi extinto.
Marcela Castro Gouveia pagou cinco salários mínimos (R$ 6.600) para duas entidades que cuidam de animais abandonados, após reconhecer a denúncia e ser informada sobre as consequências de eventuais novas infrações.
A farmacêutica, proprietária de uma clínica estética em Perdizes, na zona oeste de São Paulo, se aproveitava da semelhança entre seu nome e o de uma médica otorrinolaringologista, para enganar seus clientes. A falsa médica usava o número de registro no Conselho Regional de Medicina da médica verdadeira para carimbar receitas.
Após a prisão, em 30 de maio, Marcela Castro Gouveia pagou fiança de R$ 50 mil e foi solta. O acordo firmado com o MPSP estabelece que o valor seja revertido à médica verdadeira, como forma de indenização.
O Acordo de Não Persecução Penal é admitido pela Justiça em casos em que a pena mínima é inferior a quatro anos e não tenha havido uso de violência. Diante do acordo, a 4ª Vara Criminal de São Paulo extinguiu, no último dia 15, a punibilidade por exercício ilegal da medicina e falsidade ideológica. O caso será arquivado.
Em nota, Marcela Castro Gouveia diz que está retomando as atividades em sua clínica estética: “Dra. Marcela Gouveia, em respeito a todos, esclarece os fatos e agradece imensamente a preocupação e o carinho de suas pacientes e alunas, informando o funcionamento regular das atividades da clínica”.
“Acreditamos que é nosso dever contribuir para a conservação e proteção dos animais, e essa doação é um passo significativo nessa direção. Reconhecemos a importância da atuação dessas instituições na proteção e cuidado dos animais em situações de vulnerabilidade, e esperamos que essa doação possa fazer a diferença em suas atividades”, diz ela sobre o acordo.
Influenciadora digital
O perfil da médica falsa no Instagram tem quase 87 mil seguidores. Nele, ela publicava fotos e vídeos dos tratamentos realizados em sua clínica e trechos de palestras.
Em várias postagens, ela exibe o antes e depois de um paciente que fez um procedimento com ácido hialurônico.
“Narizinho lindo? Temos! A Rinomodelação é um procedimento que exige conhecimento anatômico e destreza do profissional. […] Como evitar as complicações? Não é somente conhecer a anatomia dessa região, mas respeitar a quantidade injetada de ácido hialurônico. É possível executar uma rinomodelação com segurança e efeito estético satisfatório, utilizando técnica segura e, claro, o conhecimento do profissional”, diz a publicação.
“Revolta”
A médica verdadeira, Marcela Gouvea Oliveira, disse ao Metrópoles que ficou revoltada quando descobriu que havia uma mulher usando seu registro profissional para se passar por ela, prescrever medicamentos e pedir exames a pacientes.
“Eu estava torcendo, de verdade, para que fosse mentira, para que ela não carimbasse nada. Porque eu não queria acreditar nisso. Quando eu soube que ela carimbou, deu aquele sentimento de revolta. Você estuda, faz a faculdade, procura dar o melhor atendimento para o paciente, e de repente tem alguém usando seu registro sem um conhecimento maior”, disse Marcela Gouvea.
A verdadeira médica recebeu uma denúncia sobre a “xará” em seu perfil no Instagram, de uma mulher que percebeu uma inconsistência no registro profissional da “falsa médica”.
Com ajuda da polícia, Marcela Gouvea decidiu armar um flagrante para confirmar a denúncia. Ela pediu que uma amiga fosse até a clínica da “falsa médica”, em Perdizes, para uma consulta, acompanhada de uma investigadora.