Após 3 dias, bombeiros encerram combate a incêndio em shopping no Brás
Incêndio no Shopping 25, no Brás, teve início na quarta-feira (30/10). Prejuízo dos lojistas gira em torno de R$ 2 milhões, segundo Alobrás
atualizado
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São Paulo — O Corpo de Bombeiros informou que encerrou “com sucesso”, na manhã deste sábado (2/11), as ações de combate ao incêndio de grandes proporções que atingiu o Shopping 25 no Brás, no centro de São Paulo, na manhã da quarta-feira (30/10). A corporação afirmou que deixou o local seguro e sob responsabilidade do proprietário.
O incêndio teve início por volta das 5h30 dessa quarta e foi controlado no início da tarde do mesmo dia, tendo atingido cerca de 200 pequenas lojas. Segundo a Prefeitura de São Paulo, três pessoas foram encaminhadas a atendimento médico por inalação de fumaça.
O telhado do centro comercial desabou durante o incêndio, mas não havia risco para colapso total da estrutura, segundo a Defesa Civil.
Ao todo, 24 viaturas e 76 bombeiros atuaram no foco do incêndio.
Prejuízo milionário
O Shopping 25 fica na Rua Barão de Ladário, no número 300. A rua é um centro de comércio muito movimentado durante a manhã no Brás, bem próximo à chamada “feira da madrugada”.
Cerca de 250 lojistas do entorno foram afetados pelo incêndio. O presidente da Associação de Lojistas do Brás (Alobrás), Fauze Yunes, acredita que, mesmo com o Feriado de Finados, que acontece neste sábado (2/11), as lojas devem abrir para que os comerciantes possam “correr atrás do prejuízo”.
Segundo ele, os trabalhadores da região próxima ao incêndio perderam em torno de R$ 1,5 a 2 milhões nos dois dias em que as ruas ficaram interditadas para os trabalhos de combate ao fogo.
Fauze, que representa apenas os lojistas de rua, diz que os estabelecimentos que eram vizinhos de parede do shopping foram os mais prejudicados. A estimativa de prejuízo para o bairro inteiro fica em torno de R$ 25 milhões.
Tarcísio anuncia R$ 100 mi em crédito
Em visita ao shopping do Brás nessa sexta-feira (1º/11), o governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que pretende oferecer empréstimos com condições especiais aos comerciantes afetados pelas chamas. “A gente vai disponibilizar R$ 100 milhões nessas duas linhas de crédito com prazo de carência de 12 meses”, disse Tarcísio à imprensa.
Segundo o governador, serão disponibilizados R$ 100 milhões dentro do Desenvolve São Paulo para os comerciantes que tiveram prejuízo financeiro em razão do incêndio. A ideia é que isso ajude os comerciantes a se recuperarem do incidente que interditou por dois dias parte das ruas de um dos principais centros comerciais de São Paulo.
Para a concessão de crédito, Tarcísio disse que serão fornecidas duas linhas de crédito: a primeira, de capital de giro, terá um prazo de 36 meses de pagamento, e a segunda, de investimento, de 60 meses. Além do dinheiro, o governador defendeu o uso de boxes concedidos pela Prefeitura para a realocação de lojistas.
Laudo vencido
O Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) do Shopping 25 estava vencido desde 11 de agosto deste ano. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, no entanto, o certificado de segurança do centro comercial, emitido pelo Contru, foi aprovado em 2022 e é válido até 2027.
Na ocasião do anúncio de R$100 milhões em crédito nessa sexta, Tarcísio estava ao lado do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e os dois foram questionados sobre as condições de fiscalização do centro comercial.
Nunes disse que a região passa por um momento de regularização dos imóveis, ainda em fase de ajustes. Segundo ele, a documentação do shopping estava em fase de recurso, e passaria por um reajuste para que a validade do AVCB acontecesse em conjunto com o certificado de segurança da administração municipal. Ele disse que o espaço não tem permissão para ser reaberto e precisará passar por uma nova avaliação da Prefeitura de São Paulo após uma possível reforma.
Proprietário
O AVCB estava em nome da Maxim Administração e Participações, empresa em nome de Hwu Su Chiu Law, conhecida como Miriam Law, esposa do empresário Law Kin Chong.
Dono do Shopping 25, no Brás, Law Kin Chong ergueu um império de prédios suspeitos de abrigar comércio de produtos contrabandeados em São Paulo. Foi preso duas vezes por contrabando e condenado por tentar subornar um deputado federal para que aliviasse menções ao seu nome em um relatório da CPI da Pirataria no Congresso Nacional.
Aos 60 anos, o empresário é dono de galerias na Rua 25 de Março, no centro de São Paulo, o que lhe conferiu o apelido de “Rei da 25 de Março”. Parte de suas empresas responsáveis por esses imóveis, nas últimas décadas, passou para o nome de sua esposa.
Somente em shoppings administrados pela Maxim, entre 2012 e 2019, fiscalizações da Receita Federal já apreenderam mais de R$ 600 milhões em mercadorias ilegais. Em uma representação contra a empresa e a mulher de Law, agentes afirmaram que, nos shoppings do empresário, vendem-se produtos de alto luxo por valores ínfimos, como R$ 500.
Segundo a Receita, a fórmula para o grupo de Law fugir da responsabilidade pelo material apreendido é alegar ser apenas dona dos prédios e sublocá-los aos comerciantes que ficam em seus boxes. Acontece que agentes do fisco afirmam ter encontrado uma verdadeira “cadeia de falsidade” nos contratos de aluguel, recheados de papéis não reconhecidos por cartórios e assinaturas divergentes de uma mesma pessoa.
Havia até microempreendedor individual responsável pelo aluguel de oito boxes, por R$ 500 mil anuais. Em alguns empreendimentos de Law, mais de 50% dos responsáveis eram chineses e 80% deles vinham de duas cidades específicas do país. Boa parte não tinha sequer registro legal no Brasil.
MPSP abre inquérito
O Ministério Público de São Paulo (MPSP) instaurou um inquérito civil para apurar a causa e a responsabilidade pelo incêndio.
Na portaria, o promotor de Justiça de Habitação e Urbanismo Moacir Tonani Junior indicou a necessidade de se apurar se o imóvel encontrava-se apto para funcionamento, bem como se possuía equipamentos necessários para evitar ou mitigar o incêndio, já que pessoas saíram feridas do local.
Ainda segundo o texto, o fato do AVCB do centro comercial estar vencido é mais um motivo para a instauração de um inquérito.
Tonani Junior ainda sugeriu “a necessidade de se apurar a responsabilidade direta ou indireta pelos fatos, quer pelos exploradores do local, quer pela omissão do Poder Público consistente na omissão de sua fiscalização”.
A suspeita é que o enorme incêndio que destruiu o prédio tenha começado no box, que estava fechado. Vídeo que circulou nas redes sociais mostra uma fumaça saindo de uma das lojas (veja abaixo). Mas a causa do incêndio ainda não foi apurada.