Por que o apoio de funkeiros na eleição de SP causa polêmica nas redes
Debate sobre apoio do movimento funk a candidatos da direita têm gerado leva de comentários nas redes sociais
atualizado
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São Paulo — Publicações de empresários de grandes produtoras de funk do Brasil sobre os candidatos à Prefeitura de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB) têm causado polêmica nas redes sociais.
Desde que Rodrigo Oliveira, dono da GR6, e Henrique Viana, conhecido como Rato e responsável pela Love Funk, compartilharam vídeos com Nunes e Marçal, personalidades ligadas ao gênero musical se manifestaram contra a relação do funk com os candidatos de direita.
MC Hariel foi um dos que se pronunciou sobre o assunto e disse que seus fãs deveriam ter cuidado durante as eleições: “Sou funkeiro com muito orgulho. Amo esse movimento que mudou a minha vida, mas não compactuo e fico triste em ver esse tipo de pessoa tendo abertura tão fácil no nosso movimento”, afirmou.
Publicações sobre o tema também foram feitas por nomes como o influencer Chavoso da USP e os rappers Mano Brown e Djonga.
Mas por que o apoio aos candidatos de direita tem gerado tanta polêmica? O Metrópoles conversou com um cientista político e uma ativista do movimento funk para responder a pergunta.
Direita x esquerda
Um dos fatores que ajudam a explicar os embates é o avanço da direita dentro de um movimento historicamente questionado por políticos conservadores e defendido por progressistas.
O próprio Marçal, hoje apoiado por nomes do funk, fez críticas ao gênero no passado. O influencer disse, em uma palestra, que o funk “destrói toda a base cognitiva dessa geração”.
Apesar disso, o professor Marco Teixeira, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Faculdade Getúlio Vargas (Eaesp-FGV), afirma que a esquerda vem perdendo espaço nos últimos anos nas periferias, lugar onde o funk tem forte influência. “Quando falamos em funk, estamos falando de periferia”, ressalta Marco.
Diretora da Frente Nacional de Mulheres no Funk (FNMF), Renata Prado diz que os apoios de alguns nomes do movimento a candidatos da direita não são surpresa para quem acompanha o cenário. “A gente vê o avanço do neoliberalismo e da direita dentro da periferia”, afirma.
Uma das candidatas a vereadora na capital paulista neste ano, por exemplo, é a mãe do funkeiro MC Gui, Claudia Baronesa (Republicanos). Ela disputa a vaga na Câmara Municipal com um mandato coletivo que inclui o próprio filho como covereador (veja mais aqui). O Republicanos é o mesmo partido do governador do estado Tarcísio de Freitas, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Avanço entre os jovens
Os políticos de direita e extrema direita também têm conquistado espaço entre os mais jovens, faixa etária na qual o funk costuma fazer sucesso. A última pesquisa Datafolha, divulgada no início de agosto, mostra Marçal com vantagem no grupo de eleitores entre 16 e 24 anos.
Citado por 25% dos eleitores que participaram do levantamento, o influencer está seis pontos percentuais a frente do segundo colocado no grupo, o candidato de esquerda Guilherme Boulos (PSol), que marca 19% na mesma faixa etária. Em terceiro lugar aparece Nunes, com 15%.
Marco Teixeira lembra que o avanço da direita entre os jovens tem sido um fenômeno inclusive fora do país. “Você vê o caso da direita na França, por exemplo”, cita o professor.
Renata afirma que nomes da extrema-direita usam um discurso antipolítica para convencer a população mais nova: “Esses jovens foram formados nesse discurso de que política não é interessante”, afirma.
Teixeira afirma, no entanto, que a própria polêmica em torno do tema mostra que a opção pela direita não é uniforme no movimento, opinião também compartilhada por Renata. A diretora da FNMF cita como exemplo a criação recente de uma Frente Parlamentar do Funk na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), por iniciativa da deputada de esquerda Ediane Maria (PSol).
“A prova disso é a articulação da Frente Parlamentar do Funk na Alesp, que é com a organização do movimento funk e com representantes do poder público dispostos a cumprir políticas públicas democráticas para o funk”, diz ela.
O debate sobre o apoio ou não de nomes ligados ao funk aos candidatos de direita e esquerda pode, inclusive, provocar uma mudança de voto entre os eleitores, segundo Teixeira. A abordagem de temas relacionados às eleições por personalidades da música vai levar a “uma politização maior nos critérios de escolha”, diz o especialista.
Ao Metrópoles, a assessoria da GR6 afirmou que a empresa “respeita a opinião individual de seus executivos, colaboradores e artistas”, e que não vai tomar partido na eleição em nenhuma cidade do Brasil.
Nas redes sociais, Rato, da Love Funk, afirmou que a produtora também não declarou apoio a nenhum candidato.
“A Love Funk não vai apoiar ninguém, mas vai abrir as portas pra todo mundo que quiser vir aqui falar pelo que vai fazer pelo funk”, disse o empresário em um vídeo.