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Aos 10 anos, Templo de Salomão consolida “Wall Street religiosa” em SP

Templo de Salomão comemora uma década da sua inaguração na Avenida Celso Garcia, via no centro de SP chamada de “wall street religiosa”

atualizado

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Templo de Salomão iluminado
1 de 1 Templo de Salomão iluminado - Foto: Valentina Moreira/Metrópoles

São Paulo — “Aqui tudo é Universal”, comentou um gari enquanto varria a rua Bresser, no bairro do Brás, região central de São Paulo, na tarde da última segunda-feira (29/7), quando a via estava fechada para a comemoração dos 10 anos de inauguração do Templo de Salomão. A celebração havia começado cinco dias antes e duraria até quarta-feira (31/7), exatamente uma década após a abertura da monumental sede da Igreja Universal do Reino de Deus

Apesar do trânsito interditado e das polêmicas envolvidas na construção do templo, como o uso de um alvará de reforma para erguer um edifício com 100 mil m² em uma área que deveria abrigar moradias populares, ninguém reclama da sua presença. Pelo contrário, a espiritualidade cristã se impõe na região, com o auxílio de dezenas de voluntários da Universal que se espalham pelos 10 quarteirões que separam o templo da estação do Metrô.  

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Templo de Salomão
Voluntários da Igreja Universal orientam caminho até o Templo de Salomão
Igreja Universal mantém filiais em espanhol no Brás para atender imigrantes bolivianos que vivem na região
Igreja católica centenária, Paróquia São João Batista do Brás, fica do lado oposto ao Templo de Salomão na Avenida Celso Garcia
Templo de Salomão
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Rua Doutor Carlos Botelho fechada para comemorações do aniversário do Templo de Salomão

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Voluntários da Igreja Universal orientam caminho até o Templo de Salomão

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Igreja Universal mantém filiais em espanhol no Brás para atender imigrantes bolivianos que vivem na região

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Igreja católica centenária, Paróquia São João Batista do Brás, fica do lado oposto ao Templo de Salomão na Avenida Celso Garcia

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Presidente Jair Bolsonaro visita o Templo de Salomão, ao lado de Edir Macedo

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Bispo Edir Macedo

Instagram/Reprodução
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Templo de Salomão

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“Você vai ao templo? É só seguir reto até encontrar um outro rapaz de colete amarelo”, informou um dos voluntários antes que lhe dirijam a palavra. A simpatia invasiva se repete ao longo do percurso. “É repórter? Então entra para conhecer”, disse um homem à beira das escadas do templo sem ter sido acionado. A exceção na região é achar alguém que não vangloria a igreja.

“Não estou indo agora, mas frequento sim”, disse o garçom José Célio, de 51 anos, com olhos baixos, aparentando sentir vergonha pela resposta. “Às vezes, eu saio daqui tarde, fico cansado e acabo indo para casa. Mas sempre que dá eu vou. Meu patrão também vai”, justificou.

 

O Templo de Salomão é a joia da coroa da Avenida Celso Garcia, via que concentra filiais das principais denominações evangélicas brasileiras, entre elas o Templo Central da Assembleia de Deus, de José Wellington Bezerra da Costa, a Igreja Internacional da Graça de Deus, de R.R. Soares, o Santuário de São Paulo da Reino dos Céus, de Adelino de Carvalho, e a Igreja Bola de Neve, do apóstolo Rinaldo Pereira, conhecido como Rina.

Pela quantidade de igrejas e o dinheiro que ali circula, a Avenida Celso Garcia recebeu o apelido de “Wall Street religiosa” do historiador inglês Perry Anderson, que visitou o local em 2016. Além dos templos em si, são muitas as lojas de artigos religiosos e organizações que mantêm relações com as denominações. No quarteirão atrás do Templo de Salomão, por exemplo, a Universal mantém a sede da Força Jovem Universal, a Escola Bíblica Infantil e a Catedral do Brás, antiga sede da igreja. 

As explicações para a avenida ter se tornado um conglomerado cristão são diversas. Há o fato de a via abrigar uma das igrejas católicas mais antigas da cidade de São Paulo, a centenária Paróquia São João Batista do Brás, cuja importância histórica atravessa o combate à gripe espanhola, entre 1918 e 1920, e os movimentos de resistência à ditadura militar (1964-1985). A região também conta com a Igreja Ortodoxa Grega de São Pedro, fundada em 1950.

Além da tradição cristã, a história do bairro do Brás aponta para o aumento do número de imigrantes a partir da década 1940. Após movimentos de desapropriação de moradores com as construções das estações da l=Linha 3-Vermelha do Metrô, na década de 1970, o bairro passou a simbolizar um local de comércio popular e de abrigo para pessoas recém chegadas a São Paulo.

Com a alta circulação de pessoas e imóveis desocupados, a região se tornou ideal para a fixação das novas denominações pentecostais e neopentecostais emergentes na década de 1990, que transformavam galpões abandonados em igrejas.  

Foi nesse contexto que a Igreja Universal fixou um dos seus primeiros pontos na capital paulista, em um antigo cinema no número 499 da Avenida Celso Garcia. Com a expansão da igreja comandada pelo bispo Edir Macedo, no início dos anos 2000, surgiu a necessidade de erguer construções que representavam o tamanho da igreja e o cinema deu lugar para a Catedral do Brás. 

A ideia do Templo de Salomão surgiu na esteira da construção de megatemplos brasileiros, tendência entre líderes religiosos nos anos 2010. Sua inauguração, em 31 de julho de 2014, contou com a presença das principais autoridades do país à época, como o então prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), o governador Geraldo Alckmin (PSB), a presidente Dilma Rousseff (PT), e o vice Michel Temer (MDB). Erguido em apenas quatro anos, o templo simbolizou o poder e a capacidade de Edir Macedo de unir rivais políticos. 

De lá para cá, o bispo perdeu parte de seu caráter pluripartidário. A Universal se alinhou politicamente ao então presidente Jair Bolsonaro (PL), que passou a ter como aliado o partido Republicanos, ligado à igreja. Com a tomada de lado, o aniversário de dez anos do Templo de Salomão perdeu relevância política: a comemoração só recebeu uma visita surpresa do influenciador Pablo Marçal, pré-candidato à prefeitura de São Paulo pelo PRTB. 

Mas, na região do Brás, a construção ainda impõe respeito. “Quando o templo inaugurou, vieram aqui entregar o convite pra gente. Eu não quis conhecer. Sou cristã, mas não gosto de ir nessa igreja por causa de toda soberba. Quando eu neguei o convite, falaram logo que era coisa do diabo”, lembrou Juliana, de 34 anos.

Na loja de lingerie em que ela trabalha como atendente, assim como em outros comércios da região, a trilha sonora que toca é o louvor. Ela nega que exista alguma discriminação contra não cristãos, mas pediu para não ter o sobrenome identificado. “Meu patrão vai ao templo, não sei se ele vai gostar de saber que eu estou falando essas coisas”, completou. 

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