Antes e depois: a transformação de São Paulo em imagens; confira
Fotografias históricas de nove pontos da capital ajudam a entender como São Paulo se tornou a cidade mais importante do país
atualizado
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São Paulo — A transformação da cidade de São Paulo, que hoje completa 470 anos, pode ser conferida por meio das imagens de endereços históricos ao longo dos séculos.
As mudanças em locais como a Avenida Paulista (foto de destaque, em 1920) , o Teatro Municipal e a Estação da Luz ajudam a entender o processo que levou São Paulo a se tornar a mais populosa e importante cidade do país.
Para viabilizar as comparações entre o antes e o depois de nove locais da capital, o Metrópoles recorreu a diferentes acervos e bancos de imagens. Ficam registrados especiais agradecimentos, pela cessão de fotos, ao Instituto Moreira Salles (IMS), Fundação Energia e Saneamento, site São Paulo Antiga e São Paulo Turismo (SPTuris).
Avenida Paulista
Cartão-postal máximo de São Paulo, a Avenida Paulista foi inaugurada em 8 de dezembro de 1891, ainda sem construções, mas cercada de árvores como magnólias e plátanos. Ela surgiu para estender os limites de uma região central que, naquele tempo, já dava sinais de esgotamento.
Seu idealizador foi o engenheiro uruguaio Joaquim Eugênio de Lima, que morava na capital e era casado com uma brasileira. Por ali, circulavam bondes puxados a burro, cavaleiros e carruagens.
Naquele tempo, a Paulista era a avenida mais larga e imponente da cidade, uma São Paulo que já contava com cerca de 100 mil habitantes. Em 1909, foi também a primeira via a receber asfalto. Um dos endereços mais tradicionais da avenida, o Conjunto Nacional começou a ser construído em 1952 e marca o momento em que a Paulista deixa de ser uma avenida residencial.
Com pouco menos de três quilômetros de extensão, a Paulista é, hoje, a mais famosa e icônica via da capital. Por ela, circulam diariamente cerca de 1,5 milhão de pessoas e 90 mil veículos.
Além disso, abriga mais de 150 edifícios, 17 centros culturais, quatro shoppings e pode ser acessada por três estações de metrô: a Consolação, a Trianon-Masp e a Brigadeiro, todas da Linha 2-Verde.
Vale do Anhangabaú
Durante os séculos 19 e 20, o Vale do Anhangabaú foi área para plantação de chá, parque em estilo europeu e avenida para carros. Com a construção dos túneis, o local se tornou um parque urbano.
Na foto abaixo, a vista do Anhangabaú em 1911, pouco antes da inauguração do Teatro Municipal. Nessa época, o rio que ali existia foi canalizado e toda a área foi ajardinada. O espaço se tornou um divisor entre o centro novo e velho de São Paulo.
Em uma reforma em 1940, foram criadas ligações subterrâneas às Praças Ramos de Azevedo e Patriarca (onde hoje está a Galeria Prestes Maia). Foi nesse período que o parque deu lugar a uma avenida, que cortava o fundo do vale e fazia a ligação norte-sul da cidade.
Em 1991, os carros foram deslocados para os túneis e foi criada uma espécie de laje, sobre a qual foi instalado um parque. A partir daí, o espaço voltou a receber pedestres e shows, com a montagem do palco embaixo do Viaduto do Chá.
Um novo projeto, já neste século, aumentou a área de pedestres e tem áreas planas e acessíveis para pessoas com baixa mobilidade. A ligação da Avenida São João, que antes era interrompida por um chafariz abandonado, agora é contínua.
Teatro Municipal
Em 12 de setembro de 1911, com a ópera de Hamlet, de Ambrósio Thomas, era inaugurado um dos mais belos espaços culturais da cidade de São Paulo. O Theatro Municipal embalava os sonhos de uma cidade que crescia com a indústria e o café e que se espelhava nos grandes centros culturais do mundo naquele início de século.
Imponente e rebuscado, idealizado nos moldes do teatro da Ópera de Paris, o Theatro foi construído para satisfazer os parâmetros europeus de cultura da então aristocracia cafeeira. Os novos ricos queriam melhorar o nível da cidade e apagar as características de vilarejo de seu recente passado.
O espaço colocou São Paulo na rota das grandes óperas internacionais, que antes só se apresentavam na cidade do Rio de Janeiro. Em 1922, um evento mudou o rumo e a história de São Paulo e do Theatro Municipal: a Semana de Arte Moderna, um dos mais importantes acontecimentos artísticos brasileiros.
No evento histórico, grandes nomes da literatura, das artes plásticas e da música nacional estiveram no local, tais como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfati e Villa Lobos.
Hoje, o Teatro Municipal ainda traz eventos e apresentações nacionais e internacionais. Além disso, o centenário espaço coordena escolas de música e dança. Alguns de seus corpos estáveis são a Orquestra Sinfônica Municipal, Orquestra Experimental de Repertório, Balé da Cidade de São Paulo, Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, Coral Lírico e o Coral Paulistano.
Estação da Luz
Construída em 1867, a Estação da Luz foi o primeiro terminal ferroviário da The São Paulo Railway. A ferrovia ligava o porto de Santos a Jundiaí para escoar, principalmente, as mercadorias provenientes da economia cafeeira.
Dez anos depois, suas linhas e instalações não mais comportavam o movimento de passageiros e cargas. A partir daí, um novo projeto foi desenvolvido para a estação, que ocuparia uma área aproximada de 7.500 m² e seria construída em material exclusivamente importado da Inglaterra.
Construída em alvenaria de tijolos combinada a estruturas metálicas, a nova estação foi inaugurada em 1901. Após incêndio ocorrido em 1946, introduziu-se mais um pavimento numa das alas do edifício principal.
O edifício foi restaurado e passou a abrigar, além da estação ferroviária, o Museu da Língua Portuguesa, inaugurado em 20 de março de 2006 — o museu também foi alvo de um incêndio em 2015 e ficou seis anos fechados para obras. A reinauguração aconteceu no dia 31 de julho de 2021.
Pátio do Colégio
Marco inicial do nascimento de São Paulo, o Pátio do Colégio foi o local escolhido para iniciar a catequização dos indígenas. Em 25 de janeiro de 1554 — há 470 anos —, foi realizada, diante de uma cabana coberta de folhas de palmeira de cerca de 90m², a missa que oficializou o nascimento do colégio jesuíta.
As duas imagens abaixo revelam a transformação no centro de São Paulo em quase um século de distância. Na primeira imagem, de 1927, é possível ver as construções governamentais do Largo do Palácio — sendo a mais importante delas o Palácio do Governo.
A segunda imagem, que é dos tempos atuais, mostra o local praticamente no mesmo ângulo. A fotografia traz o Pátio do Colégio, reconstruído após a demolição do palácio. Ao fundo, estão os prédios das secretarias estaduais, únicas construções da época do Palácio do Governo que permaneceram.
Cruzamento das avenidas Ipiranga e São João
Promovida à condição de avenida em 1934, a Ipiranga em 1936 (primeira foto abaixo) era uma via estreita. A duplicação começou anos mais tarde, com a demolição de dezenas de edificações para seu alargamento. Ao fundo, é possível ver o Edifício Martinelli ainda isolado — na foto mais recente, ele aparece timidamente ao lado do Edifício Altino Arantes (Farol Santander).
Quando o Altino Arantes foi construído, em 1947, foi comparado ao Empire State Building, de Nova York, nos Estados Unidos. Naquela época, com 40 andares, era o prédio mais alto de São Paulo.
A segunda foto, atual, mostra que o leito da Avenida Ipiranga fica exatamente onde os imóveis comerciais assobradados do lado direito da foto foram demolidos. No lado esquerdo também foi demolida a área onde os veículos da foto antiga estão estacionados.
Avenida Pompeia
Em abril de 1914, a Companhia Urbana Predial anunciava o loteamento que daria origem à Vila Pompeia, na zona oeste da capital. O bairro foi construído principalmente por imigrantes que chegaram ao Brasil no início do século 20.
Na época, italianos, portugueses, espanhóis, japoneses e alemães eram atraídos para o trabalho assalariado nas indústrias que surgiam na região, como a Companhia Melhoramentos, a Santa Marina e as Indústrias Matarazzo.
A avenida Pompeia passou a fazer parte do circuito de vias principais da cidade. Na foto abaixo, de 1972, é possível ver que a movimentada avenida mantinha o córrego aberto. Também era possível ver o posto de gasolina (lado direito da imagem) que existe até hoje. Naquela época, uma parte da via já era duplicada, embora coberta por paralelepípedos.
Na foto tirada no mesmo local em 2020, é possível ver que a casa da direita foi demolida para o alargamento da avenida. O córrego já não existe mais e o número de prédios no horizonte aumentou consideravelmente.
Rua Turiassu
Com cerca de três quilômetros de extensão, a Rua Turiassu, em Perdizes, zona oeste da cidade, foi fundada em 1897, sendo a primeira via do bairro a receber um nome indígena, uma marca da região.
Uma imagem histórica proveniente de um anuário de obras da Prefeitura de São Paulo mostra a aplicação de novo calçamento da Rua Turiassu, no cruzamento com a Rua Itapicuru, em Perdizes, em 1928.
A imagem antiga flagra operários colocando na via paralelepípedos, que estão empilhados ao fundo. Os trabalhos também incluem a instalação de guias e o nivelamento dos terrenos, segundo o anuário.
Na foto atual, os paralelepípedos deram lugar ao asfalto, mas é possível observar que algumas construções ainda permanecem na região.
Escola Politécnica
Fundada em 1893, a Escola Politécnica foi criada antes da própria Universidade de São Paulo (USP) — que só abriria as portas 41 anos depois, em 1934, também num 25 de janeiro, há exatos 90 anos. Na época, a Poli integrou o esforço do governo em oferecer uma universidade pública à população.
Dirigida por Antônio Francisco de Paula Souza, engenheiro formado na Alemanha e na Suíça, a Poli se baseou no modelo da Politécnica de Zurique, a ETH Zürich, instituição de excelência na área até hoje.
Na época, a escola oferecia três cursos de engenharia: civil, industrial e agrícola. Além disso, era ministrado o curso anexo de artes mecânicas.
Atualmente, a USP é considerada a melhor universidade brasileira da América Latina. A Poli, por sua vez, é referência nacional em engenharia. A escola oferece 17 cursos de graduação, agrupados em quatro grandes áreas da engenharia: civil, elétrica, mecânica e química.
A unidade da Cidade Universitária possui, ao todo, 152.525m² de extensão, dividida em 26 prédios, inúmeros laboratórios, salas de aula e bibliotecas.