Amiga diz que empresário de Porsche ingeriu drink e estava “alterado”
Empresário Fernando Sastre Filho foi indiciado por homicídio por bater com seu Porsche e causar a morte de um motorista de aplicativo em SP
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo — A namorada do amigo que estava no Porsche do empresário Fernando Sastre Filho, de 24 anos, que foi indiciado por provocar um acidente que matou o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, 52, disse em depoimento à polícia que o grupo havia ingerido “alguns drinks” durante o jantar e que o empresário estava “um pouco alterado” minutos antes da colisão.
Na condição de testemunha, Juliana de Toledo Simões, de 22 anos, relatou que ela, o namorado, Fernando Filho e a namorada dele foram jantar em um restaurante, onde todos teriam bebido. Depois, o grupo se divertiu em uma casa de poker, que funciona no modelo “open bar”, no Tatuapé, na zona leste da capital paulista. No entanto, ela afirmou não se lembrar se Fernando Filho bebeu lá.
Já na saída da casa de poker, o empresário e a namorada discutiram, segundo a amiga depôs no 30º Distrito Policial (Tatuapé), responsável pelo caso. O motivo do bate-boca era que a namorada do empresário não queria que ele dirigisse o Porsche.
Nessa hora, Fernando Filho estaria “um pouco alterado”, de acordo com Juliana. O casal não chegou em acordo e Fernando Filho, que não queria que outra pessoa dirigisse o seu Porsche, entrou no veículo com o amigo Marcus Vinícius Machado Rocha, o namorado de Juliana. Já a testemunha e a namorada do empresário seguiram em outro carro, um Audi Q5.
Batida
A testemunha afirmou, ainda, que o plano era ir até a residência do empresário, deixá-lo lá e depois todos voltariam para suas respectivas casas. No Audi Q5, ela e amiga teriam comentado que Fernando Filho estava “indo de boa”, mas o empresário decidiu acelerar e as duas o perderam de vista.
Ao perceber que o Porsche seguia em “rumo oposto”, Juliana chegou a ligar para o namorado que “atendeu com a voz muito fraca” e disse ter “sofrido um acidente”. Em seguida, as duas foram até o lugar da batida.
A testemunha afirmou ter visto Fernando Filho sair do carro de luxo e sentar no chão “em estado de choque”. Também disse que o namorado desceu do veículo caiu no chão, alegando “sentir muitas dores”.
À polícia, Juliana disse que tentou ajudar no socorro de Ornaldo, iluminando o veículo com a luz do seu celular, mas voltou a prestar atendimento para o namorado e para o amigo porque já havia outras pessoas atendendo o motorista de aplicativo. Ela também alegou que chamou a ambulância.
Indiciado
A batida aconteceu por volta das 2h20, na Avenida Salim Farah Maluf, na madrugada de domingo (31/1) e foi flagrada por câmeras de segurança. Vítima da colisão, o motorista de aplicativo chegou a ser socorrido, já em quadro de parada cardiorrespiratória, e morreu 1 hora depois por perder muito sangue.
No interrogatório, Fernando Filho admitiu que dirigia o Porsche “um pouco” acima do limite de velocidade, negou ter bebido e disse que, após a colisão, “apagou” e só retomou a consciência quando estava “deitado na via pública”. Também afirmou que está “amargamente arrependido”.
Aos policiais, o empresário relatou que tinha ido com um amigo para um clube de poker, no Tatuapé, onde ficou por cerca de 3 horas. Ele, que recebeu ajuda da mãe para fugir do local do acidente, sem fazer teste de bafômetro, também disse não se recordar como ela foi socorrê-lo.
O relato é contestado por outras pessoas que viram a colisão. Segundo testemunha, Fernando Sastre Filho apresentava sinais de embriaguez, com a voz pastosa e cambaleando, e não ofereceu ajuda a Ornaldo.
Ele foi indiciado por homicídio com dolo eventual, lesão corporal e fuga do local do acidente. A Polícia Civil chegou a representar pela prisão temporária do empresário, mas o pedido foi negado pela Justiça paulista.
Namorada
No inquérito, uma testemunha relata que, durante o socorro, um carro, cujo modelo não soube especificar, chegou a parar no local, e duas garotas desembarcaram. Uma delas teria se apresentado como namorada de Fernando Filho.
Ainda segundo a testemunha, nesse meio-tempo, o celular do empresário tocou, e um rapaz que ajudou Fernando a sair do Porsche atendeu à ligação e conversou com a mãe de Fernando, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, 45, sobre o acidente.
Até a chegada de Daniela, a suposta namorada e a outra jovem tentaram tirar do local Fernando e o amigo dele, que também ocupava o Porsche e se feriu, segundo a testemunha. A postura das moças foi contestada por outras pessoas que presenciaram o acidente. “Eles só vão sair daqui após o outro motorista [Ornaldo] ser atendido pelo resgate.”
Mãe “alterada”
Daniela Cristina chegou “alterada” ao local do acidente, ainda antes dos socorristas, segundo a testemunha.
A testemunha também diz que a principal preocupação da familiar e das jovens era ajudar Fernando “a se evadir”. Segundo seu depoimento, “em nenhum momento” as duas garotas ou a mãe do empresário “prestaram qualquer tipo de atenção ao socorro para a vítima do Renault”.
A mãe do empresário, como mostrado pelo Metrópoles, deve ser indiciada pela Polícia Civil por fraude processual, porque ela inviabilizou que o empresário fosse submetido a exames toxicológicos.
A informação foi confirmada na manhã dessa quarta-feira (3/4), em sigilo, por fontes policiais que acompanham o caso.
Sem ir ao hospital
Como mostrado pelo Metrópoles, a mãe de Fernando foi até o local do acidente e disse aos policiais militares que atenderam a ocorrência que ia levar o filho para o Hospital São Luiz no Ibirapuera, na zona sul.
Os PMs liberaram os dois e depois foram à unidade de saúde com o intuito de realizar o exame de bafômetro no empresário. No local, foram informados de que Fernando não havia dado entrada em nenhum hospital da rede.
Além de liberar o suspeito, os PMs demoraram cerca de 5 horas para apresentar a ocorrência na delegacia. A conduta é investigada internamente pela corporação.
No depoimento, Fernando Filho admitiu que, de fato, não foi para nenhum hospital. Ele disse que sua mãe o levou para casa, onde repousou. Depois, ela alegou que tinha recebido ameaças pelo celular, sem especificar de quem, e que achou melhor não buscar atendimento médico para o filho.