Ameaça a vizinhos e demissão de estatal: quem é o 1º condenado do 8/1
Ex-funcionário da Sabesp, Aécio Lucio da Costa Pereira foi acusado por moradores de prédio na Grande SP de fazer ameças de tom político
atualizado
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São Paulo – Primeiro réu condenado pelos atos golpistas de 8 de janeiro, Aécio Lucio da Costa Pereira (foto em destaque), de 51 anos, é morador de Diadema, na Grande São Paulo, foi síndico do prédio onde reside e acusado de ameaças por vizinhos do condomínio por causa do apoio deles à candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.
Nesta quinta-feira (14/9), Aécio foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 17 anos de prisão, por cinco crimes relacionados à invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em janeiro. Ex-funcionário da Sabesp, companhia de saneamento básico, ele foi demitido da estatal por ter participado do quebra-quebra em Brasília, para onde foi ao lado de amigos que estavam acampados em frente ao Exército em São Paulo.
A participação dele nos atos golpistas é indiscutível. Ele mesmo se filmou dentro do Senado. “Amigos da Sabesp, quem acreditou, tô aqui. Quem não acreditou, também tô aqui por vocês. Olha onde estou, na mesa do presidente”, disse, na ocasião. Com ele, foi apreendido um celular.
Entre os crimes pelos quais foi condenado, estão associação criminosa armada, golpe de estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), Aécio “tentou, com emprego de violência e grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos Poderes Constitucionais, bem como depor o governo legitimamente constituído, buscando a tornada do poder por militares e a implantação de uma ditadura, porque contrário ao resultado do pleito eleitoral de 2022 e por não confiar na apuração dos votos”.
Ele foi detido ainda dentro do Congresso. À Polícia Federal (PF), o homem disse que havia chegado a Brasília naquela manhã, a convite de amigos que estavam no QG do Exército no Ibirapuera. Ele doou R$ 380 ao grupo “Patriotas”, que fretou o ônibus que o levou a Brasília, e chegou por volta das 10h da manhã do dia 8. Disse que estava lá para “lutar pela liberdade”, mas não sabia dizer se, para alcançá-la, seria necessário depor Lula. Ele negou ter danificado as dependências do Congresso.
Além da prisão, a primeira consequência da participação nos atos de 8 de janeiro para Aécio foi a demissão por justa causa da Sabesp. No condomínio onde morava, em São Paulo, ele já tinha um histórico de confusões que foram parar na Polícia Civil. Pelo menos três vizinhos fizeram boletins de ocorrência contra ele.
Ameaças a vizinhos
Segundo relataram vizinhos, ele tinha o hábito de acossar, pessoalmente e pela internet, quem estivesse devendo condomínios e brigava por questões relacionadas ao dia a dia do prédio. Uma moradora relatou à polícia que vinha sendo “perseguida” por Aécio e que era chamada de “devedora” por ele quando se encontravam na rua. Ela disse à polícia que Aécio ameaçava cortar a água dos moradores inadimplentes.
Nessas brigas, também havia componente político. Uma moradora afirmou que, após o segundo turno das eleições de 2022, recebeu mensagens de áudio e texto pelo WhatsApp nas quais Aécio dizia que, se ela aparecesse no prédio, “seria morta, porque todo comunista merece morrer”.
“Comunista analfabeto”
Outro morador do condomínio teve desentendimento com o ex-síndico em razão de problemas com a instalação de energia elétrica em seu apartamento. Em uma ação contra o condomínio, ele exibiu um vídeo atribuído a Aécio em que o então síndico lhe chamava de “bixa”. “Aqui, Wando Bixa, com x, porque todo comunista é analfabeto”, disse Aécio no vídeo.
Mesmo para se defender da acusação feita pela PGR, Aécio escolheu o ataque. Contratou o desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) Sebastião Coelho, que advoga desde 2023. Ele esteve em frente ao QG do Exército em Brasília na época dos acampamentos e chegou a dizer no local que a solução era “prender Alexandre de Moraes” por “cometer crimes”.
Durante sua sustentação oral em nome da defesa de Aécio, o ex-magistrado voltou a atacar ministros do STF. Disse que eram as “pessoas mais odiadas do país”. E ainda usou o espaço para se dizer perseguido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Recebeu uma resposta dura do relator Alexandre de Moraes e viu seu cliente ser condenado.