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Alvo de enchentes, bairro nobre ergueu prédios no lugar de um piscinão

Projeto de 2011 para construir piscinão no bairro de Moema, onde idosa morreu na enchente, não saiu do papel; local virou condomínio

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Reprodução/Google Maps
Imagem da rua Gaivota, em Moema (SP)
1 de 1 Imagem da rua Gaivota, em Moema (SP) - Foto: Reprodução/Google Maps

São Paulo – Local da tragédia na qual uma idosa de 88 anos morreu dentro do carro em uma inundação, o bairro de Moema, na zona sul de São Paulo, lida recorrentemente com enchentes. No entanto, a área que projetada para abrigar um piscinão na região, com potencial para conter as cheias e reduzir os estragos causados pelas chuvas, deu espaço para a construção de um condomínio residencial de alto padrão.

Desde 2011, estava prevista a implantação de um reservatório com capacidade de 50 mil m³ na esquina entre as ruas Gaivota e Ibijaú, um dos pontos mais críticos do bairro — foi na Rua Gaivota que Nayde Capellane morreu na última quarta-feira (8/3), após seu carro ficar submerso na enchente. De acordo com a Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), o projeto não saiu do papel por falta de recursos.

O plano do piscinão consta do caderno de drenagem da bacia do córrego Uberaba, onde se localiza Moema, bairro nobre da zona sul paulistana. O documento apresenta um panorama geral da bacia hidrográfica e reúne estudos para reduzir os danos com enchentes. Um dos dados indicados pela pasta é de que 41% da bacia é composta por áreas de risco alto ou muito alto para inundações.

Condomínio construído em esquina polêmica

A esquina das ruas Gaivota e Ibijaú é cortada, por baixo da terra, pelo córrego Uberabinha. Isso não impediu que um condomínio de alto padrão fosse construído exatamente no ponto em que a secretaria pretendia implementar um piscinão. O Metrópoles buscou contato com a Tegra, construtora que entregou o conjunto em 2018, que disse desconhecer o projeto do reservatório.

“A Tegra informa que o residencial Praça Gaivota, em Moema, está regularizado na prefeitura e recebeu o Habite-se em março de 2019, documento que ratifica a completa regularidade de seus projetos, autorizações e licenças, inclusive ambientais”, disse a empresa em nota.

De acordo com um inquérito civil do Ministério Público, a construção de empreendimentos na área sobre o córrego Uberabinha acelerou o processo de impermeabilização do solo, reduzindo a capacidade de infiltração das águas da chuva e ampliando os riscos de inundações.

Além disso, a esquina também coleciona outra polêmica. No mesmo local, um muro irregular foi levantado por outro condomínio para afastar “moradores de rua e usuários de entorpecentes”. No entanto, a construção é apontada por vizinhos como uma das principais causas de enchentes na área, já que o muro represa o excesso de água que deveria escoar pelas vias.

Na sexta-feira (10/3), a Prefeitura de São Paulo afirmou que tomará as medidas cabíveis para derrubar o muro, embora as denúncias contra a obra sejam conhecidas pelo MP desde 2016.

Em nota, a Prefeitura também afirmou que irá concluir, ainda em março de 2023, os estudos para que o piscinão da esquina entre a Gaivota e a Ibijaú seja implementado em outro local.

“A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), informa que o projeto básico para implantação do reservatório do Córrego Uberaba foi finalizado em 2011. À época, não havia recursos para prosseguimento do projeto. A Siurb irá concluir, ainda neste mês, o estudo que apontará a nova área para implantação do reservatório, bem como seu orçamento. A partir dessa etapa, o projeto executivo poderá ser desenvolvido para posterior licitação das obras.”

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