Alvo de bolsonaristas, Ouvidoria tenta reverter imagem de inimiga da polícia
Após virar alvo de deputados bolsonaristas, ouvidor afirma que órgão não é inimigo de policiais e que também busca elogiar ações
atualizado
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São Paulo – Após a Ouvidoria das polícias de São Paulo virar alvo de ataques de deputados bolsonaristas na Assembleia Legislativa (Alesp), o chefe do órgão determinou que os elogios à atividade da Polícia Miliar também sejam computados e comunicados.
Em uma sinalização de “conciliação” com as forças policiais, o ouvidor Cláudio Aparecido Silva, que está no cargo há menos de dois meses, afirmou ao Metrópoles que a Ouvidoria “não é inimiga da polícia” e que o órgão precisa comunicar melhor isso à sociedade e aos próprios policiais.
“Quando a gente recebe notícia de uma ação da polícia que foi truculenta, que resultou em morte, a gente abre o caso para acompanhar. Quando eu cheguei aqui, eu percebi que não tinha o mesmo tratamento para elogio. Eu determinei que a gente criasse alertas para que quando viessem matérias de atividades bem sucedidas da polícia, seja militar, civil ou científica, que a gente fizesse elogios. E é isso que está acontecendo”, afirma.
Segundo ele, cerca de 20% das comunicações recebidas pelo órgão são de elogios à polícia. “Hoje mesmo eu assinei algo em torno de 30 expedientes, 10 deles foram elogios para a atividade”, diz.
“A Ouvidoria salva vida de policiais. Só que insistem em colocar que a Ouvidoria é inimiga da polícia. Não é e nunca será. Ela serve para o aprimoramento da atividade policial. Ela defende os direitos humanos das pessoas, estejam elas em conflito com a lei ou cumprindo a lei”, afirma o ouvidor.
Como exemplo de outra ação do órgão no sentido de reverter a imagem de “vilã” da polícia, Cláudio Silva diz que pretende apresentar ao governo um plano de atualização do valor de seguro de vida para PMs e a extensão do benefício para a Polícia Civil.
“Já existem fatos que demonstram que a Ouvidoria não é inimiga da polícia. O que a gente está precisando é comunicar isso. Apontar isso para as pessoas”, afirma.
A Ouvidoria foi criada por uma lei estadual de 1997, após casos de violência policial que ganharam as manchetes do país, como o da Favela Naval, em Diadema, na Grande São Paulo. Na ocasião, um grupo de PMs foi filmado extorquindo dinheiro e espancando pessoas durante uma blitz.
Ataques de deputados
No último dia 12, a Ouvidoria solicitou o afastamento dos agentes da Rota, o grupo de elite da PM paulista, envolvidos em uma ação que acabou com a morte de um assaltante de 20 anos, na zona sul da capital. Os disparos foram filmados e as imagens repercutiram nas redes sociais (veja abaixo).
O pedido gerou reações de deputados bolsonaristas na Alesp, como Frederico D’Ávila (PL), Conte Lopes (PL) e Major Mecca (PL). Os parlamentares foram ao microfone da tribuna para criticar a Ouvidoria e pedir a extinção dela.
D’Ávila, aliado de primeira hora do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), é um dos autores de um projeto de lei que tramita na Alesp desde 2019 e que prevê o fim da Ouvidoria.
“Identificamos que desde que ela foi criada, a Ouvidoria foi tomada 100% por elementos ligados a legendas de esquerda. E todas as vezes que houve uma ocorrência de vulto, eles (Ouvidoria) fazem a famosa fofoca de imprensa, para pré-julgar os policiais envolvidos”, disse D’Ávila durante sessão no último dia 14.
Ao Metrópoles, o deputado afirmou que a Ouvidoria tem “ranço ideológico” e que “avança nas suas atribuições de forma tendenciosa, antes mesmo da instauração dos processos disciplinares”. “Querem dar o tom nas ocorrências sempre desmerecendo a atividade dos policiais”, afirma.
Os parlamentares também usaram as redes sociais para pedir o fim do órgão.
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O pedido de afastamento dos PMs também foi rebatido pelo secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, que já foi policial da Rota. Em uma rede social, ele afirmou que nenhum agente envolvido na ação será afastado.
Em um vídeo de 2020, quando era deputado federal, Derrite defendeu o PL do fim da Ouvidoria e afirmou que o órgão faz um papel “completamente deturpado” de sua função legal, que “não serve para nada” e que usa a mídia para “denegrir” a imagem da polícia.
Questionadas se o agora secretário mantém essa mesma posição, as assessorias de Derrite e da Secretaria da Segurança Pública não responderam.