Alunos grevistas podem perder vaga na USP se não voltarem às aulas
Estudantes são reprovados nas disciplinas com menos de 70% de presença, o que pode levar ao cancelamento da matrícula para os calouros
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo — Os alunos da Universidade de São Paulo (USP) que ainda permanecem em greve correm o risco de perder o semestre e até mesmo a vaga na instituição se não voltarem às aulas na próxima semana. Os estudantes estão paralisados desde o dia 21 de setembro, em protesto contra a redução do número de professores.
O Metrópoles teve acesso a um comunicado interno sobre o tema enviado pela Pró-Reitoria de Graduação para as diretorias das unidades nessa terça-feira (24/10). O documento mostra que os estudantes não atingirão o percentual mínimo de frequência exigido para aprovação no semestre caso continuem paralisados por mais uma semana.
Segundo o Regimento Geral da USP, um aluno precisa ter pelo menos 70% de presença para ser aprovado no semestre.
O mesmo regimento aponta ainda que um estudante pode ter a matrícula cancelada se for reprovado por frequência em todas as disciplinas de um semestre no ano em que ingressou na universidade. Com isso, os alunos do 1º ano podem perder a vaga na USP.
A universidade anunciou na semana passada que não vai alterar o calendário da graduação por causa da paralisação dos alunos. Em outras greves estudantis, a USP chegou a prorrogar o ano acadêmico para a reposição das aulas, segundo os estudantes.
Duas unidades continuam paralisadas até o momento e podem ser diretamente impactadas pela decisão: a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) e a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Juntas, elas têm mais de 12 mil alunos matriculados na graduação.
O anúncio pegou os estudantes de surpresa. “Os estudantes estão bem assustados, sobretudo os calouros”, diz Amanda Ferreira, que está no 3º ano de Obstetrícia na EACH.
Ela explica que a medida afeta inclusive alunos que tiveram alguma falta antes da paralisação, já que as ausências serão somadas para o cálculo final da frequência escolar.
Amanda afirma que a reitoria tinha se comprometido em um documento anterior a pensar um calendário de reposição das aulas.
“Um dos pontos da negociação [da greve] era que a reposição de aulas seria planejada junto com os estudantes e os docentes de modo a não prejudicar”, diz a aluna.
O documento citado pela estudante é a lista de promessas entregue pelo reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior durante a negociação pelo fim da greve.
No texto, a Pró-Reitoria de Graduação afirma que submeterá ao Conselho de Graduação uma proposta de calendário de reposição das aulas.
O documento diz ainda que “orientará a Comissão de Graduação das unidades para que sejam reduzidos os prejuízos pedagógicos decorrentes do período de greve, indicando a necessidade de tratamento dos conteúdos e reelaboração das atividades”.
Segundo a USP, o próprio Conselho de Graduação, no entanto, optou pela manutenção do calendário que já estava em vigor antes da greve.
Estudante do 5º ano de Marketing da EACH, Giulia Baffini diz que os alunos seguem paralisados na unidade porque ainda não tiveram suas demandas atendidas.
Os estudantes afirmam que a unidade sempre teve déficit de professores e reivindicam que o quadro de educadores seja ampliado para além das reposições de aposentadorias anunciadas pela universidade.
“A gente precisa hoje de 51 professores para a unidade e 36 apenas no curso de Obstetrícia”, afirma Giulia.
Ela explica que os alunos de Obstetrícia têm tido dificuldades para fazer os estágios porque, segundo uma regra do Conselho de Enfermagem, é preciso que exista um professor disponível para cada cinco alunos nos estágios.
A EACH, contudo, não teria educadores suficientes para aumentar a oferta de estágios por semestre, o que tem feito com que os alunos precisem, obrigatoriamente, estender o curso um ano além do planejado.
Giulia defende a continuidade da greve até que esta e outras pautas dos estudantes sejam tratadas pela reitoria.
Além das contratações, os alunos pedem que a USP volte a pagar o auxílio-permanência para estudantes que perderam o benefício no começo do ano e reivindicam a construção de quatro novos prédios na EACH.