Alunos reúnem 44 denúncias de assédio contra professor da Unesp
Alunos do curso de Relações Internacionais acusam professor de fazer comentários vexatórios; Unesp diz estar apurando casos de assédio
atualizado
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São Paulo — Estudantes do curso de Relações Internacionais da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) se mobilizaram nas últimas semanas para denunciar um professor que seria reincidente em assediar moralmente os alunos. Rafael Salatini recebeu 44 denúncias, que foram entregues à ouvidoria da universidade e estão sendo investigadas.
As denúncias dizem respeito ao comportamento do professor do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp durante as aulas.
Um estudante que conversou com o Metrópoles e não quis se identificar disse que Salatini tem o hábito de constranger os alunos com comentários inapropriados na frente da turma.
“Eu presenciei uma vez que ele disse para um colega ‘por quantos reais você me daria a bunda?’ E começou a estipular os valores. ‘Por 10 mil reais? 30 mil? 1 milhão’? Meu colega foi negando, até chegar em um momento que ele disse: ‘Eu acho que você estaria mentindo. Acho que você me daria a bunda por bem menos”, conta o aluno.
Para chamar atenção para o caso, estudantes cobriram os muros do campus de Marília, no interior de São Paulo, com cartazes com frases que teriam sido ditas pelo professor. Eles também organizaram uma paralisação das aulas, ocorrida no último dia 16.
Rafael Salatini leciona em três disciplinas obrigatórias do primeiro e terceiro ano do curso de Relações Internacionais. Segundo o estudante que conversou com a reportagem, os comentários do professor começaram com frases preconceituosas e, com o tempo, se tornaram mais direcionados. Mais de uma turma teria passado pelo mesmo problema.
Em um dos casos denunciados, duas alunas estavam na aula vestidas com blusas semelhantes. Ao identificar isso, Salatini teria comentado: “Se eu fosse dar em cima de vocês em uma festa, eu falaria dessa blusa que vocês estão usando para pedir um beijo”, “Eu pediria um beijo para fulana [dizendo o nome da aluna] dessa forma”.
Medo de retaliações
As denúncias foram recolhidas pelo Centro Acadêmico de Relações Internacionais “Diplomata Sérgio Vieira de Mello” (CARI) e entregues coletivamente à ouvidoria da universidade porque se temia que o pronunciamento individual levasse a retaliações.
Por medo, a assembleia estudantil organizada sobre o caso teve pauta secreta. “A divulgação foi feita no boca e boca e por mensagem do WhatsApp porque ficamos com medo de alguém aparecer lá, de ele aparecer. A assembleia encheu e a gente abriu uma ouvidoria própria onde recolhemos 44 denúncias”, conta o estudante.
A origem da desconfiança envolve um caso contra outro professor do mesmo departamento, que foi afastado temporariamente de suas funções no ano passado em razão de uma denúncia de assédio sexual feita por uma universitária. “O nome da aluna que denunciou assédio foi vazado, então ninguém confia na ouvidoria da Unesp”, disse o estudante.
Em janeiro de 2024, um docente da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, localizada em Bauru, foi demitido sob acusações de assédio sexual. O professor sofreu um processo administrativo interno após ser alvo de denúncias da ouvidoria interna. Ele também foi alvo de protestos com cartazes no campus, que denunciavam o caso.
Posição da Unesp
Em nota enviada ao Metrópoles, a direção da Faculdade de Filosofia e Ciências disse que a denúncia foi formalmente recebida em 16 de maio e encaminhada para análise técnica da assessoria jurídica da Unesp. “Todas as denúncias de assédio que chegaram ao conhecimento dessa atual gestão foram devidamente apuradas e, quando comprovada a materialidade, os acusados foram punidos, como recentemente ocorreu”, descreve o texto.
A universidade também afirmou que disponibiliza serviço institucional de acolhimento a vítimas de violência e assédio, bem como atendimento psicológico. “A Unesp possui forte política educativa institucional de enfrentamento às situações de assédio, violência e desrespeito aos direitos humanos”, completa a nota.
O Metrópoles também contato com o professor Rafael Salatini, mas não obteve sucesso. O espaço permanece aberto para atualizações.