Aluguel de criança em aeroporto não é investigado 2 anos após denúncia
Esquema de aluguel de crianças foi revelado pelo Metrópoles, ano passado, quando SSP afirmou que Polícia Civil iria investigar o caso
atualizado
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São Paulo – Um ano e oito meses após o Metrópoles revelar a ação de uma quadrilha que alugava crianças para pedir esmolas no Aeroporto Internacional de São Paulo, a Polícia Civil não investigou o esquema criminoso. A afirmação sobre o início da investigação foi feita por meio de nota encaminhada pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) na ocasião.
A reportagem constatou que, desde agosto, parte do bando retornou ao maior e mais movimentado aeroporto do Brasil, na cidade de Guarulhos, região metropolitana, usando da mesma tática para ludibriar vítimas, principalmente no terminal de voos internacionais.
Sobre o retorno das atividades da quadrilha, a 3ªDelegacia de Atendimento ao Turista (Deatur) afirmou, novamente por meio de nota enviada pela SSP, na sexta-feira (25/10), que a Polícia Civil iria analisar “a denúncia trazida pela reportagem”.
Em fevereiro de 2023, quando o esquema foi revelado pelo Metrópoles, a mesma delegacia, mais uma vez por meio da SSP, afirmou que iria também apurar a denúncia “visando o esclarecimento dos fatos e a responsabilização dos autores”. Questionada, no fim da semana passada, sobre os desdobramentos da investigação que havia confirmada em nota, a 3ª Deatur nada disse.
A reportagem apurou que o único inquérito policial instaurado contra o chefe do bando, Marcelo Benedito da Silva, de 46 anos, se pautou em um furto de chocolates, ocorrido três dias antes da publicação da matéria exclusiva do Metrópoles, na qual foi revelado que o criminoso alugava crianças para arrecadar, por meio de pedidos de esmola dentro do aeroporto, até R$ 1 mil por dia.
Para ler a reportagem completa, publicada em 2023, clique aqui.
Aluguel de crianças
Marcelo Benedito da Silva chefiava um bando que usava crianças alugadas para dar mais credibilidade aos golpes aplicados em passageiros dentro do aeroporto. Na maioria dos casos, as mães de aluguel acompanham a ação durante as abordagens e recebiam R$ 300 pela atuação.
Para conseguir dinheiro, os golpistas geralmente simulavam que eram pais de família passando por necessidades ou inventavam a história de que haviam perdido o voo e precisavam de ajuda financeira para reagendar a viagem. O mesmo tipo de argumento voltou a ser usado no aeroporto, ao menos desde agosto, como apurado pelo Metrópoles.
Marcelo, por exemplo, atuava no Terminal 3, destinado aos voos internacionais, espaço mais disputado pelos golpistas por causa da concentração de estrangeiros.
A presença das crianças alugadas durante as abordagens ajudava a sensibilizar as vítimas, que chegavam a dar notas de dólar e euro.
Desde junho de 2022, Marcelo já havia sido visto e fotografado com ao menos 10 mulheres e 11 crianças “contratadas” para essa finalidade. A maioria delas morava na favela das Malvinas, que fica nos arredores do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos.
Em um áudio obtido pela reportagem, o próprio Marcelo admite que pagava mulheres para que o acompanhassem com as crianças, a fim de pedir esmola aos passageiros nos terminais de Cumbica (ouça abaixo).
Marcelo Benedito da Silva e a mulher dele, Débora Maris da Silva, que também atuava dentro do aeroporto, não foram localizados pela reportagem para falar a respeito do esquema. O espaço segue aberto para manifestação.
Polícia fala só de um caso
A 3ª Deatur afirmou ao Metrópoles, por meio da SSP, que instaurou um inquérito para investigar um casal por “crime de abandono moral”, em fevereiro deste ano.
A delegacia especializada alegou ter concluído essa investigação, em abril, “quando o caso foi arquivado por decisão judicial”. “Além deste caso, não foram encontrados registros de outras ocorrências semelhantes na especializada até o momento”, acrescentou.
A Deatur afirmou ainda que irá analisar a denúncia feita pela reportagem sobre o retorno do bando com as crianças no aeroporto.