Aliados de Nunes apostam que tour de Marçal foi para “fugir” de Moraes
Marçal viajou ao exterior e mantém mistério sobre ida a ato bolsonarista contra ministro Alexandre de Moraes na Avenida Paulista neste 7/9
atualizado
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São Paulo – O tour internacional do candidato à Prefeitura da capital pelo PRTB, Pablo Marçal (PRTB), iniciado nessa quinta-feira (5/9), foi interpretado pela equipe do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição, como uma estratégia do influencer para faltar ao ato bolsonarista marcado para este sábado (7/9), na Avenida Paulista, e “fugir” do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), principal alvo do protesto.
Marçal tem focado sua campanha no eleitorado bolsonarista, apesar de o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apoiar formalmente a reeleição de Nunes, que já disse que irá à manifestação deste sábado. Enquanto mantém mistério sobre sua presença na Paulista, o candidato do PRTB decidiu embarcar nessa quinta para El Salvador, onde se reuniria com o presidente Nayib Bukele, e ainda tenta encontros com o presidente da Argentina, Javier Milei, e com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Para a campanha de Nunes, Marçal forjou uma agenda internacional durante a campanha municipal para evitar se indispor com Alexandre de Moraes, que foi o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições passadas e ainda mantém forte influência na Justiça Eleitoral, onde o influencer e seu grupo dentro do PRTB são alvos de processos que podem levar à impugnação da candidatura à Prefeitura da capital.
Uma gravação divulgada no mês passado traz o presidente nacional do PRTB, Leonardo Avalanche, dizendo a um interlocutor que Moraes o favoreceu em um processo sobre o controle do partido que corre no TTSE. Na última segunda-feira (2/9), em entrevista ao programa Roda Viva, Marçal já havia evitado fazer críticas contundentes a Moraes, que é alvo constante de Bolsonaro.
Embora tenha criticado a suspensão do X, ele disse que “qualquer exagero” do ministro do STF deve ser tratado pelo Senado. “Eu sou um humilde cidadão querendo ser prefeito, não estou com esse poder todo para falar o que eu quero. Não dá para dar tiro em todo mundo”, disse o candidato do PRTB no dia seguinte, durante agenda de campanha na zona sul da capital.
Ato na Paulista
A manifestação bolsonarista na Avenida Paulista também é considerada um tema delicado dentro da campanha de Nunes. Com o avanço de Marçal entre o eleitorado de direita, a equipe do prefeito considerou que ele deveria participar do ato para se consolidar como o candidato apoiado por Bolsonaro.
Marçal e Nunes aparecem com 22% das intenções de votos cada um na pesquisa Datafolha divulgada nessa quinta-feira e estão tecnicamente empatados com o deputado Guilherme Boulos (PSol), que registra 23%.
Embora tenha oficializado seu apoio a Nunes na eleição da capital, Bolsonaro ainda não entrou na campanha do prefeito e tem dado sinais trocados ao eleitorado, deixando uma porta aberta para também apoiar o influencer.
A delicadeza sobre o assunto se dá porque o prefeito, emedebista, na verdade é original de um grupo político próximo a Moraes, como o presidente de seu partido, Baleia Rossi, e o ex-presidente Michel Temer, que indicou o ministro ao Supremo.
Na semana passada, depois que Marçal já havia subido nas pesquisas de intenção de voto e colado em Nunes, Bolsonaro gravou um vídeo dizendo que “todos os candidatos” do campo da direita teriam espaço no protesto, o que foi entendido como uma abertura a Marçal.
Com a viagem internacional, o ex-coach terá uma desculpa para faltar ao ato contra Moraes na Paulista e tentar não se indispor com o eleitorado de direita que é crítico ao ministro.
Marçal, por sua vez, vem dizendo que Nunes será “vaiado” caso compareça, prometendo que seus seguidores estarão na avenida.
Nessa quinta-feira (5/9), durante entrevista coletiva, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tem se empenhado pela reeleição de Nunes, disse que a forma como se dará a participação dele e de Nunes no evento ainda não está definida.
Mas aliados do governador teriam procurado o ministro do STF nesta semana para deixar claro que o protesto será uma “defesa do estado democrático de direito” e da “liberdade de expressão”.
O protesto foi convocado no mês passado, pouco após a publicação de uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo revelar mensagens que apontam a possibilidade de Moraes ter imposto, de forma não oficial, a produção de relatórios pela Justiça Eleitoral para embasar decisões dele contra bolsonaristas no inquérito das Fake News no STF, durante e após as eleições de 2022.