Aliados alertam Nunes sobre risco de aliança com Bolsonaro: “Ele pode ser preso”
Prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes tem negociado o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro para sua campanha à reeleição no ano que vem
atualizado
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São Paulo — Antes mesmo da última operação da Polícia Federal (PF) que encurralou Jair Bolsonaro (PL) no caso da joias, o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), foi alertado por aliados sobre o risco da sua aproximação com o ex-presidente da República, de quem espera apoio para sua reeleição no ano que vem.
A maior preocupação do entorno do prefeito é que o avanço da investigação sobre Bolsonaro neste momento de intensa articulação entre eles respingue na imagem de Nunes. “Ele pode ser preso”, alertou um dos auxiliares ao chefe do Executivo paulistano.
Nessa sexta-feira (11/8), a PF pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a quebra de sigilo bancário e fiscal do ex-presidente para apurar a possível participação de Bolsonaro na tentativa de venda de uma caixa de joias dada a ele pelo governo da Arábia Saudita.
Segundo a PF, mensagens trocadas entre ex-assessores apontam para um “esquema de peculato para desviar ao acervo privado do ex-presidente da República Jair Bolsonaro os presentes de alto valor recebidos de autoridades estrangeiras, para posterior venda e enriquecimento ilícito do ex-presidente”.
A “namoro político” entre Nunes e Bolsonaro já dura mais de três meses e tem sido marcado por uma série de encontros na capital paulista. O último deles ocorreu na segunda-feira (7/8), na sede da Prefeitura de São Paulo, onde ambos almoçaram com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ex-ministro bolsonarista Fábio Wajngarten, cotado para a vice na chapa de Nunes.
Neste dia, inclusive, Bolsonaro falou com a imprensa, dentro da Prefeitura, sobre o caso das joias e das movimentações bancárias atípicas apontadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Segundo um aliado, o episódio desagradou o prefeito, que estava ao lado do ex-presidente na ocasião.
Na mesma entrevista, em tom descontraído, Bolsonaro disse que Nunes “está aprendendo” a tratá-lo bem nas visitas que tem feito a São Paulo e que “ninguém manda flores para quem não ama”, mas também afirmou que fez um “desabafo” ao prefeito.
Embora não tenha dado detalhes, há uma cobrança do núcleo-duro bolsonarista por cargos na Prefeitura em troca do apoio à reeleição de Nunes. Eles já limaram a pré-candidatura do deputado federal Ricardo Salles (PL), vista como obstáculo à reeleição de Nunes, e esperam uma retribuição antes da eleição.
A aliados, Nunes tem dito que o PL, partido de Bolsonaro, já ocupa cargos na sua administração e que a aproximação com Bolsonaro tem como principal objetivo inviabilizar uma candidatura bolsonarista na disputa pela Prefeitura no ano que vem.
A relação do prefeito com o ex-presidente já tem sido bastante explorada pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSol), pré-candidato à Prefeitura em 2024. Apoiado pelo PT, Boulos é considerado por Nunes seu principal adversário na busca pela reeleição.
Dentro do MDB, partido de Nunes, aliados do prefeito pregam cautela na relação com Bolsonaro. Eles afirmam que tanto Boulos e os petistas quanto os bolsonaristas pretendem nacionalizar a eleição municipal, o que seria ruim para Nunes. “O que não pode, de jeito nenhum, é o Ricardo (Nunes) ficar com a pecha de candidato bolsonarista na eleição”, diz um deles ao Metrópoles.