Alesp entrega homenagem a mulheres que atuaram contra ditadura militar
Mulheres conhecidas por combater a ditadura militar vão receber Colar de Honra ao Mérito da Alesp; homenagem será na sexta-feira (5/4)
atualizado
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São Paulo — A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) vai homenagear, na próxima sexta-feira (5/4), três mulheres que atuaram na luta contra a ditadura militar no Brasil. Clarice Herzog e Ana Dias receberão o Colar de Honra ao Mérito Legislativo. Eunice Paiva, morta em 2018, será homenageada postumamente.
A entrega da honraria está agendada para as 19h, no plenário da casa, e foi solicitada pela deputada estadual Beth Sahão (PT). “Esse evento é também uma luta contra o apagamento das mulheres na nossa história pelo machismo e contra o golpismo que infelizmente insiste em ressurgir no tempo presente”, escreveu a parlamentar.
A declaração do presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) de que o governo federal não vai lembrar os 60 anos do golpe de 1964, em 31 de março, foi criticada por vítimas da ditadura. Lula afirmou, em entrevista à Rede TV, que não quer “remoer” o episódio.
Ana Dias
Ana Maria do Carmo Silva, mais conhecida por Ana Dias, foi líder comunitária na zona sul de São Paulo nos anos 1960. O companheiro dela, Santo Dias da Silva, foi morto pela Polícia Militar em 1979, enquanto distribuía panfletos chamando para uma greve de trabalhadores.
De acordo com o site Memórias da Ditadura, foi a determinação de Ana que impediu que Santo Dias fosse enterrado como desconhecido e se tornasse mais um desaparecido político. A missa de corpo presente de seu companheiro, celebrada por dom Paulo Evaristo Arns, iniciou-se na Igreja da Consolação, de onde os mais de 30 mil presentes partiram em cortejo até a Catedral da Sé, no centro de São Paulo.
Em 1982, Ana conseguiu a condenação do policial Herculano Leonel a seis anos de prisão por ter matado Santos Dias. Um ano e meio depois, a decisão foi revertida pelo Tribunal da Justiça Militar.
Clarice Herzog
Em 1975, o marido de Clarice, o jornalista Vladimir Herzog, foi preso, torturado e assassinado nas dependências do DOI-CODI em São Paulo, para onde havia ido voluntariamente prestar depoimentos. A causa da morte, segundo as autoridades, teria sido um suicídio. Desde então, ela lutou para esclarecer as circunstâncias e os responsáveis pela morte do jornalista.
Em 2013, 38 anos depois do crime, Clarice conseguiu a retificação do atestado de óbito de Herzog, não mais como suicida, mas como vítima da violência do Estado brasileiro. Desde 2009, atua como presidente do Instituto Vladimir Herzog, organização da sociedade civil criada para manter viva a história e o legado do jornalista.
Eunice Paiva
Eunice Paiva teve papel central na busca por informações sobre o paradeiro de seu marido, o deputado Rubens Paiva, desaparecido político depois de ter sido preso, torturado e assassinado nos porões do DOI-CODI no Rio de Janeiro em janeiro de 1971.
Na mesma ocasião, Eunice foi presa junto à filha Eliana, então com 15 anos, e levada também às dependências do DOI-CODI carioca. Eliana permaneceu presa por 24 horas no local, Eunice por 12 dias, sendo interrogada.
Após a libertação, passou a exigir a verdade sobre o marido, e com a informação de que ele havia sido assassinado, reivindicou o reconhecimento de sua morte e a revelação de onde o corpo estaria enterrado (o que jamais descobriu), para que lhe pudesse prestar as honrarias fúnebres.
Eunice morreu em 2018.