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Ainda amador, futebol americano vive expectativa de crescimento em SP

A cidade de SP receberá, pela 1ª vez, uma partida da NFL. Praticantes contam ao Metrópoles os desafios e dificuldades do esporte no país

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Imagem colorida de jogadores jogando futebol americano. Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de jogadores jogando futebol americano. Metrópoles - Foto: Reprodução/ Yssara Kauanne

São Paulo — A cidade de São Paulo vai receber, pela primeira vez, um jogo da National Football League (NFL), liga responsável pela administração do campeonato de futebol americano dos Estados Unidos. O jogo acontecerá na próxima sexta-feira (6/7), na Neo Química Arena, zona leste da capital, e pode representar um novo marco da modalidade no país.

O futebol americano ainda não pode ser considerado um esporte predominantemente profissional no Brasil, visto que são raros os casos de atletas que recebem dinheiro pela prática — e até quem é remunerado não ganha o suficiente para viver da categoria. Porém, em São Paulo, o amor pelo futebol americano move alguns praticantes.

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Gustavo Pires da SP Turis falando sobre o jogo da NFL no Brasil
Jogadores arcam com quase todos os gastos
Corinthians Steamrollers disputam o campeonato brasileiro e paulista de futebol americano
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Futebol americano disputado em São Paulo

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Gustavo Pires da SP Turis falando sobre o jogo da NFL no Brasil

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Jogadores arcam com quase todos os gastos

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Corinthians Steamrollers disputam o campeonato brasileiro e paulista de futebol americano

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É o caso de Matheus Silva, de 26 anos, conhecido como Casagrande — a cabeleira semelhante à do centroavante corintiano dos anos 80 não deixa dúvidas sobre a origem do apelido. O jogador atua no mesmo time do xará, mas em outra modalidade: no Corinthians Steamrollers.

Apesar de carregar o nome de um dos grandes clubes do estado, os Steamrollers não recebem muitos auxílios da equipe alvinegra. A ajuda se limita à oferta do campo para treino, além do uso do nome.

Casagrande contou ao Metrópoles que jogar futebol americano é muito caro no país. Os equipamentos, como proteções para ombros, peito, costas e cabeça, além de chuteiras e até os aluguéis de campo para jogar, são pagos com o dinheiro dos próprios atletas.

O time disputa, entre outras competições, o Campeonato Paulista e o Campeonato Brasileiro. Para participar de alguns jogos, os atletas precisam viajar e, quase sempre, assumem as despesas com transporte.

Falta de campos

Além do alto custo, achar um campo para jogar futebol americano também é um obstáculo. Segundo Casagrande, são raras as equipes que possuem um local adequado para jogo. No caso dos Steamrolllers, o clube Corinthians cede o campo do Parque São Jorge. Porém, após a pandemia, uma reforma que incorporou o gramado sintético ao local fez com que algumas equipes do cenário paulista se recusassem a jogar no campo por não terem chuteiras adequadas.

Apesar das dificuldades, o atleta contou que continua jogando futebol americano por amor ao time e como um forma de se distrair da rotina:

“O principal motivo é o amor ao time. Além disso, praticar o esporte é como se fosse uma terapia também. Às vezes, em uma semana carregada, você vai lá e tem um treino ou um jogo e acaba esquecendo os problemas. É uma junção das duas coisas”.

O linebacker, posição de defesa do futebol americano responsável por marcar o meio do campo, afirmou que conheceu a modalidade ao assistir a NFL em 2015.  Disse, ainda, que começou a praticar futebol americano quando, junto com um amigo, ficou sabendo de uma seletiva no Corinthians Steamrollers. Foi aprovado de primeiro, mesmo sem nunca ter contato com uma bola de futebol americano anteriormente.

Ele acredita que outros casos tenham sido semelhantes e que a presença de um jogo de temporada regular na cidade poderia impulsionar ainda mais o interesse na modalidade:

“Não só em São Paulo, mas em todo o Brasil vai ter um aumento de procura. Porque [o esporte] vai vir para um público que realmente não conhece. É um esporte novo e, quem gostar, com certeza vai procurar e descobrir bastante coisa por ele”, afirmou Casagrande.

Esse otimismo não é à toa. Em conversa com a reportagem, Gustavo Pires, CEO da SPTuris, órgão da Prefeitura de São Paulo responsável pela organização do jogo na cidade, afirmou que o Brasil aparece como segundo maior consumidor de futebol americano fora dos Estados Unidos, ficando atrás apenas do México. “Acredito que em dois anos passaremos o México, ainda mais com a vinda do jogo para cá”, afirmou.

Ainda de acordo com Gustavo, 30% desse público mora na capital paulista — o que, segundo ele, faz com que São Paulo lidere o hemisfério sul global quando o assunto é interesse na NFL.

O evento, que começa na próxima sexta e termina no domingo, deve movimentar cerca de 100 mil pessoas nos três dias, sendo 10 mil estrangeiros.

Além do futebol americano, a parceria entre NFL e Prefeitura abrange o flag football, modalidade olímpica a partir de 2028 e que se difere do futebol americano principalmente ao limitar o contato entre os jogadores. A administração municipal já aplica nas escolas públicas algumas ações relacionadas ao esporte e a liga norte-americana realiza oficinas e proporciona campeonatos mirins pela cidade.

Ao contrário do futebol americano, no flag não há necessidade de derrubar o atleta rival para parar a jogada, apenas retirá-lo com uma fita, nomeada de flag. Por conta da diminuição de contato, as proteções nos ombros, peito, pernas e cabeças não são necessárias, o que acaba reduzindo os custos da prática. Esse dois fatos fazem com que a modalidade seja procurada por mais pessoas.

Flag também movimenta

Dividido em categorias de 5 contra 5 e 8 contra 8, a modalidade também aparece em São Paulo com equipes masculinas e femininas. Assim como no futebol americano “full pad”, como é chamada a categoria tradicional, o cenário paulista também aparece como o mais relevante dentro do flag. Pelo menos é o que diz o treinador da equipe de flag da Universidade Federal do ABC (UFABC), Guilherme Spinelli, de 26 anos.

No comando do Green Reepers Football, nome da equipe, desde 2022, Spinelli traz como exemplo de que o campeonato de flag em São Paulo é o mais forte o fato de outras equipes, como o Vasco, disputarem o torneio mesmo sendo de outros estados.

Como uma das funções de um treinador de equipe de flag e de futebol americano, Spinelli precisa desenhar jogadas para os seus atletas executarem durante as partidas. Ao Metrópoles, ele revelou que fica responsável mais pela parte defensiva da equipe e que para pensar nas jogadas se inspira muito no estilo de defesa do seu time de coração na NFL, o Carolina Panthers. Além disso, ele revelou que busca estudar o que Sean McDermott faz no cargo de treinador do Buffalo Bills.

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Flag football é o futebol americano com menos contato
Jogadores de linha ofensiva da equipe
Modalidade oito contra oito é bem semelhante ao futebol americano tradicional
Nos treinos, os times de defesa e ataque treinam ações de jogo específicas e também jogam entre si
O time disputa o campeonato paulista e universitário de flag
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Ataque e defesa se enfrentando em um coletivo

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Flag football é o futebol americano com menos contato

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Jogadores de linha ofensiva da equipe

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Modalidade oito contra oito é bem semelhante ao futebol americano tradicional

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Nos treinos, os times de defesa e ataque treinam ações de jogo específicas e também jogam entre si

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O time disputa o campeonato paulista e universitário de flag

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Equipe treina em um parque de Santo André

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QB Giova é o titular da equipe e se inspira em Nick Foles, ex-QB dos Eagles

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Flag Football será esporte olímpico a partir de 2028

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A Universidade Federal do ABC (UFABC) tem o time Green Reapers

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Por ter menos contato físico, modalide usa menos proteção que o futebol americano e por isso é mais barato

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Equipe masculina joga na modalide oito contra oito enquanto a feminina joga na cinco contra cinco

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Assim como no futebol americano, no flag existem, para além do treinador principal, os coordenadores auxiliares, que focam em jogadas de defesa e ataque. No caso do Green Reepers, o ataque também sofre influência da liga norte-americana.

O quarterback da equipe, Victor “Giova”, de 22 anos, usa o número 9 na camisa, inspirado em Nick Foles, um ex-quarterback campeão pelo Philadelphia Eagles, um dos dois times que jogarão na Neo Química Arena na próxima sexta. Giova conta que é o titular da posição desde 2022 e que busca replicar no seu jogo um pouco do visto com o ídolo.

A influência da NFL não para por aí. Spinelli conta, ainda, que o número de pessoas querendo entrar no time aumenta de setembro a fevereiro, justamente os meses em que a liga norte-americana acontece.

“A época entre setembro e janeiro tem muita procura, justamente por conta da NFL. A pessoa quer aprender um pouco do esporte, gostou, quer jogar, e aí quer aprender como jogar e vai procurando time. A gente acaba sendo uma opção para eles e a porta de entrada acaba sendo flag também, pela facilidade de iniciar no esporte”, comentou o treinador.

Mas nem só de inspiração estrangeira vive o time. Logo no início do treino acompanhado pela reportagem, os próprios jogadores conversam sobre novas jogadas e estudos realizados em cima dos vídeos de outras equipes.

Chuteira de cravo e calça de compressão

Para praticar o esporte, a equipe conseguiu negociar com a Prefeitura de Santo André um espaço no Parque Ana Maria Brandão. Lá, todo sábado, das 10h às 13h, o espaço é reservado para a prática da bola oval. Os atletas disseram que é recomendável o uso de chuteira de cravo e calça de compressão, além de ser obrigatório o uso de protetor bucal. Todos os equipamentos são comprados pelos próprios jogadores.

Nenhum atleta ali recebe auxílio financeiro ou algum material. Pelo contrário: a maioria paga uma mensalidade de R$ 45 para contribuir com a compra de materiais, como bola, cones e camisas, e também para pagar a taxa de inscrição nos campeonatos. Segundo os jogadores, a UFABC se limita a ceder uma quadra toda quarta-feira para os treinos.

Apesar de ser uma equipe universitária, o Green Reapers masculino também disputa o campeonato paulista na categoria 8 contra 8, assim como o Corinthians Steamrollers. Esse tipo de jogo com oito atletas se assemelha mais ao futebol americano tradicional, com regras bem parecidas, mas sem o contato físico mais forte.

Mulheres no flag

A equipe feminina do Green Reapers Football joga na modalidade 5 contra 5. Mas vem enfrentando problemas para conseguir atletas suficientes para competir. É o que diz Giuliana Cassoni, de 23 anos, atleta do time feminino e também presidente da Liga Universitária de Futebol Americano em 2024.

Giuliana conta que foi pelo caminho contrário e começou a praticar o esporte antes de acompanhá-lo pela televisão. Ela disse que foi convencida a treinar por amigos que participavam da equipe. Hoje, ela diz, é a “maior defensora do esporte”.

O time feminino do Green Reapers foi refundado em 2019. Isso porque já existia em 2015, mas enfrentou um desmanche e encerrou os trabalhos por um período. Hoje, a equipe enfrenta dificuldades de adesão e não foi jogar a liga universitária este ano por ter somente sete atletas — seriam necessárias pelo menos dez (cinco no ataque e cinco na defesa).

Giuliana acredita que o cenário pode mudar se houver melhor divulgação do esporte em âmbito nacional:

“[O flag] vai virar olímpico em 2028. Então, se tivesse mais matéria sobre isso, na televisão, jornal e revista, talvez o pessoal se interessasse mais. E o papel de cada atleta é divulgar e chamar os amigos”.

Além da falta de divulgação, Giuliana cita a estigmatização do esporte como uma barreira.

“Dizem que esporte não é para mulher, que mulher que faz isso não é mulher. Ou que é um esporte violento e a gente é frágil ou coisa do tipo. Além de outros comentários. A gente joga de shorts, então o tempo todo tem alguém fazendo comentários sobre a vestimenta que a gente tá usando, coisa do tipo. É muito difícil trazer meninas para o esporte, de forma geral”, lamenta a presidente.

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UFABC Green Reapers feminino
Unicamp Eucalyptus masculino
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Unicamp Eucalyptus feminino

Arquivo Pessoal
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UFABC Green Reapers feminino

Arquivo Pessoal
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Unicamp Eucalyptus masculino

Arquivo Pessoal

Segundo ela, muita gente se assusta ao saber que o esporte é uma modalidade do futebol americano: “Todo mundo acha que o futebol americano é violento, mas não é”.

Ainda de acordo com Giuliana, as mulheres não costumam aderir muito à ideia e, por isso, nem chegam a conhecer o esporte. Ela diz que a  própria família não é muito fã da modalidade por causa do risco de lesões.

Os custos também são altos. Para além do que já acontece com o time masculino, com gastos em equipamentos e dificuldade com campos para jogar, as mulheres têm despesas ainda maiores. Isso porque a bola utilizada pela categoria feminina, por exemplo, não é produzida no Brasil e precisa ser importada. Além disso, as fitas, chamadas de flags, utilizadas pelas mulheres começaram a ser produzidas há pouco tempo no país — antes, também tinham de ser importadas.

Apesar das dificuldades, a atleta ressalta que a modalidade está conquistando o seu espaço e ainda tem muito para avançar:

“Está crescendo e a gente está ocupando o nosso espaço. Está tendo mundial do flag agora e infelizmente a equipe feminina perdeu nas oitavas de final, mas foi mais longe que a equipe masculina”, disse. “As mulheres estão adentrando cada vez mais em um mundo que é majoritariamente masculino.”

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