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Afinal, o Rio Pinheiros está limpo? Fomos conferir

Com R$ 3,5 bi investidos e promessa de deixá-lo limpo em 2022, a despoluição do Rio Pinheiros não está concluída mas apresenta resultado

atualizado

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Rio Pinheiros
1 de 1 Rio Pinheiros - Foto: Felipe Resk/Metrópoles

São Paulo – Sob um calor abafado e sol de 28ºC, o ciclista Rafael Sales, de 37 anos, começou às 10h30 sua primeira volta pela ciclovia do Parque Linear Bruno Covas, que contorna as margens do Rio Pinheiros, em São Paulo: “Era impossível pedalar aqui um tempo atrás, por causa do mau cheiro, mas agora melhorou muito”.

Com investimento de R$ 2 bilhões da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) e mais R$ 1,5 bilhão da iniciativa privada, a revitalização do Rio Pinheiros é considerada o principal projeto urbanístico dos últimos anos no estado e, mesmo com entregas em atraso, já apresenta alguns resultados para a cidade.

Em 2019, o ex-governador João Doria (ex-PSDB) prometeu despoluir o rio até dezembro de 2022 e transformá-lo na versão paulista de Puerto Madero, em Buenos Aires – meta considerada utópica por especialistas no tema.

Encerrado o prazo, o Metrópoles foi conferir a situação do rio e do seu entorno na manhã da última quinta-feira (19/1). Também conversou com frequentadores do parque, para tentar responder  a uma pergunta que ainda habita a cabeça de muitos paulistanos: afinal, o Rio Pinheiros está limpo?

“Não está 100% ainda, claro que faltam algumas coisas, mas o caminho parece bem bom”, resume Rafael, em avaliação compartilhada pela maioria das pessoas com quem a reportagem conversou na margem do rio.

Revitalização

Nos últimos 30 anos, a paisagem do Rio Pinheiros foi marcada por garrafas plásticas, resíduo orgânico, pneus e até móveis despejados na água. Pela ausência de saneamento, o odor característico do leito era de esgoto.

A reportagem, no entanto, encontrou um cenário diferente. Em mais de 3 horas de observação, o único lixo avistado foi um ursinho de pelúcia boiando, apesar de a água continuar visivelmente turva.

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Rio Pinheiros
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Parque Bruno Covas
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Parque Bruno Covas é opção de lazer para moradores das zonas sul e oeste da cidade

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Também não sentiu mau cheiro, mesmo no calor, resultado que o governo de São Paulo atribui principalmente à conexão de 650 mil imóveis à rede de esgoto no período.

As margens do Rio Pinheiros ganharam 8,1 quilômetros de ciclovia e outros 8,9 estão em obras. Alguns estabelecimentos também saíram do papel, como cafés, lojas e aluguéis de bicicletas e triciclos, mas nem tudo ficou pronto dentro do prazo prometido.

Lazer

“Hoje não tem subida, mas tem café”, diz o slogan de um dos comércios inaugurados, que estava com as oito cadeiras ocupadas. Com pequenas entregas semana após semana, como banheiros e passarelas, as melhorias têm atraído pais, crianças, ciclistas e praticantes de outros esportes para o Parque Bruno Covas – embora o número de frequentadores, em geral, ainda seja baixo.

“Quando o rio estava detonado, era difícil o pessoal vir: a gente chamava isso aqui de Faixa de Gaza”, relata a treinadora Silvana Cole, de 55 anos, especialista em triatlo e patinação de velocidade. “Hoje, eu trago atletas de Brasília para treinar aqui no parque. Quanto mais gente aparecer, melhor vai ser para todo mundo”.

Com outorga de R$ 280 milhões e investimento previsto de R$ 300 milhões, a reforma da Usina São Paulo, antes chamada de Usina da Traição, só conseguiu alvará municipal em dezembro de 2022, quando deveria estar pronto, e prazos foram revistos.

Usina São Paulo
Usina São Paulo em obras em janeiro de 2023

O projeto prevê um terraço e até cinema a céu aberto, com vista para o Rio Pinheiros. Agora, a primeira fase da obra só deve ser concluída em 2025. Já a segunda fase ficou para 2029.

Despoluição?

Integrantes da equipe de Doria afirmam que a principal confusão em relação ao Pinheiros é provocada pela palavra “despoluição”, usada pelo ex-governador para se referir ao projeto de revitalização e melhoria da qualidade da água do rio.

Pelo prometido, a meta era reduzir a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), um marcador da qualidade da água do rio, para índices inferiores a 30 mg/L. O critério da Agência Nacional de Águas (ANA), entretanto, é considerar poluído qualquer manancial com DBO acima de 10 mg/L.

Segundo a gestão Doria, o índice de 30 mg/L já seria suficiente para eliminar o mau cheiro, permitir o convívio urbano e restabelecer a vida no Rio Pinheiros (mas de peixes mais resistentes à poluição, como bagres e cascudos). Praticar natação ou beber água potável nunca esteve no pacote da promessa.

Evolução

Dados oficiais do governo confirmam melhora na qualidade da água no período e apontam que dez dos 13 pontos de medição do Rio Pinheiros atingiram a meta em outubro de 2022.

Rio Pinheiros
Mediçãoaponta melhora da qualidade da água

ONGS e movimentos de moradores contestam os números oficiais e afirmam ter constatado, em laudos independentes, uma média de 70 mg/L (DBO) ao longo dos meses de 2022 patamar semelhante ao de 2019.

Em nota, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) defende a evolução apresentada por seus antecessores. “A nova gestão já estuda a ampliação do projeto, além da manutenção dos resultados alcançados”.

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