Advogado apontado por Gritzbach como operador do PCC está entre presos
O advogado Ahmed Hassan, o Mude, foi acionista de uma empresa de ônibus de São Paulo e é acusado de lavar dinheiro para o PCC
atualizado
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São Paulo — O advogado Ahmed Hassan, conhecido como Mude (foto de destaque), é um dos presos nesta terça-feira (17/12) na operação deflagrada pela Polícia Federal e o Ministério Público de São Paulo (MPSP) para investigar lavagem de dinheiro e corrupção policial.
Hassan foi acionista da empresa de ônibus UpBus, que opera linhas na zona leste de São Paulo, e é acusado de lavar dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele já tinha sido alvo da Operação Decurio em agosto deste ano, numa investigação sobre a infiltração da facção criminosa nas eleições, e cumpria pena em prisão domiciliar.
Segundo o MPSP, o advogado foi citado no acordo de colaboração premiada de Vinícius Gritzbach, delator do PCC que foi assassinado a tiros no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, no início de novembro. Os dois mantinham uma relação profissional e até de certa amizade.
O advogado foi apontado por Gritzbach como operador na compra de imóveis por chefes do tráfico de drogas. O depoimento é acompanhado por contratos, mensagens e fotos de dinheiro vivo. Em um áudio disponibilizado pelo próprio delator, Hassan afirma que a morte de Gritzbach poderia custar R$ 3 milhões “em prêmio”.
O material, ao qual o Metrópoles teve acesso, foi entregue ao MPSP. A conversa é atribuída a Hassan, que faz a oferta milionária ao policial civil Valdenir Paulo de Almeida, conhecido como “Xixo”, preso em agosto por suspeita de recebimento de propina do PCC.
“Você acha que três [milhões] vai?”, pergunta o advogado. “É, pensa nos três, vai pensando, me fala depois”, responde o policial. “Mas você acha que ‘tá’ fácil resolver ou ‘tá complicado’?”, questiona Mude, ao que o policial afirma: “Tá fácil, facinho”.
O advogado Ahmed Hassan ainda pergunta se “o passarinho tá voando direto” — ou seja, se Gritzbach está saindo de casa. O policial responde que “às vezes voa, só que tem um segurança”.
Outras prisões
Além do advogado, foi preso na operação desta terça-feira Ademir Pereira de Andrade, apontado na delação de Gritzbach como testa de ferro de traficantes do PCC.
O delegado Fábio Baena também foi preso nesta terça-feira, assim como o investigador-chefe Eduardo Lopes Monteiro. Ambos atuavam no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e foram afastados das funções por causa das denúncias.
Outro alvo da operação é o policial civil Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho (veja imagens abaixo). Ele não havia sido preso até a publicação desta reportagem.
Segundo a denúncia de Gritzbach, os policiais civis receberam ao menos R$ 11 milhões de propina, em dinheiro vivo, para retirar o nome de investigados em inquéritos por homicídio e envolvimento com o tráfico de drogas.
O inquérito policial de homicídio, mencionado no depoimento, é o mesmo no qual Gritzbach era investigado pelo suposto envolvimento no assassinato de dois integrantes do PCC, facção que o havia jurado de morte e a qual ajudou na lavagem de dinheiro.
Gritzbach foi executado oito dias depois de ter denunciado os policiais civis à Corregedoria da corporação.
Em nota ao Metrópoles, a defesa de Baena e Monteiro afirmou que a prisão foi arbitrária e midiática. “A palavra pueril de um mitômano, sem qualquer elemento novo de prova, não poderia jamais motivar medida tão excepcional”, diz a defesa, em nota, referindo-se a Gritzbach.
“Ambos compareceram espontaneamente para serem ouvidos e jamais causaram qualquer embaraço às repetidas investigações”, diz a nota. O Metrópoles busca a defesa de Rogério Felício. O espaço está aberto para manifestação.
Operação policial
A Operação Tacitus, deflagrada nesta terça-feira, cumpre oito mandados de prisão e 13 de busca e apreensão. O objetivo é desarticular organização criminosa voltada à lavagem de dinheiro e crimes contra a administração pública (corrupção ativa e passiva).
Os mandados estão sendo cumpridos nas cidades de São Paulo, Bragança Paulista, Igaratá e Ubatuba.
Segundo o MPSP, provas obtidas em diversas investigações revelaram como os investigados se estruturaram para exigir propina e lavar dinheiro para suprir os interesses do PCC.
Os investigados vão responder pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e ocultação de capitais, cujas penas somadas podem alcançar 30 anos de reclusão. Até 9h30, sete pessoas tinham sido presas.