Advogado que pediu cabeça de delator do PCC é elo com máfia dos ônibus
Advogado gravado oferecendo R$ 3 milhões pela morte de Vinicius Gritzbach, delator do PCC, é acusado de lavar dinheiro da facção na UpBus
atualizado
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São Paulo — Um advogado gravado oferecendo R$ 3 milhões pela morte de Vinicius Gritzbach é o elo entre a execução do delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), ocorrida na última sexta-feira (8/11), no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, e o esquema de lavagem de dinheiro da facção criminosa por meio de empresas de ônibus que operam linhas na capital paulista.
Um áudio entregue pelo delator ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) registra uma conversa atribuída a um policial civil que teria atuado no Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e ao advogado Ahmed Hassan (foto em destaque), conhecido como Mude, que chegou a ser preso neste ano acusado de atuar na lavagem de dinheiro do PCC por meio da UpBus, empresa que atua na zona leste paulistana.
O material, ao qual o Metrópoles teve acesso, foi gravado pelo próprio Vinicius, sem que os interlocutores soubessem, e entregue ao MPSP. Na conversa, a oferta pela morte do empresário é de R$ 3 milhões e é atribuída por Vinicius a Mude.
“Você acha que três [milhões] vai?”, pergunta o advogado. “É, pensa nos três, vai pensando, me fala depois”, responde o policial. “Mas você acha que ‘tá’ fácil resolver ou ‘tá complicado’?”, questiona Mude, ao que o policial afirma: “Tá fácil, facinho”.
O advogado Ahmed Hassan ainda pergunta se “o passarinho tá voando direto” — se Gritzbach está saindo de casa. O policial responde que “às vezes voa, só que tem um segurança”.
Ahmed Hassan, o Mude, era acionista da empresa de ônibus UpBus, que opera linhas na zona leste de São Paulo, e foi um dos 13 presos na Operação Decurio, em agosto deste ano. Posteriormente, ele passou a cumprir a pena em prisão domiciliar.
Lavagem de dinheiro
Mude é citado em peça do MPSP que afirma que gravações mostram que ele “fez tábula rasa do compromisso ético assumido junto à Ordem dos Advogados [OAB], intermediando o pagamento de propina a policiais e chegando a adquirir cocaína do seu ‘cliente’, na atual sede da UpBus”.
Ele também é citado por ter sugerido a instalação de um escritório dentro da UpBus com objetivo de blindar o local de ações policiais.
O advogado é apontado como suspeito de diversas operações de lavagem de dinheiro. Um relatório de inteligência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do governo federal, mostra que, entre 2019 e este ano, Mude recebeu R$ 27 milhões em suas contas.
Um dos exemplos de operações suspeitas é que ele declarou ter adquirido US$ 488 mil em 2022, “período em que seu acréscimo patrimonial teve como lastro os supostos lucros distribuídos da UpBus Qualidade em Transportes S.A., que declarou prejuízo de R$ 510.608,00”.
A apuração do MPSP também afirma que ele utilizou uma empresa do ramo imobiliário para a lavagem do dinheiro, a AHS. Inquérito apurou que a empresa registrou aquisição de R$ 15 milhões em imóveis.
A conexão de Gritzbach e Mude se dá por meio de integrantes do PCC, como Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta. O delator executado no Aeroporto de Guarulhos na semana passada era acusado de lavar dinheiro para Cara Preta e de envolvimento no assassinato do traficante do PCC — Gritzbach admitiu ter lavado dinheiro para membros da facção em sua delação, mas sempre negou participação na morte dele.
O Metrópoles não conseguiu localizar Ahmed Hassan nesta terça-feira (12/11). O espaço segue aberto para manifestação.
Empresas de ônibus
Após as suspeitas de ligação do PCC com a UpBus e a Transwolff, a Prefeitura de São Paulo contratou uma auditoria para verificar a atuação delas. Ambas acabaram notificadas, em processo que pode acabar com o rompimento do contrato com as empresas de ônibus.
Há sete meses, as duas empresas estão sob intervenção da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) por suspeita de manter ligação com o PCC.