Acidente fatal com outro Porsche em SP segue sem conclusão após 1 ano
Em 2023, uma auxiliar de limpeza morreu atropelada por um Porsche, e o caso foi registrado na delegacia que investigou Fernando Sastre
atualizado
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São Paulo — Enquanto o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24 anos, está preso e já é réu por provocar a morte de um homem de 52 anos com seu Porsche, em março passado, um outro acidente de trânsito com vítima fatal envolvendo o mesmo modelo de carro de luxo e sob investigação na mesma delegacia, na zona leste de São Paulo, segue sem conclusão após mais de um ano da data da ocorrência.
No dia 18 de janeiro de 2023, o empresário Fabio da Silva Oliveira, de 39 anos, dirigia um Porsche 911 Carrera, ao lado da namorada, na Avenida Senador Abel Ferreira, na Vila Regente Feijó, zona leste. Segundo o boletim de ocorrência, às 22h22, ele atropelou a auxiliar de limpeza Simone Ferreira, de 51 anos, que atravessava a via. Ela foi socorrida, mas morreu no hospital, de politraumatismo e após perder um braço no atropelamento.
Registro policial
Segundo o registro, feito no 30° Distrito Policial (Tatuapé), o mesmo do caso atual, Fabio permaneceu no local do acidente. Aos policiais militares que atenderam a ocorrência, ele relatou que estava em um semáforo fechado e, quando abriu, trafegou cerca de 50 metros, atingindo “no máximo a 50 km/h”. De repente, segundo ele, viu um “vulto” passar ao lado direito do carro, seguido de um impacto.
O empresário estacionou o Porsche em uma rua próxima. Quando desceu, viu que havia atropelado uma mulher. Ele solicitou socorro e acionou uma viatura da Polícia Militar (PM) que passava pelo local. Ainda de acordo com o registro policial, Fabio se recusou a fazer teste de bafômetro, mas afirmou ter ingerido um copo de cerveja na tarde daquela quarta-feira. Segundo os PMs, o empresário não apresentava sinais de embriaguez.
Durante o exame do Instituto Médico Legal (IML), feito já na madrugada do dia seguinte, o empresário não permitiu a coleta de sangue — que poderia verificar a presença de álcool na corrente sanguínea — e se recusou a tirar a roupa para o exame físico, procedimento necessário para a perícia. No IML, ele mudou a versão inicial e afirmou ter bebido “três latas médias de cerveja cerca de cinco horas antes da ocorrência”, segundo o laudo.
A conclusão do exame indicou “não haver elementos que permitam afirmar sequer que o periciado [Fabio] esteja alcoolizado” durante a avaliação. A perícia concluiu, então, que o empresário não estava embriagado.
Quase 1 mês depois
Os PMs afirmaram que “não obtiveram informações da presença de outras eventuais testemunhas” no local, mas que “algum sistema de monitoramento de câmeras” nas imediações, “inacessíveis em razão do horário”, poderiam ter flagrado o momento do acidente.
Somente quase um mês após o acidente, a pedido da defesa da família de Simone, a Polícia Civil solicitou imagens de câmeras de monitoramento para a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e para uma loja próxima ao local do atropelamento.
A CET respondeu que não dispunha de imagens de monitoramento de trânsito do local ou próximo dele, nem foram registradas imagens ou passagens do Porsche em equipamentos instalados nas proximidades. Já a loja informou que as imagens se perdem no sistema de gravação, “devido a capacidade do HD”, que armazena os arquivos por 15 dias — a solicitação foi realizada pela polícia 27 dias depois do acidente.
Defesas
Ao Metrópoles, a advogada Milca Carvalho, que representa a família da vítima, afirmou que a polícia não fez “o básico” na investigação. “Por algum motivo, não fizeram a diligência necessária para esse caso, tanto que o carro do Fabio não foi periciado, o Fabio não fez o teste do bafômetro e foi liberado. A polícia não vasculhou o local logo em seguida [ao atropelamento], nada disso foi feito”, disse.
O advogado Ricardo Martins, que defende o empresário, alega que Simone atravessou fora da faixa de pedestres e que o local do acidente era pouco iluminado. “O Fábio esteve presente a todo momento e foi comprovado que não havia ingerido bebida alcoólica. A própria polícia pediu para tirar o carro do local”, disse ao Metrópoles.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou, em nota, que o inquérito policial foi relatado à Justiça em abril de 2023. “Posteriormente, a ocorrência foi devolvida à unidade para cumprimento de cota, as quais foram concluídas no mesmo mês, sendo então remetida novamente ao Poder Judiciário”, disse a pasta.
O Metrópoles teve acesso ao inquérito policial e constatou que, após a equipe de investigação retornar a ocorrência, houve novamente devoluções do Ministério Público de São Paulo (MPSP) e da Justiça, para que se recolhesse mais evidências do caso, como a identificação de uma possível testemunha e análise de vídeos coletados pela defesa da vítima. O caso retornou à delegacia pela última vez ainda em fevereiro deste ano.