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Com ataques fatais, abelhas matam mais do que escorpião e cobra em SP

Dados oficiais mostram que abelhas foram responsáveis por 40% das mortes provocadas por animais peçonhentos em 5 anos no estado

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Arte gráfica colorida de mulher gritando, protegendo rosto com as mãos espalmadas, de enxame de abelhas - Metrópoles
1 de 1 Arte gráfica colorida de mulher gritando, protegendo rosto com as mãos espalmadas, de enxame de abelhas - Metrópoles - Foto: Otávio Augusto/Metrópoles

São Paulo — As abelhas africanizadas são responsáveis por 40% das mortes envolvendo animais peçonhentos no estado de São Paulo em pouco mais de cinco anos. O número de vítimas fatais é alto, considerando que o inseto está envolvido em apenas 7,6% do total de acidentes com bichos venenosos no período.

Dados do Centro de Vigilância Epidemiológica, ligado à Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento, mostram que, entre 2019 e junho deste ano, 133 pessoas morreram em acidentes envolvendo animais peçonhentos no território paulista.

Desse total, 54 foram causadas exclusivamente por abelhas Apis melífera, única não nativa e com ferrão e veneno, de um total de 60 espécies do inseto catalogados no estado. Elas deixam para trás escorpiões e cobras, que tiraram a vida de 44 e 31 vítimas no período, representando, respectivamente, 33% e 23% do total de mortes.

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As abelhas possuem essa sensibilidade
Homem de 84 anos morreu após levar mais de 100 picadas de abelha no interior de São Paulo
A abelha Melina está com a asa quebrada e recebe cuidados de Dan
Sonhar com abelhas está relacionado a carreira
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As abelhas possuem essa sensibilidade

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Homem de 84 anos morreu após levar mais de 100 picadas de abelha no interior de São Paulo

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A abelha Melina está com a asa quebrada e recebe cuidados de Dan

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Sonhar com abelhas está relacionado a carreira

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Homem de 84 anos morreu após levar mais de 100 picadas de abelhas no interior de São Paulo

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Vencedor da categoria Natureza: Lucas Mello

Lucas Mello
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Professor relata que moradores destroem colônia de abelhas sem ferrão, por não saberem que são inofensivas

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Abelhas nativas sem ferrão têm comportamento diferente das exóticas, com ferrão

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Professor de Zootecnia da UEG, João Vitor, cria colônia de abelha tiúba

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Colônia de abelha tiúba, legítimas do Cerrado e sem ferrão

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Abelhas do tipo Iraí em árvore de bairro residencial de Goiânia

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Colônia se divide e metade do enxame busca outra moradia com nova rainha

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As abelhas são do tipo que possui ferrões

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Única espécie que mata

“Essas são as abelhas que atacam pessoas. Elas são muito mais resistentes a pragas, doenças, produzem mais mel, mas também são mais defensivas com suas colônias”, afirma ao Metrópoles a especialista ambiental Carolina Matos, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria da Agricultura.

Ela acrescentou que as outras espécies que vivem no estado, nativas da região, contam com ferrões atrofiados e, por isso, não conseguem ferir ninguém. Já a espécie africanizada desenvolveu ferrão e a apitoxina, ou seja, o veneno envolvido nas fatalidades.

As mortes decorrentes de ferroadas de abelhas são chamadas de acidentes porque os insetos não atacam gratuitamente as vítimas. Elas reagem quando sentem que a rainha corre algum perigo. Isso pode ser desencadeado, explica Carolina, por fortes odores, como o de perfumes ou colônias, som alto, ou até mesmo roupas de cores escuras, que incomodam essas abelhas.

Marcado para morrer

Caso identifiquem o que consideram uma ameaça, as abelhas literalmente dão a própria vida para proteger a colônia. Para isso, ferroam o alvo, deixando parte do abdômen para fora do corpo. A toxina, então, é injetada na vítima e segue entrando no corpo, por causa da continuidade do movimento do abdômen solto do inseto, que faz uma espécie de bombeamento do veneno.

“Elas não atacam a esmo, precisam se sentir ameaçadas. Depois que a primeira ferroada é dada, a pessoa, ou animal, se torna um alvo porque, além do veneno, a vítima fica marcada e emite um cheiro, um feromônio, que excita as outras abelhas que começam, então, a defesa da colônia”, explicou a especialista.

Uma colmeia de abelhas africanizadas é habitada por mais de 60 mil indivíduos, dos quais pelo menos mil costumam atacar um alvo. Mesmo não tendo alergia à toxina, a quantidade de veneno injetada no corpo, por centenas de abelhas, pode resultar na morte da vítima. É o que mostram as estatísticas oficiais do governo paulista.

“Para se ter uma ideia, são necessárias cerca de 500 ferroadas para uma pessoa de 65 quilos correr o risco de morrer”, explica a pesquisadora.

Abelhas ferem 30 em ataque

O ataque, dependendo da localização geográfica, como em áreas urbanas, pode se estender a outros alvos, aumentando ainda mais as chances de mortes e hospitalizações. Foi o que aconteceu em 5 de abril deste ano em uma cidade do interior de São Paulo.

Como mostrou o Metrópoles, um enxame com cerca de 10 mil abelhas africanizadas feriu ao menos 30 pessoas em Américo Brasiliense, no interior paulista. Uma das vítimas foi picada mais de 50 vezes e precisou ser hospitalizada. Ela se recuperou e teve alta.

As abelhas foram retiradas da região por um apicultor profissional (assista abaixo), na noite do dia seguinte, e levadas para uma reserva com apoio dos bombeiros e da Defesa Civil.

 

Antes disso, elas estavam há bastante tempo em um imóvel dos anos 1960, que passava na ocasião por reforma, após ser vendido. O local fica próximo da região central da pequena cidade, onde há uma agência bancária. O ataque ocorreu em uma sexta-feira, quinto dia útil do mês, com bastante movimento por causa do pagamento dos salários de parte expressiva da população.

O grande número de pessoas em circulação, mais o cheiro de solvente em um posto de combustível próximo, acabou levando à ação das abelhas, segundo o coordenador municipal da Defesa Civil de Américo Brasiliense, Valmir Pereira Lupe. Isso reforça o que a especialista Carolina Matos pontua sobre os fortes odores e barulhos.

Ferroadas fatais em 2024

Entre 1º de janeiro e 4 de junho desta ano, data da mais recente atualização estatística do governo, ao menos oito pessoas morreram após os 3.128 ataques de abelhas registrados no estado de São Paulo no período. Sete foram no interior e uma no litoral.

Um dos casos envolveu o aposentado João Elias Severino Filho, de 84 anos, em 12 de março, na cidade de Santa Cruz do Rio Pardo, interior paulista.

Registros da Polícia Civil, obtidos pelo Metrópoles, mostram que ele já foi encontrado sem vida, com marcas de ferroada de abelha, em uma região rural. A causa da morte, como mostra exame necroscópico, resultou de “edema agudo de pulmão, de glote, com obstrução das vias aéreas […] consequentes à ação do veneno de abelhas”.

Quase dois meses antes, o carteiro José Salomão dos Santos, de 58 anos, também foi atacado por abelhas, quando trabalhava em Bertioga, no litoral paulista. A mulher dele relatou à polícia que o companheiro deu entrada no hospital, em 15 de fevereiro, com “múltiplas picadas de abelha”.

Quando foi atacado, ele fazia uma entrega na região central da cidade. Ao perceber a aproximação dos insetos, o carteiro tentou entrar, sem sucesso, no veículo de trabalho para se proteger. Ele foi ferroado e socorrido, não resistindo aos ferimentos posteriormente no hospital.

Espécie nasceu do descuido

A Apis melífera também é chamada de africanizada porque resulta do cruzamento acidental entre abelhas europeias — introduzidas no Brasil no fim do século XIX — e das africanas, trazidas para o interior paulista, por pesquisadores que estudavam a produção de mel, na década de 1950, na região de Rio Claro, no interior.

Por descuido de um funcionário, 26 rainhas da espécie africana escaparam para áreas silvestres e cruzaram com as europeias, resultando no híbrido, que produz mais mel e é mais agressivo ou, como estudiosos do tema preferem dizer, defensivo.

A população da nova espécie cresceu desde então, por não ser alvo de predadores naturais, e já habita as três Américas. Isso resulta de outra característica da espécie, que migra caso não se sinta confortável em determinada região. Caso se deparar com um enxame nômade, em movimento, procure abrigo imediatamente.

Escorpiões clonados por eles mesmos

O médico veterinário Cláudio Camacho Pereira Menezes destaca que os escorpiões, apesar de matarem menos que as abelhas, em São Paulo, estão envolvidos em muito mais acidentes, pelo fato de terem se adaptado “muito bem” ao ambiente urbano.

As abelhas, como mostram as estatísticas oficiais, se envolveram em 22.763 acidentes, entre 2019 e 4 de junho deste ano. Já os escorpiões provocaram 213.320 registros.

Cláudio explicou que o escorpião amarelo é o protagonista exclusivo das estatísticas paulistas. Uma característica reprodutiva rara da espécie, aliada à fartura de presas, como baratas, contribui para o aumento da população no ambiente urbano e, consequentemente, acidentes.

“O escorpião amarelo se reproduz com um processo chamado de partenogênese. Traduzindo: as fêmeas criam como que clones delas mesmas. Elas não precisam de um macho para reproduzir. Ou seja, se somente uma fêmea entrar na sua casa, ela começa a se reproduzir, não precisa de um casal para isso”, afirmou.

Outro elemento que contribui para o alto índice de acidentes com escorpiões, acrescenta, é a urbanização sem planejamento, que resulta em regiões com entulho, sujeira, ou seja, muitos esconderijos para presas dos escorpiões, atraídos pela potencial refeição farta.

Cobras mataram 31

Ainda entre 2019 e junho deste ano, 31 pessoas morreram em decorrência de picada de cobra, de um total de 12.383 acidentes registrados.

Os ataques geralmente ocorrem em áreas rurais, mais por descuido das vítimas, ao caminharem pelo mato sem prestarem atenção onde pisam e aos sinais que os répteis dão, ainda de acordo com o veterinário.

Caso se deparar com um enxames de abelhas, com escorpiões ou cobras, saia de perto deles. Se os animais estiverem em sua casa, acione os bombeiros, por meio do telefone 193. Caso for picado, procure ajuda médica imediatamente.

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