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A rota do crack: como a droga ainda chega ao fluxo da Cracolândia

Entenda como o crack chega até o fluxo da Cracolândia, região com concentração de dependentes químicos, no centro de São Paulo

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Arquivo Pessoal
Fluxo Rua Gusmões Cracolandia
1 de 1 Fluxo Rua Gusmões Cracolandia - Foto: Arquivo Pessoal

São Paulo – O tráfico de drogas que abastece a Cracolândia, no centro da capital paulista, é dominado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). O “fluxo”, nome dado à concentração de dependentes químicos, é só o ponto final da rota do crack.

Atualmente, há oito pontos de concentração no centro de São Paulo e as estimativas de usuários variam entre 600 e 1.000 pessoas.

“Algo que estava nos incomodando é como a droga chega na Cracolândia”, afirmou o delegado Ronaldo Sayeg, diretor Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), após operação que terminou com 11 presos, suspeitos de participar do tráfico na região, no dia 2 de fevereiro. “Apesar de ser algo bastante estruturado, não é nada sofisticado”.

Com base em informações da Polícia Civil e investigações realizadas anteriormente, o Metrópoles explica o passo a passo da rota do crack até chegar à Cracolândia. O esquema envolve tráfico internacional, laboratórios clandestinos espalhados pela cidade e entrepostos para armazenar e esconder a droga.

Tráfico internacional

Consumido em formato de pequenas pedras, aspiradas em cachimbo, o crack resulta da mistura de outra droga, a cocaína, diluída em bicarbonato de sódio ou amônia. A pasta base de coca é a principal matéria-prima.

Sem produção relevante no Brasil, o material ilícito é exportado de países vizinhos, principalmente Bolívia, Peru e Colômbia. Considerada mais lucrativa, a produção de cocaína é prioridade dos criminosos. Se sobra ou estraga, vira crack.

Investigadores relatam que as rotas terrestres são as mais utilizadas por traficantes, que sempre trocam de veículo a cada nova operação. Fronteiras do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, fiscalizadas por forças federais, são tidas como as principais portas de entrada.

Policiais caminham perto de avião que transportava cocaína, no interior de SP

Facções também usam aviões clandestinos, que voam em baixa altitude para tentar fugir do radar e despistar a polícia, segundo indicam apreensões já realizadas. Em janeiro, a Força Aérea Brasileira (FAB) conseguiu interceptar uma aeronave de pequeno porte, no interior de São Paulo, capaz de transportar mais de 1,5 mil quilos de pasta base.

Laboratórios

Uma vez na cidade de São Paulo, a pasta base é levada para laboratórios espalhados por todas as regiões da capital. Na linguagem policial, são as chamadas “casa bomba”.

Os espaços não são sofisticados e, muitas vezes, os criminosos utilizam equipamentos improvisados, como baldes comuns e liquidificadores para produzir e refinar a droga.

São eles os responsáveis por abastecer as biqueiras, como são chamados os pontos de venda de droga.

Só na capital, levantamento do Denarc já apontou a existência de pelo menos 275 lojas do crime, com presença de crack em 80% delas, em 2017. “É como se fosse um fornecedor macro”, diz Sayeg.

A maioria dos laboratórios que produzem droga para Cracolândia, segundo investigadores, fica em bairros da zona leste de São Paulo.

Entrepostos

Com o alto policiamento nas imediações da Cracolândia, no entanto, dificilmente os traficantes levam a droga do laboratório diretamente para o fluxo. Desta forma, a alternativa encontrada é transferir o crack para entrepostos, mais perto do fluxo, que funcionam como espécie de armazém.

Um desses locais, diz a Polícia Civil, é a Favela do Moinho. Instalada às margens da linha do trem da CPTM, a comunidade fica a poucos minutos de distância em percursos a pé.

Investigações também já descobriram entrepostos em ocupações irregulares e até em apartamentos valorizados, próximos à Avenida Paulista.

Formiguinha

Para fazer o crack chegar ao fluxo, de fato, a principal estratégia é uma modalidade conhecida por “formiguinha”. Nela, as pedras são transportadas em pequenas porções por pessoas com menor chance de chamar atenção da polícia.

Para isso, o PCC usa idosos, mulheres e até crianças, os chamados “travessias” ou “soldados”, que recebem pequenos valores ou ficam com parte da droga. Na última operação, policiais do Denarc chegaram a deter uma gestante que atuava assim. Presa em flagrante, ela entrou em trabalho de parto na delegacia.

Na modalidade “formiguinha”, a droga é escondida de diversas formas. Entre as apreensões, agentes da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana (GCM) já encontraram crack em embalagem de remédio, miolo de pão e carrinho de bebê.

Outra forma é o “delivery da droga”. Nesse caso, motoristas levam o crack, de carro ou de motocicleta, até um dos traficantes da Cracolândia e foge do local em seguida.

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