A relação de Marcola com o “salve geral” para atacar agentes em SP
Policiais penais apreenderam carta assinada pela Sintonia Geral do PCC com orientações para identificar agentes que seriam alvos de ataque
atualizado
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São Paulo — Em um “salve geral” do Primeiro Comando da Capital (PCC) apreendido nesta semana, na Penitenciária de Parelheiros, zona sul de São Paulo, integrantes da facção criminosa explicam a motivação do plano de ataque a policiais penais que trabalham no sistema prisional paulista.
Como mostrou o Metrópoles nesta sexta-feira (11/10), cartas semelhantes a que foi interceptada no presídio de Parelheiros também teriam sido encontradas em outras unidades prisionais, ainda não especificadas. Os “salves” já são monitorados pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público (MPSP).
Em um trecho do “salve” apreendido, ao qual a reportagem teve acesso, a Sintonia Final do PCC afirma que irão ocorrer “represálias na rua” resultantes “do que estão fazendo com nosso irmão Marcola”, referindo-se a Marco Willians Herbas Camacho, líder máximo da maior facção criminosa do país.
A Sintonia Final é composta por líderes da cúpula do PCC, que usam a instância máxima do crime para tomar decisões e ordenar suas execuções dentro e fora dos presídios.
Marcola está detido atualmente na Penitenciária Federal de Brasília (DF), onde permaneceu em regime de isolamento prolongado até setembro, sem convívio com outros presos.
“Paz para todos”
Datado de 17 de setembro, o “salve” da facção paulista primeiramente deseja “paz para todos os integrantes do PCC” direcionando a mensagem para os “respectivos jets”, em referência aos criminosos responsáveis pelos presos de pavilhões ou raios dos presídios para os quais a mensagem foi direcionada.
“Os tiranos vem nos oprimindo e todos nós sabemos que o sistema está em alerta há uns anos. Onde que não somos refém de ninguém [sic] e em cima dessa causa que estão fazendo com o nosso irmão Marcola vão ter represálias na rua”.
Para isso, como já mostrado pelo Metrópoles, o “salve” ordena para que os “jets” providenciem o levantamento dos nomes e endereços de dois agentes por unidade prisional, no prazo de 30 dias, que vencem no próximo dia 17/10.
Há, ainda, outra determinação no documento apreendido na penitenciária da zona sul paulistana. Os “jets”, também com “caráter de urgência”, devem informar se as unidades onde estão presos há bloqueadores de sinal de celular, além de condições de não deixar rastros ou provas da articulação feita para os eventuais ataques. O “salve” também solicita que seja especificada “a dificuldade dos irmão” [sic] para cumprir a missão.
“Daremos todo o suporte para que colocaremos [sic] a unidade no ar [fique com comunicação] onde com caráter de urgência nos manda [sic] esse requisitos citados acima. Ass: Sintonia Final.”
Agentes de prontidão
Após as apreensões dos bilhetes, os agentes penitenciários de São Paulo ficaram alertas e estão de prontidão.
Fábio Jabá, presidente do sindicato que representa a categoria, afirmou ao Metrópoles, nesta sexta-feira (11/10), que a dinâmica do trabalho dos agentes os deixa expostos e sem segurança quando estão nas ruas.
“Nós trabalhamos 12 horas [por turno] com pessoas presas e perigosas, ainda mais em São Paulo onde tem o PCC. Nós reivindicamos do governo um maior cuidado com a categoria, para que tenha no mínimo o direito de se defender”, disse, acrescentando que os agentes não contam com porte de arma institucional.
Sobre os recados encontrados com presos, para o eventual ataque a agentes, ele afirmou que, neste caso, é possível se preparar, diferentemente de 2006 e 2012, quando o PCC promoveu a carnificina de profissionais da segurança pública e da administração penitenciária paulista.
Em 2006, segundo o presidente do sindicato, foram 19 agentes mortos. Em 2012, mais 12. De lá até o momento, ao menos 30 profissionais do sistema carcerário morreram nas mãos de criminosos.
Administração Penitenciária e Segurança Pública
Em nota encaminhada ao Metrópoles, no fim da tarde desta sexta-feira, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) não comenta sobre os salves do PCC interceptados nas unidades e quais medidas teriam sido tomadas com os presos flagrados com as mensagens.
A pasta comenta somente que, com a criação da Polícia Penal, a qual começa a atuar em 2025, agentes que atualmente trabalham desarmados nos presídios “serão capacitados”. “Não terá o porte quem não manifestou interesse e não cumpriu os requisitos legais”.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo também foi questionada sobre como as polícias Civil e Militar irão, ou já atuam, com relação aos eventuais ataques sugeridos nos salves. Nenhum posicionamento foi encaminhado. O espaço segue aberto.