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Enem 2019: “Dia D” está chegando. Não jogue fora a preparação

No próximo domingo (03/11/2019), mais de 5,1 milhões de candidatos fazem as provas de linguagens, de humanidades e de redação

atualizado

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Lápis em cima de papel
1 de 1 Lápis em cima de papel - Foto: IStock

A expressão Dia D é utilizada desde a Primeira Guerra Mundial, no contexto militar, para se referir ao dia em que um importante ataque ou operação será executada. O mais famoso da história militar foi em 6 de junho de 1944 — o dia em que a Batalha da Normandia começou — iniciando a libertação do continente europeu da ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Popularmente, usa-se, também, Dia D para se referir a uma data especial e muita esperada, que é planejada e para a qual o indivíduo se prepara com bastante antecedência.

No próximo domingo (03/11/2019), milhões de estudantes de todo o Brasil vão fazer as provas do primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o famoso primeiro Dia D do processo seletivo. Este será o domingo das provas de linguagens, de humanidades e de redação. As tomadas de decisão desta semana são importantes para não “se jogar fora” todo um ano de preparação afiada.

Reorganize seu plano de estudos. Agora não é mais o momento de estudar. Sua preocupação, nesta semana final, deve estar em treinar. Faça provas anteriores (sugiro as provas do Enem primeira aplicação, ou provas do Enem PPL — caso já tenha feito muitas provas antigas do Enem — aconselho treinar utilizando as provas da UERJ, exame de qualificação). Mas lembre-se: Não estude, treine!

Simule tempo de prova, confira o gabarito e identifique seus erros. Eles podem ser classificados em dois tipos: os de falta de atenção (tipo I) e os por não dominar o conteúdo avaliado (tipo II). Nesses próximos dias, esteja atento em diminuir os “vacilos” (tipo I) e em potencializar leitura e interpretação de questões treinando habilidade de provas com o objetivo de atenuar os erros do tipo I.

Para evitar o aumento da ansiedade e do nervosismo, não é o momento de se preocupar com aqueles assuntos que você identificou “não saber”: os erros do tipo II. Na hora da prova, caso tenha de enfrentar questões que avaliem um assunto que você não domine: use a estratégia! Recomendo pular (não demore muito tempo para tomar essa atitude), deixar para o final e, em último caso, chutar!

Em entrevista para a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, informou que está tudo pronto para o Enem 2019. As provas já foram todas distribuídas e estão prontas para serem aplicadas aos cerca de 5,1 milhões de participantes inscritos nesta edição.

Lopes voltou a afirmar que essa prova não apresentará grandes mudanças em relação aos exames anteriores. “Utilizamos questões que já estavam no banco de itens, então, não há nenhum tipo de direcionamento na prova. A prova é normal, como nos anos anteriores, só evitando polêmicas”.

Alexandre Lopes alerta que este ano há um reforço na questão da segurança da prova e, sendo assim, é importante lembrar que qualquer dispositivo eletrônico que toque durante a prova, mesmo dentro do saquinho guardado embaixo da carteira, vai levar à eliminação do participante.

Para auxiliar seus planos de batalha do primeiro Dia D de provas do Enem 2019, convidei autoridades em linguagens e em humanidades para que resolvessem e comentassem algumas questões do Enem 2018. Confira:

Resolução e comentário do professor Rafael Riemma (@rriemma)
O primeiro passo para uma leitura eficiente de um item do Enem é a leitura do enunciado. Nele, percebe-se que o comando da questão pede que o candidato identifique a alternativa em que se há uma marca da função referencial da linguagem. Entre as principais marcas dessa função podemos citar: linguagem denotativa, objetividade e impessoalidade.

Dessa forma, as alternativas C, D e E apresentam características de outras funções da linguagem. Na letra C, a metáfora pode aparecer nas funções poética ou emotiva; na letra D, o código explicando o próprio código é a definição da função metalinguística; e, na letra E, a adjetivação marca opinião e subjetividade, traços da função emotiva.

Restam, agora, apenas duas alternativas: A e B. Entre elas, a alternativa B recorre a um processo de escolha vocabular que não é marca de função da linguagem, cuja consequência do uso pode contribuir para a construção da função informativa. A letra A (e gabarito), portanto, apresenta, de forma bem evidente, duas características marcantes dessa função: a impessoalidade e a objetividade.

Resolução e comentário do professor Cássio Tunes (@tunescassio)
A questão trata do Movimento dos Direitos Civis nos EUA, em 1954-1968, contra a legislação racista dos estados sulistas pela aplicação das garantias constitucionais de isonomia aos cidadãos negros e de medidas contra a discriminação racial no país como um todo.

Caracterizado pela defesa de estratégias de não-violência, de desobediência civil e de manifestações de rua para mobilizar a opinião pública e pressionar as autoridades federais, o Movimento dos Direitos Civis teve em Martin Luther King Jr o líder mais renomado. Diversos episódios ficaram famosos na luta dos negros pelos direitos, entre eles o citado no texto, envolvendo a ativista Rosa Parks, ocorrido em dezembro de 1955, em Montgomery, no estado do Alabama.

Na ocasião, Parks recusou obedecer as ordens do motorista do ônibus que a transportava para que cedesse lugar a passageiros brancos, como determinava uma lei estadual (os negros só podiam ocupar bancos no fundo do ônibus, mas teriam que cedê-los para passageiros brancos sem assentos). Rosa Parks foi presa pela desobediência, desencadeando um boicote dos negros aos ônibus de Montgomery em protesto contra o sistema segregacionista de transporte urbano — um marco que, simbolicamente, desencadeou o Movimento dos Direitos Civis, pelo menos no sentido de mobilizações e manifestações populares. No ano seguinte, a Justiça Federal considerou que a lei estadual racista era inconstitucional.

Nesse sentido, a resposta correta é o item D que considera o episódio como o momento de “deflagração do movimento por igualdade civil”. Os demais itens estão errados pelas seguintes razões:

  • Item A: o episódio não tem absolutamente nada a ver com a questão armamentista, uma característica, sim, da época (Guerra Fria e corrida nuclear EUA-URSS) porém dissociada do caso citado no texto;
  • Item B: o episódio girou em torno da luta pela igualdade de direitos civis, no caso centrado na questão do transporte urbano, ainda que a ampliação do acesso de estudantes negros a escolas e faculdades exclusivas de brancos também tenha sido parte do movimento;
  • Item C: o preconceito era de raça e não de gênero;
  • Item E: o movimento não foi exclusivamente de jovens ou uma “rebeldia juvenil”. Na época dos acontecimentos, Martin Luther King Jr de fato era jovem (tinha 26 anos, Rosa Parks tinha 42), mas o movimento envolveu pessoas de diversas gerações.

Resolução e comentário do professor Cássio Tunes
A questão trata da Revolta da Chibata ou Revolta dos Marinheiros, de 1910, como indicado no título da fonte utilizada, confirmando o que o texto sugere. O motim, liderado por João Cândido Felisberto, foi precipitado pela aplicação do castigo físico (as chibatadas) sobre um marinheiro como punição por ter ferido outro marujo com uma lâmina de barbear.

Os castigos físicos tinham sido abolidos na Marinha em 1889, com a instalação da República, mas foram restaurados no ano seguinte como medida corretiva em situações especiais. A aplicação nesse episódio resultou na rebelião da “marujada” contra os oficiais, entre 22 e 26 de novembro daquele ano. Porém, as causas do motim foram mais complexas e incluíram a insatisfação com os baixos soldos e a alimentação, em um ambiente de trabalho caracterizado pelo racismo e preconceito social (oficiais brancos de origem nas camadas sociais mais altas ou médias e marinheiros negros de famílias pobres de origem escrava) — um microcosmo que refletia a estrutura da sociedade brasileira fortemente marcada pela herança da escravidão, abolida 22 anos antes.

Castigos físicos tinham sido comuns nas Forças Armadas de outros países, inclusive não escravistas, mas, na Marinha do Brasil, costumes de origem escravista reforçaram a permanência do uso da chibata sobre marinheiros negros, imposta por oficiais brancos.

Assim, entre as opções de itens, a correta é o item E, que cita a “manutenção da mentalidade escravocrata na oficialidade após a queda do regime imperial”. Os demais itens estão errados pelas seguintes razões:

  • Item A: não há nenhuma relação entre recrutamento de civis analfabetos na Marinha, guerras externas e a revolta;
  • Item B: os militares positivistas atuavam mais no Exército e, embora parte estivesse insatisfeita com a política dos governadores (considerada um “desvio” oligárquico da República que ajudaram a criar), eles não tiveram nenhuma participação na revolta;
  • Item C: a revolta foi de marinheiros e não de comandantes, muito menos dos envolvidos na repressão de revoltas milenaristas, como em Canudos, onde os oficiais eram do Exército;
  • Item D: a revolta foi de marinheiros e não de trabalhadores rurais.

Resolução e comentário do professor Nei Vieira (@nei_vieira)
O assunto principal do texto, como você pode notar, é a criação de chuveiros em ônibus urbanos desativados para moradores de rua da cidade de São Francisco. Com base na leitura, há aproximadamente 4,3 mil moradores de rua na cidade, que não têm acesso a questões higiênicas, como o simples ato de tomar banho.

Uma ex- executiva da área de marketing está à frente deste projeto, que pretende atingir a marca de 2 mil banhos por semana. O projeto pretende criar “estações de banho” para essas pessoas.

Sendo assim, percebemos que não há relação alguma dos vocábulos apresentados com as demais alternativas, uma vez que não existe referência à criação de lava jatos para ônibus (A), transformação de moradores de rua em motoristas de ônibus (C) e que haja alguma exigência para a as autoridades instalarem banheiros nos ônibus (D). A alternativa (E) não tem sustentação, uma vez que 2 mil banhos por semana são esperados a partir desse projeto e não o que propõe o item. Gabarito seria a alternativa B, criar acesso a banhos gratuitos para moradores de rua.

Resolução e comentário do professor João Augusto (@joao_augustogc)
Gabarito: alternativa D

  • Item A: nos dias atuais da urbanização é possível observar um processo de desmetropolização e de crescimento das cidades médias — visto as novas relações econômicas entre Estado e empresas — assim, a alternativa apresentou um processo que não anda ocorrendo na contemporaneidade;
  • Item B: a criação de novos municípios não é pertinente ao problema apresentado pela questão visto que não apresenta a complexidade dos espaços urbanos contemporâneos, uma vez que esses municípios nascem com a configuração arcaica de sempre;
  • Item C: a consolidação do domínio jurídico do meio urbano não representa um aumento de complexidade da contemporaneidade e sim um avanço de tempos anteriores;
  • Item D: nos dias atuais, a hierarquização urbana apresenta uma dinâmica diferente, as redes passam a ser formadas por cidades de diversas escalas. Desse modo, temos um aumento na complexidade dos vários espaços urbanos dada a articulação dessas cidades;
  • Item E: a redefinição de regiões administrativas significa apenas uma ressignificação no status de uma cidade, esse processo, no entanto não indica um fator de aumento da complexidade do espaço urbano.

Resolução e comentário do professor João Augusto
Gabarito: alternativa C

  • Item A: vegetação não é condição para formação de um ciclone, esse fenômeno necessita de uma quantidade de água muito grande. Logo, tende a ocorrer nos oceanos, pouco importando o porte arbóreo das áreas que atinge;
  • Item B: barreiras orográficas ou barreiras de relevo com altitudes elevadas também não são condições, inclusive, podem ser responsáveis por impedir a “propagação” do ciclone;
  • Item C: a formação de um ciclone depende da ocorrência de uma zona de baixa pressão atmosférica onde, devido à alta temperatura da água e do próprio ar, geram o ambiente ideal para formação de grandes nuvens que ganham movimento giratório devido aos ventos transversais da região;
  • Item D: o grau de refletividade da superfície continental não influencia na formação de ciclones, visto que esses precisam de grande quantidade de água e por isso são formados nos oceanos e não em regiões do continente;
  • Item E: a orientação das correntes marinhas também não apresentam-se como condição para formação deste fenômeno pois a principal característica do meio físico para tal é a temperatura da água (que deve estar quente <27°C) e não a direção.

Resolução e comentário do professor Marcelo Freire (@freire.marcelo)
Esse mesmo poema de Manoel de Barros, o mais aclamado poeta contemporâneo, também foi utilizado em outra edição do Enem, na segunda aplicação de 2013. Em certos momentos, comparado a João Guimarães Rosa, o lirismo proporciona um redimensionamento do olhar poético para os elementos da natureza.

Na questão, o comando traz o verbo “questiona” no sentido de estranhamento do eu lírico em relação ao uso do vocábulo “enseada”. A alternativa A está errada porque a terminologia não está errada, pelo contrário: apenas não é poética. A alternativa B é a correta, pois a nomenclatura padrão desconsidera a visão lírica do rio. A alternativa C está errada porque a palavra é aplicada justamente no espaço do eu lírico. Já a D está errada porque a atribuição dada ao termo é adequada. Por fim, a alternativa E está errada por se tratar de termo com significado equivalente no dicionário.

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