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Seleção Brasileira: o que deve (ou não) ir para a conta de Tite?

Se o nível coletivo impulsionou o time na preparação para a última Copa e o elevou ao status de favorito, agora, o desempenho não satisfaz

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Brazil v Nigeria – International Friendly
1 de 1 Brazil v Nigeria – International Friendly - Foto: Allsport Co./Getty Images

Mais uma data Fifa chegou ao fim e algumas discussões se repetem. Até que ponto há interesse pela Seleção? Qual o valor dos amistosos, o peso dos desfalques no Brasileirão, os seguidos tropeços, o nível dos adversários… São tantos tópicos, e cada um merece sua devida avaliação. Ou deveria receber, pelo menos. Só que não é de hoje que o desgaste joga tudo para a mesma conta, transformando a antipatia em atalho.

O Brasil tem jogado mal desde o fim da Copa do Mundo de 2018. A sensação é de que o trabalho involuiu desde então. Se o nível coletivo impulsionou o time na preparação para o último mundial e o elevou ao justo status de favorito na época, agora, o funcionamento tem sido diferente e o desempenho não satisfaz. Não é que Tite não venha tentando, mas as respostas seguem distantes. Talvez o início da mudança na forma de atacar tenha se dado pouco antes da Copa, quando o treinador falava sobre o desafio de furar linhas de 5. Naquele período, o Brasil passava a estabelecer a ocupação de alguns espaços como pré-requisito na distribuição das peças ofensivas. A contrapartida já foi uma menor aproximação entre alguns dos jogadores mais criativos.

Um ano depois, nomes, posições e funções são diferentes. Firmino não conta com a liberdade para flutuar como o facilitador que é no Liverpool. Para sair e circular, o movimento pede a chegada dos outros atacantes de lado, que não necessariamente devem abrir o campo nas pontas. Na Inglaterra, Firmino frequentemente se posiciona atrás de Salah e Mané. Poderia fazer o mesmo com Gabriel Jesus, Neymar, Richarlison ou Everton. Talvez Jesus seja o único que conseguiu corresponder em alguns dos últimos jogos. Aberto na direita, espera pelo momento em que é acionado para buscar uma arrancada ou diagonal. Pode ter relação com o fato de o Manchester City definir bem as áreas do campo que devem ser ocupadas para cada ação ofensiva. Ter pontas que ataquem por dentro também poderia ajudar uma das melhores novidades da temporada: Renan Lodi. O segundo tempo contra a Nigéria já mostrou uma dinâmica diferente do primeiro, em que atacar por dentro travou sua melhor virtude: as ultrapassagens para ser acionado indo ao fundo.

O ritmo lento dos amistosos pode ter vários motivos. O calor, o gramado, o fuso… Escolhas discutíveis por parte da empresa que controla os compromissos da Seleção. Ponto a ser atacado na CBF. Rapidamente, os questionamentos chegam aos adversários. Peru, Colômbia, Senegal e Nigéria, os últimos quatro. A incapacidade de imposição é um sinal alarmante de que o desempenho não tem sido bom. Mas também não é verdade que são jogos inúteis. Se não são seleções do primeiro nível mundial, são times competitivos e capazes de criar desafios válidos para uma equipe em busca de testes, alternativas e soluções. A repetição de duelos sul-americanos é, de fato, cansativa. Senegal e Nigéria reúnem jogadores de ligas importantes da Europa.

Negar que exista futebol fora dos rivais europeus é uma desonesta e simplista tentativa de desqualificar tudo para facilitar a conclusão, pulando etapas. Por esta linha, passa a ser desnecessário assistir ao jogo para tirar conclusões, já que as ideias estão todas pré-estabelecidas.

Talvez o maior motivo para a impaciência seja a parte mais básica da discussão: o efeito data Fifa no futebol brasileiro. Se a Seleção não empolga e merece críticas pelo desempenho recente, a rejeição fica ainda maior pelo impacto no calendário. O fato de o Brasileirão ignorar as semanas reservadas para as seleções faz com que surja o sentimento de concorrência e de rivalidade entre produtos que não deveriam competir.

O desgaste por desfalques de convocações só acentua o prejuízo: joga contra o trabalho da própria Seleção, distorce as cobranças sobre a comissão técnica e interfere na qualidade da principal competição nacional. Novamente, conta da CBF.

Só que a discussão sempre começa de trás para frente. Data Fifa é a primeira etapa da construção da agenda mundial do futebol. Ninguém precisa gostar dela, mas é necessário compreender as consequências. Discutir o impacto de uma convocação ou escalação sob o ponto de vista do desfalque para A ou B no campeonato é um erro por si só, já que só alimenta a guerra de discursos e teorias sobre quem é mais prejudicado. Qualquer treinador de seleção será cobrado por seu trabalho, e não deveria ficar preocupado em gerenciar a gritaria nacional sobre quem deve viajar ou entrar em campo para justificar a convocação.

A inversão de valores alivia a responsabilidade dos clubes em um calendário que eles já deveriam ter lutado para modificar há anos. É cômodo para quem também tem responsabilidade e se faz de vítima. Não adianta reclamar de desfalques apenas quando é prejudicado e assistir tranquilamente quando não for diretamente afetado. Mas não há real interesse em mudar. E aí cai na conta do treinador uma bagagem que ele não deve carregar integralmente. No momento, o Brasil joga mal e Tite tem inúmeras questões para solucionar em relação ao desempenho. E as críticas podem e devem ser feitas sem arrastar outras birras paralelas que deveriam ser debatidas e resolvidas separadamente.

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